Sócrates: “Impecável na defesa do interesse público”

Secretário de Estado de governos de José Sócrates, Medina assume que há “acusações graves” ao ex-primeiro-ministro.

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“Não tenho conhecimento de nenhum facto que considere indício criminal de nada” Enric Vives-Rubio

Membro do Secretariado do PS com 42 anos, Fernando Medina garante que "o PS tem uma significativa margem de crescimento". Sobre si, diz que, se o PS quiser, será candidato a Lisboa em 2017.

Em 2017, recandidata-se?
Não quero anunciar aqui nenhuma candidatura, não é o momento. Agora se é meu desejo, se gosto do que estou a fazer, gosto imenso do que estou a fazer, realizo-me imenso. E se o PS achar que serei a pessoa melhor colocada para isso, com toda a naturalidade serei o candidato em 2017.

Afasta um regresso ao Governo?
Sim.

Como membro do Secretariado, como vê o facto de o PS não descolar nas sondagens?
A análise correcta da situação política nacional, do ponto de vista dos estudos de opinião, resulta, em primeiro lugar, de um facto, que é este ciclo político ter sido prolongado artificialmente face ao que era o contexto político. A verdade é que teremos eleições em Outubro e teremos perdido cerca de um ano. Teríamos todos ganho se a solução tivesse sido eleições antes. Foi a opção do Presidente da República. Isso introduziu aqui uma situação delicada na vida política. É que antecipou um período de campanha sem que houvesse uma polarização dos eleitores. As sondagens têm tido esse comportamento porque verdadeiramente os eleitores não sentem que estejam confrontados com uma eleição.

Vai mudar na campanha?
Não tenha dúvida. No Verão vamos assistir a uma polarização e acho que o PS está melhor colocado nessa dinâmica. Por vários aspectos. O primeiro aspecto e que não tem sido salientado é o seguinte. Se formos ver a média das sondagens a coligação tem um resultado hoje abaixo do que teve em 2005, com maioria absoluta do PS. Em segundo lugar, o PS tem o resultado sempre acima do da coligação. O PS tem um potencial de crescimento por factores qualitativos que os próprios estudos de opinião revelam, quer pelas qualidades de liderança de António Costa, claramente superiores às do primeiro-ministro na generalidade dos itens avaliados, quer pelo facto de os eleitores considerarem as respostas do PS melhores do que as do PSD. Portanto, partimos de uma situação em que não há uma polarização para uma situação em que, creio, a coligação tem uma margem de crescimento muito reduzida e o PS tem uma significativa margem de crescimento.

O Governo ainda não apresentou programa.
Pois. Eu acho que é muito sintomático ainda não ter apresentado, é mesmo um sintoma do bloqueio em que esta maioria está colocada. O Governo não tem nada de diferenciador ou de inovador para apresentar, face àquilo que foi a receita nos últimos anos.

Provavelmente está a guardar-se para esses dois meses.
Acho, com franqueza, que não. O engenheiro Guterres dizia que ‘não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão’. A verdade é que temos este Governo há quatro anos e meio e já todos o conhecemos muito bem.

Convidou Sampaio da Nóvoa para a sua posse. Apoia-o para Presidente?
Sobre eleições presidenciais, e recordando a minha qualidade de membro do Secretariado do PS, tenho defendido que o PS deve concentrar-se nas legislativas e não se pronunciar em relação às presidenciais antes do tempo. Quero também dizer que o professor Sampaio da Nóvoa tem um currículo e um percurso que é conhecido e reconhecido, que o habilita a ser um bom candidato.

Admite outras candidaturas dentro da área do PS?
Admito. O PS é um partido muito aberto e muito diverso.

Que acha de uma candidatura de Maria de Belém Roseira?
Não quero falar sobre isso. Legislativas e depois presidenciais. E veremos quem são os candidatos que se apresentam. Nas candidaturas presidenciais há algo que não podemos desprezar, como bem vemos, que são as manifestações de vontade de quem tem esse desejo e essa intenção.

Foi secretário de Estado de José Sócrates, como vê a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro com o qual trabalhou?
Vejo com tristeza, naturalmente. Porque fico com uma vontade muito grande de que a acusação seja conhecida, de conhecer a defesa e que tudo seja esclarecido. Isso é algo que o país quer, de que tem necessidade. Acho que todos convivemos mal com estes tempos, é muito tempo para a clarificação de um processo desta natureza, envolvendo uma figura pública, um ex-primeiro-ministro do país, não é uma pessoa qualquer.

Está a dizer que tem que haver uma celeridade especial por ser um ex-primeiro-ministro?
Não, não, de forma alguma. Acho é que penaliza o país haver uma situação de dúvida sobre alguém que já desempenhou um lugar com aquela responsabilidade. É uma situação que no nosso país nunca aconteceu e é uma situação de grande gravidade. Creio que o país todo quer que o caso seja esclarecido com rapidez e eu incluo-me nesse conjunto. Está implícito que há acusações graves no desempenho de funções públicas, A acusação tem que ser conhecida e temos o direito a sermos esclarecidos, a sabermos a verdade dos factos. Enquanto isso não acontecer, não é bom para a democracia.

Essa celeridade pode conduzir a que a acusação seja feita durante o período de campanha. Isso não pode prejudicar o PS?
Não quero especular sobre isso. A Justiça está a fazer o seu papel, o seu trabalho.

Não considera que terá impacto eleitoral para o PS?
Não vejo porquê.

Sócrates foi primeiro-ministro em nome do PS.
É um processo que está a correr, volto a dizer que não conhecemos a acusação a José Sócrates e a um conjunto de pessoas.

E a prisão de Armando Vara, não poderá prejudicar o PS?
Não vejo. Repare, estamos a falar.

Estamos a falar de ex-dirigentes do PS e de governantes em nome do PS.
Mas estamos a falar de casos individuais, que a justiça está a avaliar. Vai ter de formar acusação e temos de ver o resultado dessa acusação. Estamos numa fase muito, muito, muito preliminar.

Admirar-se-á se vierem a ser presas mais figuras destacadas do passado ou do presente do PS?
Não faço a menor ideia. Não conheço o processo, não faço ideia do que está a ser investigado, não sei o que está em causa. É algo a que não lhe posso responder.

Não se questiona se poderá haver mais pessoas envolvidas?
Posso dizer-lhe com toda a franqueza uma coisa: eu não tenho conhecimento de nenhum facto nem de qualquer comportamento que considere — daquilo que eu vi — indício criminal de nada.

Mesmo quando era membro do Governo, nunca se apercebeu de nada? O senhor foi secretário de Estado dos dois governos Sócrates.
Fui secretário de Estado sempre do ministro Vieira da Silva. Estive quatro anos no Emprego, no Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, com o Emprego e a Formação Profissional, e depois no Ministério da Economia, com a Indústria e os Fundos Comunitários. Tive sempre pastas de grande responsabilidade, com grande impacto do ponto de vista financeiro. O meu testemunho em relação ao ex-primeiro-ministro José Sócrates é de uma relação absolutamente impecável na defesa do interesse público, em todas as áreas em que trabalhei com ele. Faço esse testemunho aqui e faço esse testemunho em qualquer lugar. Não posso dizer mais do que isto, mas também não digo menos do que isto. Trabalhei com ele durante seis anos. Tenho esse testemunho a dar. Foi sempre uma relação impecável, irrepreensível, na defesa do interesse público, a que eu assisti, na relação comigo e em relação às áreas que eu acompanhei.

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