Teixeira dos Santos diz que redução do défice aumentando impostos não foi “grande feito”

Teixeira dos Santos alerta que o aumento dos impostos foi “brutal”, critica Oli Rehn pela política de austeridade vivida na Europa e defende que Portugal precisa de um programa cautelar.

O ex-ministro das Finanças do Governo de José Sócrates, Teixeira dos Santos, considerou na noite desta segunda-feira que a “redução do défice à custa de um brutal aumento de impostos não foi um grande feito”.

O antigo governante criticou assim, durante um debate no Clube dos Pensadores em Vila Nova de Gaia, a redução daquele indicador remetendo para os graves custos sociais que daí resultaram lembrando ainda que o défice passou de 5,8 em 2012 para 5,2 em 2013, expurgando medidas compensatórias.

A redução foi feita à custa de “output perdido” e o desemprego foi um “custo muito elevado”, apontou Teixeira dos Santos, que estava no governo quando Portugal se viu obrigado a pedir um resgate financeiro após o chumbo do PEC IV.

O professor considerou ainda que os “sinais actuais não têm sido assim tão bons para se considerar que vamos ter um crescimento assim tão forte”. Neste ponto, o ex-ministro salientou que “existem riscos de deflação na Europa”, mas admitiu que as “medidas tomadas não forma inúteis”.

No momento actual, Teixeira dos Santos defende ainda a necessidade de Portugal recorrer agora a um programa cautelar para “assegurar uma rede de segurança e de credibilidade na garantia do acesso aos mercados”. O professor mostrou-se assim contra “uma saída limpa” à semelhança da Irlanda para o caso português. “Precisamos de um programa cautelar porque ainda há riscos”, apontou o ex-ministro.

O professor aproveitou ainda a sua presença no Clube dos Pensadores para salientar que teria sido importante a Europa ter optado pelos resgates financeiros “mais cedo”. “Se tivéssemos recorrido aos resgates mais cedo, teria sido possível chegar a estes indicadores actuais sem custos sociais tão graves”, disse.

Ex-ministro alerta que não há razões para a “acalmia”
O comissário europeu, Oli Rehn criticou recentemente a “reacção tardia” de Portugal – e não a Europa - no recurso ao resgate, considerando que se assim tivesse sido, o processo de ajustamento não teria sido tão doloroso. “O comissário Oli Rehn tem de aproveitar este momento para aliviar o pendor austeritário da política que tem protagonizado. Tem de cantar vitória enquanto a razão subsiste. Há uma acalmia mas não há razões para isso”, retorquiu Teixeira dos Santos.

Em jeito de resposta ao comissário europeu, Teixeira dos Santos, considerou igualmente que Oli Rehn é “sem dúvida a cara da austeridade na Europa. É o rosto ao nível da comissão pelo que tem vindo a acontecer”, acrescentou ao PÚBLICO no final do debate.

O ex-governante questionou ainda, defendendo a união bancária, porque é que há vontade de “criar um fundo de resolução de situações de crise nos bancos” e “não uma mutualização da divida ao nível dos Estados”.

“UE está mais interessada em salvar bancos do que países”
O ex-ministro de Sócrates, que fez questão de se afirmar independente, voltou mais uma vez a garantir que salvaria o BPN. “Hoje salvaria na mesma o BPN, mas a União Europeia está mais disponível para salvar bancos do que países”, apontou salvaguardando que não existe “aí uma aparente contradição” uma vez que não salvando um banco o risco torna-se “sistémico”.

“Não estou arrependido da decisão que tomei. Era a decisão que tinha de ser tomada para evitar um problema sério e sistémico”, referiu.

 
 
 

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