Seguro promete consultar militantes sobre um Governo de coligação

O secretário-geral do PS quis ser “claro” sobre todas as hipóteses e anunciou que dará a palavra final aos militantes do PS no caso de se ver perante a inevitabilidade de uma coligação.

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António José Seguro na apresentação da sua candidatura Nuno Ferreira Santos
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António José Seguro

Depois da abertura à sociedade civil, com a realização das primárias no PS, António José Seguro jogou a cartada interna no embate fraticida com António Costa.

O actual secretário-geral anunciou ontem na sede do partido que lidera que, na eventualidade de chegar às legislativas, vencendo-as sem maioria absoluta, fará submeter à apreciação dos militantes socialista um governo de coligação que venha a negociar.

“Na mera hipótese da necessidade de um Governo de coligação, assumo o compromisso de efectuar um referendo aos militantes do PS”, disse no jardim do palácio da Praia, ao Largo do Rato. “Uma eventual coligação não pode resultar  de arranjinhos de poder  ou de caprichos pessoais”, disse antes de assumir o segundo compromisso de respeitar “a vontade dos militantes”.

Foi essa a principal novidade no dia em que apresentou a sua moção às primárias do PS. Uma moção que era já mais do que isso, disse Seguro, ao lembrar que tinha um “programa de Governo” há três meses: o “Contrato de Confiança” dos 80 compromissos que apresentou durante a campanha às europeias.

“A minha novidade é a coerência”, rematou, já depois de algumas farpas lançadas ao outro candidato, António Costa. “Ao contrário de alguns, não concebo apresentar em Agosto, um documento diferente do apresentado há três meses. O país não mudou em três meses”, atirou logo ao autarca de Lisboa no arranque da sua intervenção.

Depois tentou ainda separar as duas propostas em causa, apresentando o seu “Contrato de Confiança” como o resultado do “contributo de milhares de portugueses, recolhidos ao longo dos últimos três anos”, e a moção de Costa como um texto diferente: “Um programa de Governo não pode resultar de uma redacção em sala fechada, feita por meia dúzia de pessoas, que a impõem ao país para justificarem um projecto de poder.”

Foi depois de estarem assim despachadas as farpas que elencou, de forma optimista, as “principais linhas de conduta política do próximo Governo”.

Por mais de uma vez garantiu a convicção de que a maioria absoluta estava “ao alcance” do PS. E foi apenas com o argumento da necessidade de ser “claro” com os portugueses que se referiu à “hipótese” de não o conseguir. “Sem maioria absoluta não liderarei um Governo minoritário”, disse.

E por isso falou na coligação e no referendo aos militantes. Com a ressalva das “linhas vermelhas” que não cruzaria numa negociação dessas. “Excluem-se os partidos” que “defendam a destruição do Estado social, a saída de Portugal da União Europeia e do euro e que advoguem a privatização de sectores-chave” que identificou no sector das “águas, na CGD ou a RTP”.

Na prática, essas linhas vermelhas excluiriam actualmente todos os actuais partidos com assento parlamentar. À esquerda do PS, quando Seguro fala na saída do Euro. À direita, quando se refere à "destruição do Estado social" e à privatização, por exemplo, das águas.  

Depois, voltou a incluir nas suas “principais linhas de conduta” a questão da ética e da responsabilidade na política, precisando um pouco mais a sua proposta de revisão do sistema eleitoral. Além da redução do número de deputados, defendeu a “possibilidade de cada cidadão escolher o seu deputado”. O chamado voto preferencial, em que as listas não se apresentam hierarquizadas, como agora, sendo antes listas abertas, em que o eleitor pode votar nos nomes que preferir dentro dessa lista.

O objectivo assumido de combate à “opacidade” no Estado levou ainda o secretário-geral do PS a prometer que um Governo por si liderado passaria a publicar “informação relativa aos estudos e pareceres encomendados a entidades externas ao Estado.

Na Europa, além da “voz firme” na defesa dos interesses do país, Seguro defendeu também um “novo Tratado que acrescente dimensão política, económica e social à política monetária.”

O que levou à questão sobre se essa proposta não significava abrir a porta ao desrespeito das condições do actual tratado. Seguro precisou que do que estava a falar não era de “um novo tratado orçamental, mas um novo tratado europeu” virado para a economia.

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