Sócrates fica mais uma noite detido

O interrogatório ao ex-primeiro-ministro recomeça às 9h15 de segunda-feira.

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Sócrates, no sábado, à chegada ao Campus da Justiça Hugo Correia/Reuters

Depois de ter passado a segunda noite detido, José Sócrates regressou neste domingo, às 8h35, ao Campus da Justiça, em Lisboa, para ser interrogado pelo juiz de Instrução Criminal, Carlos Alexandre. A chegada do ex-primeiro-ministro foi constatada pela Lusa no local.

Segundo uma informação dita aos jornalistas por uma funcionária judicial, José Sócrates começou a ser ouvido pelo juiz Carlos Alexandre.

Pelas 8h55, chegou ao Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) João Araújo, advogado do antigo governante. Apenas disse que mantém a intenção de fazer hoje, domingo, uma declaração "assim que tiver oportunidade".

Às 17h30, o interrogatório foi interrompido. A informação não foi confirmada pelo tribunal, mas do exterior do edifício era possível ver José Sócrates a andar de um lado para o outro num corredor do rés-do-chão.

A pausa durou menos de dez minutos. Com a agitação de jornalistas no exterior, o antigo líder do PS sentou-se. Levantou-se pouco depois, circulou uns segundos, trocou algumas palavras com o advogado e voltou a entrar para a sala onde está a ser ouvido por Carlos Alexandre.

Cerca das 19h15, entraram pelas garagens do TCIC um carro da PSP descaracterizado e motas de escolta. Há outras movimentações que, além de serem diferentes das de sábado, também não são comuns nos processos de Carlos Alexandre. Vários agentes da polícia deslocaram-se para as portas laterais que dão directamente para o Parque das Nações. Até agora tudo tem acontecido noutras garagens ou à porta do tribunal.

No entanto, alguns minutos depois vários carros acabaram por sair pela garagem que tem sido utilizada. Não foi possível perceber quem seguia dentro dos automóveis, mas é possível que levassem os três outros detidos, que saíram do Campus da Justiça antes de Sócrates. O ex-primeiro-ministro, pouco depois das 20h, voltou a ser avistado pelas brechas das janelas do rés-do-chão.

O facto de os outros três arguidos terem saído pode indicar que as medidas de coacção não serão conhecidas neste domingo, visto que os quatro devem conhecê-las ao mesmo tempo. Se assim for, Sócrates ficará detido uma terceira noite no Cometlis. Os restantes arguidos têm pernoitado nas instalações da Polícia Judiciária.

O ex-primeiro-ministro está a ser investigado no âmbito de um inquérito sobre suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, aberto na sequência de uma "comunicação bancária", como revelou a Procuradoria-Geral da República.

Sócrates já tinha estado no sábado no Campus da Justiça no sábado, onde passou cinco horas. Voltou a passar a noite, pela segunda vez, nos calabouços do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP.

Em comunicado divulgado no sábado, a Procuradoria-Geral da República confirmou a detenção de José Sócrates, bem como do empresário Carlos Santos Silva, do advogado Gonçalo Trindade Ferreira e do motorista João Perna.

José Sócrates, de 57 anos, foi primeiro-ministro de Portugal entre Março de 2005 e Junho de 2011. Foi o primeiro socialista a governar com maioria absoluta, tendo deixado o Governo após o pedido de ajuda à troika de credores internacionais em Junho de 2011. 

Depois dos mais de seis anos de governação, Sócrates mudou-se para Paris, onde estudou, afastando-se da vida política portuguesa. Em Março de 2013, regressou à ribalta, com uma entrevista à RTP, e em Abril desse ano tornou-se comentador da estação pública, com um programa semanal, ao domingo.

Nessa entrevista à RTP, Sócrates foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo em Paris. “Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive acções, offshores, nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do Governo foi pedir um empréstimo ao meu banco”, explicou então.

O nome do ex-primeiro-ministro já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do empreendimento Freeport em Alcochete e as polémicas escutas do processo Face Oculta, mas nunca a justiça tinha ido tão longe em relação a Sócrates.

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