Sócrates ataca a Justiça e critica o PS em almoço com ambiente de comício

Ex-primeiro-ministro prometeu fazer muitas intervenções pelo país no lançamento do seu próximo livro sobre teoria política

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Miguel Manso
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Com o telemóvel na mão, uma mulher dizia para a outra: “Vou fazer um directo.” A companheira de mesa respondeu: “Eu costumo gravar, já da outra vez gravei.” As duas mulheres, que deveriam rondar os 50 anos, colocavam-se em bicos dos pés para tentarem ver o ex-primeiro-ministro e arguido no processo Marquês, José Sócrates, que já segurava o microfone para falar aos seus amigos e apoiantes que se juntaram num almoço em Lisboa. Fez um ataque violento à Justiça, criticou a “direcção do PS”, prometeu que não se vai calar e pôs a sala a dar vivas ao partido. A iniciativa foi apresentada pelos organizadores como momento de convívio com amigos, mas acabou em ambiente de comício.

No mês em que foi adiado o prazo limite para a conclusão do inquérito no processo Marquês, José Sócrates compareceu a um almoço num restaurante em Lisboa – o segundo deste género em dois anos – organizado por um grupo de apoiantes. Desta vez, juntou cerca de 300 pessoas. E, como o próprio disse, foi directo ao assunto, depois de abraços, beijinhos e palmadas nas costas a alguns convidados. O assunto é o seu processo judicial, mas sem passar ao lado do partido que liderou, ainda que omitindo nomes. “Muitos quiseram afastar-me. Detemos-te, pomos-te na prisão, não dás entrevistas. O primeiro objectivo era isolar-me da sociedade portuguesa. Porventura conseguiram esse objectivo com a direcção do PS, mas não me afastaram do coração dos militantes”, afirmou.

Estas palavras foram recebidas com entusiasmo e os apoiantes gritaram "Sócrates" várias vezes. Momentos antes, já no final do discurso de mais de 23 minutos, José Sócrates lembrou que esta sexta-feira à noite foi recebido com vivas ao PS, numa conferência organizada pelas mulheres socialistas. Fez uma pausa e disse: “Eu sei bem o que isso significa.” E assim os presentes repetiram os vivas ao partido. O momento parecia retratar uma campanha eleitoral numa sala em que estavam alguns dos mais próximos do antigo-primeiro-ministro: António Campos, dirigente histórico do PS e braço direito de Mário Soares, o seu filho Paulo Campos, ex-secretário de Estado das Obras Públicas, e os deputados Renato Sampaio e Isabel Santos. Estes três últimos socialistas saíram a meio do congresso do partido, em Novembro de 2014, para visitar Sócrates à cadeia de Évora, um dia depois de ser detido por suspeita de crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito. 

Na sua intervenção, o antigo chefe do executivo começou por questionar a “legitimidade do Estado de direito em prender e ao fim de dois anos não apresentar acusação”. A resposta, disse, é “intuitiva”. “Qualquer pessoa decente dirá não”, exclamou, num discurso algo inflamado. Sócrates acusou a Justiça – referindo-se a “eles” – de “disfarçar um abuso com outro”, de forma a que até se cria a “rotina do abuso”. Mas não se mostrou conformado: “A primeira coisa que temos de fazer é isso, é denunciar o abuso, no processo estão a alterar as regras”. E criticou directamente a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, por anunciar que ia acelerar o processo quando adiou o prazo limite para a conclusão do inquérito.

O outro visado foi o juiz Carlos Alexandre, a propósito da entrevista à SIC, quando disse que não tinha dinheiro em contas de amigos. Foi uma “insinuação cobarde”, apontou, assegurando que essa imputação (que lhe é feita no processo judicial) é “falsa, absurda e injusta”. O próprio juiz fez essa declaração com o intuito de se “declarar imparcial”. “O juiz já não existe”, já que violou a “imparcialidade e a presunção de inocência”. Sócrates acredita que se preparam para “cometer o acto mais abjecto que é condenar alguém sem julgamento”.

O ex-primeiro-ministro prometeu não ficar em silêncio até porque vai lançar um livro sobre teoria política – sobre o processo na Justiça “não é o momento mas lá chegará” – e fará apresentações por todo o país. “Não é um livro de mexericos”, disse. E apelou ao apoio dos que estavam na sala: “Conto convosco.” 

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