Silva Peneda defende compromisso pós-eleitoral

"O PS vai ligeiramente à frente, mas como faltam ainda uns meses para as eleições, o Governo ainda pode recuperar se não falhar", diz o ainda presidente do Conselho Económico e Social.

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Silva Peneda: “As políticas públicas deverão penalizar a especulação” NFACTOS/FERNANDO VELUDO

O presidente do Conselho Económico e Social (CES), José Silva Peneda, defende a necessidade de um compromisso político em Portugal após as eleições legislativas, porque não acredita no sucesso de um Governo minoritário.

"Não acredito num Governo minoritário, teria de haver um compromisso após as eleições legislativas, no sentido de criar um Governo com alguma estabilidade", disse Silva Peneda em entrevista à agência Lusa.

Sem querer dar palpites sobre os futuros resultados eleitorais, Silva Peneda referiu que as sondagens dão alguma vantagem ao Partido Socialista, mas considerou que, tendo em conta que ainda faltam alguns meses para as eleições, o Governo ainda pode recuperar. "O PS vai ligeiramente à frente, mas como faltam ainda uns meses para as eleições, o Governo ainda pode recuperar se não falhar", disse.

O presidente do CES defendeu a necessidade de um compromisso político pós-eleitoral, não só porque não prevê uma maioria absoluta, mas sobretudo porque defende para o país "um grande plano a dez anos, com um compromisso estratégico". "Sem se pensar a médio prazo, não se constrói nada que se veja. O país precisa de uma ideia estratégica", disse.

A reforma do Estado, o equilíbrio das contas públicas e uma política de crescimento económico são, para Silva Peneda, essenciais para um plano estratégico de médio prazo para o desenvolvimento do país. "Não estamos habituados a pensar a médio prazo. Falta fazer uma reflexão sobre os objectivos para o futuro e como chegar lá. Andamos a apagar incêndios, mas a visão de fundo está ausente, porque perdemos muito tempo com coisas sem importância", afirmou.

Silva Peneda falou ainda da situação política na Europa, resultante do descontentamento dos cidadãos para com as forças políticas tradicionais, que tem levado à desilusão e à opção pelo radicalismo político, tanto à esquerda como à direita. Mas reconheceu que em Portugal não se vê essa tendência.

O presidente do CES também defendeu a necessidade de se reformar a zona euro e duvida que seja possível manter a moeda única numa zona com 18 dívidas diferentes e geridas cada uma por si. "Era preciso avançar com reformas importantes na zona euro. Acho muito difícil manter a moeda única numa zona em que há 18 dívidas públicas diferentes e são geridas cada uma a seu modo e não há uma perspectiva em conjunto na gestão dessas dívidas públicas. Também acho muito difícil manter uma moeda única sem um orçamento a nível da zona euro, o que também me parece complicado", acrescentou.

A cerca de três meses de assumir o cargo de conselheiro na Comissão Europeia, Silva Peneda considerou que "há muita coisa a discutir" em prol do sucesso da zona euro, uma vez que "ainda não existe um pensamento orgânico sobre a zona euro". O antigo ministro do Emprego do Governo de Cavaco Silva reconheceu que a política monetária já existe e que o Banco Central Europeu (BCE) funciona, mas insistiu na necessidade de "uma política orçamental na zona euro".
"A união bancária deu uns passos, mas tímidos, e não temos união fiscal. A zona euro, a moeda única, tinham de assentar numa mesa com quatro pernas e esta só tem uma perna e meia. A coisa está muito periclitante", disse.

A falta de equidade na zona euro e, consequentemente, na União Europeia, está a gerar desilusão entre os cidadãos europeus que perderam a confiança nos partidos tradicionais, abrindo a porta ao radicalismo e à ascensão de radicais, como é o caso recente da Grécia, entre outros.
"Porquê o Syriza? Porquê o Podemos? Porquê a subida da extrema-direita em França? Porquê o apoio da extrema-direita em França ao Syriza? Porquê alianças entre a extrema-direita e movimentos da extrema-esquerda há pouco tempo? Esta pergunta para mim tem uma resposta: tem a ver com o falhanço dos partidos tradicionais", acentuou.

A desilusão é, no entender de Silva Peneda, uma das principais razões desta mudança entre os europeus. "Hoje há muitos milhões de europeus que estão desiludidos com o papel dos partidos tradicionais e há muitos milhões de europeus que também estão desiludidos com a forma como a União Europeia está a caminhar. Esta história de dizer que a democracia está nos nossos corações, esta só está nos corações das pessoas se as pessoas sentirem que os seus problemas estão a caminho de ser resolvidos. Quando sentem que em vez de serem resolvidos estão a piorar, as pessoas não podem ter a democracia no seu coração e temos aqui um problema político muito sério", sublinhou. O surgimento de movimentos como o Syriza, na Grécia, ou o Podemos, em Espanha, significa que "o poder político, até agora, não tem tido capacidade para dar resposta aos anseios das pessoas", gerando "desesperança".

A situação mais gravosa é, segundo o presidente do CES, nos países do Sul da Europa, nomeadamente, Espanha, Chipre, Portugal, Itália e Grécia, onde a taxa de desemprego média simples desses países é de 17% [na zona euro é de 10%], sendo que o valor da taxa de desemprego dos jovens nestes países ultrapassa os 40%, enquanto na União Europeia é de metade.

"Temos um problema muito grave no Sul da Europa e esta região tem de ser vista de uma forma excepcional e de uma forma muito específica porque a realidade é diferente", advogou.
Silva Peneda disse ainda que não acredita no perdão da dívida grega, mas assinalou: "Tudo o que vier a ser benéfico em termos de concessões à Grécia estamos na fila e não podemos deixar de exigir as mesmas coisas".

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