Sócrates mostra Gaspar como "o ministro da troika"

Antigo primeiro-ministro acusa ministro das Finanças de não defender interesses de Portugal e pede que BCE seja mais interventivo na economia.

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Enric Vives-Rubio

José Sócrates voltou a usar palavras como “escavar” e “embuste”, voltou a defender o seu legado, voltou a ignorar António José Seguro, mas inovou no seu comentário na RTP, ao levar um vídeo de jornalistas irlandeses espantados por Vítor Gaspar não criticar a austeridade. O episódio serviu para o antigo líder socialista argumentar que o ministro das Finanças está ao serviço da troika.

Tudo começou depois de um ex-responsável do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ashoka Mody, ter admitido erros na receita de austeridade posta em prática na Irlanda. Segundo Sócrates, os responsáveis irlandeses aproveitaram a “boleia” desta crítica, mas Vítor Gaspar defendeu as virtudes da austeridade.

Sócrates exibiu então um vídeo da televisão irlandesa RTE, em que o jornalista conclui que Gaspar é o ministro das Finanças da troika. Uma ideia reforçada pelo antigo primeiro-ministro, dizendo que em pouco tempo os jornalistas irlandeses perceberam como Vítor Gaspar é mais “um ministro da troika” do que alguém que defende os interesses de Portugal.

O antigo líder socialista voltou a criticar a insistência na austeridade, defendendo que os “cortes de despesas vão ter efeito no desemprego e na economia”.

Sobre a carta que Pedro Passos Coelho enviou à troika de credores internacionais a comprometer-se com medidas para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional a quatro normas do Orçamento do Estado para 2013, Sócrates lamentou que António José Seguro não tenha sido informado previamente. “Veio-me à memória o PEC IV”, ironizou Sócrates, sobre o caso que levou Passos Coelho, então líder da oposição, a romper com o líder socialista alegando não ter sido informado sobre as medidas que o então primeiro-ministro estava a preparar.

Remodelação afecta coesão do Governo
José Sócrates, por outro lado, considerou que a remodelação do Governo “não resolveu nenhum problema” e afecta “a coesão do Governo”, uma vez que já neste domingo o CDS pediu uma remodelação mais completa, pela voz de António Pires de Lima.

“O CDS está a subir a parada. Já não é substituir o ministro da Economia, quer que o ministério tenha o mesmo peso das Finanças. O CDS quer uma mudança nas políticas”, analisou Sócrates, que, no entanto, também foi muito crítico das posições dos centristas.

Acusando o CDS de querer estar ao mesmo tempo dentro e fora do Governo, Sócrates falou de uma posição que “está muito próxima do oportunismo político”. E usou uma metáfora para qualificar Paulo Portas, comparando-o a um bailarino: “Só espero que não seja um bailarino que tropeça nos próprios pés.”

José Sócrates considerou ainda que a “Europa está com uma doença ideológica” e que é “o momento de dizer basta à Alemanha”. “Lamento que os países do Sul não se juntem para reivindicar o que é essencial. Temos de mudar os tratados”, disse o ex-líder socialista, para quem o Banco Central Europeu deve ter um papel mais interventivo na economia e não estar “apenas preocupado com inflação”.

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