Sem messianismos, PS quer debate para procurar “solução nacional” para a dívida

Vieira da Silva elogiou os movimentos de cidadãos que levantaram a discussão sobre o endividamento e a dívida.

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Pedro Cunha

Num primeiro e fugaz debate sobre a dívida portuguesa, o deputado socialista Vieira da Silva defendeu que o Parlamento deve “abrir um período de debate e de audição de todas as posições que existem sobre a dívida e fazer desse debate um momento de afirmação nacional, e uma forma de procurar uma solução nacional” para o problema.

Na discussão da petição “Da iniciativa para uma auditoria cidadã à dívida – pobreza não paga a dívida, pela renegociação já”, Vieira da Silva elogiou os movimentos de cidadãos que levantaram a discussão sobre o endividamento e a dívida, mas dedicou boa parte do seu pouco tempo a tentar explicar que “não há uma resposta simples para o problema”.

No que foi visto pela maioria como uma tentativa de justificar a ausência de posição dos socialistas sobre o assunto, o antigo ministro dos governos de José Sócrates argumentou com a “complexidade” e as “enormes fragilidades” do assunto, realçou não haver respostas “simples”, “científica” ou “messiânica” para o problema do endividamento. “Mas fingir que este problema não existe é a pior forma de lhe dar resposta”, apontou Vieira da Silva.

O deputado social-democrata Cristóvão Crespo realçou ser “importante perceber o que quer o PS porque o deputado Vieira da Silva disse zero”. E depois apontou o dedo ao PS afirmando que este Executivo herdou uma dívida fruto da “criatividade” gastadora dos socialistas que mesmo assim “não se preocupam [hoje] com o país que deixaram.

Michael Seufert, do CDS-PP, lançou mais uma acha para a fogueira. “Depois de feita a dívida, quando chega a hora de pagar, os problemas são complexos”, respondeu directamente a Vieira da Silva, afirmando que o Parlamento se divide “entre os que oneram o país em anos eleitorais com défices de 10% e os que se bateram contra esses orçamentos”. O deputado centrista avisou ainda que é preciso ter cuidado com os pedidos de renegociação da dívida, porque embora em Portugal boa parte dela seja detida por “papões” como a banca e fundos, uma outra parte está nas mãos de seguradoras e de particulares, por exemplo através de certificados de aforro.

Do PCP vieram números: o deputado Paulo Sá lembrou as seis vezes que as propostas comunistas de renegociação da dívida foram chumbadas pela “troika interna: PS, PSD e CDS”. “A dívida pública é insustentável! Nos últimos três anos cresceu mais de 51 mil milhões de euros e custará, este ano, mais de 7000 milhões de euros em juros, mais 45% do que quando se iniciou a intervenção da troika”, descreveu Paulo Sá. Que acrescentou que em resposta a uma pergunta dos eurodeputados da CDU a Comissão Europeia reconheceu que entre 2014 e 2020 Portugal irá pagar 60 mil milhões de euros em juros da dívida.

Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua criticou o ciclo vicioso dívida-austeridade-empobrecimento-mais dívida – um “ciclo sem fim de que a direita não sabe sair”, apontou, considerando que os cidadãos têm o direito de saber exactamente de onde vêm as diversas parcelas da dívida. “Hoje é o PS que quer propor um debate e o Governo não quer ouvir falar da dívida, mas o problema tem que ser resolvido.” Por isso, defendeu, “reestruturar a dívida é o único mecanismo para ter uma política económica no futuro que não compromete o bem-estar dos cidadãos.”

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