Seguro no seu labirinto
Em Julho de 2013, Seguro perdeu a única oportunidade garantida de um dia vir a ser primeiro-ministro.
Pudesse António José Seguro voltar atrás no tempo, até ao famoso Verão quente de 2013, e ele estaria hoje aos pés de Cavaco Silva, a agarrar com as duas mãos e as duas pernas a oportunidade que o Presidente da República lhe deu de ter eleições antecipadas em Junho de 2014 em troca de um compromisso de médio prazo com o PSD e o CDS.
Na altura, Seguro sentiu-se tentado, avançou com seriedade para as negociações, mas ao fim de dois dias já tinha em cima de si os pesos-pesados do PS, com Mário Soares a ameaçar com a “cisão” do partido caso houvesse acordo com a direita.
A história é conhecida: o líder do PS não aceitou qualquer acordo, a proposta de Cavaco gorou-se, a coligação saiu reforçada após o suicídio falhado de Paulo Portas, a economia arrebitou e o Financial Times até já chama a Portugal “o herói-surpresa da zona Euro”. Boas notícias para o país que são péssimas notícias para António José Seguro – ou as nuvens negras regressam rapidamente ou a sua vida começa a andar para trás, por muito que proteste contra o “Estado mínimo para um mercado máximo”. Mais: os mesmos pesos-pesados do PS que o acusavam de incompetência por pretender um acordo com o PSD que levaria à queda do governo em Junho de 2014, vão agora acusá-lo de incompetência por ter sido incapaz de fazer com que o governo caísse até Junho de 2014. Tivesse Seguro mais confiança na sua cabeça e menos receio da sombra das bochechas de Soares, e hoje seria um político bem mais feliz.
Não é só a falta de rumo e de discurso – é também a insistência em promessas que ele não pode garantir que sejam cumpridas. Recentemente, na conferência organizada pela
Economist, Seguro voltou a debitar exigências de solidariedade europeia, e repetiu a ideia da mutualização da dívida acima dos 60% do PIB. Para não assustar os mercados, o líder do PS avisou ser “contra qualquer
haircutda dívida pública portuguesa” (menos mal), mas logo de seguida veio o discurso do costume: “Eu não estou a passar responsabilidade sobre o pagamento da dívida para o nível europeu, aquilo que eu proponho é uma gestão solidária.”
A ideia até pode ser excelente (tenho dúvidas), mas pedir solidariedade não é programa – é um cruzar de dedos e uma velinha a Nossa Senhora. Como pedra angular de um programa de Governo, a mutualização não é curta, mas curtíssima. Não é prometer que faço, é prometer que vou pedir que se faça. Seguro anda há dois anos e meio a apostar em pontapés para a bancada e num conjunto de propostas minimalistas, confiante de que o poder lhe haveria um dia de cair no colo. Enganou-se redondamente. Mais depressa ele cairá do colo do poder – e o que não tem faltado são mãozinhas socialistas cheias de vontade de o empurrar. Em Julho de 2013, Seguro perdeu a única oportunidade garantida de um dia vir a ser primeiro-ministro.
Jornalista, jmtavares@outlook.com