Seguro diz que Costa já se via à janela de São Bento, a olhar para Belém, com um pé na câmara e outro no Rato

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Seguro saiu vencedor nas federativas Daniel Rocha

O candidato socialista às primárias António José Seguro afirmou que o seu adversário interno, António Costa, já se via à janela de São Bento, olhando para Belém, com um pé na Câmara de Lisboa e outro no Largo do Rato.

Num jantar comício da sua candidatura às eleições primárias do PS no pavilhão do Casal Vistoso em Lisboa, na segunda-feira à noite, Seguro fez um discurso em que levantou por diversas vezes a plateia, sobretudo quando fez uma distinção entre os lisboetas trabalhadores e a "corte do Terreiro do Paço" e quando garantiu que "desta vez é a sério pela mudança, contra os interesses instalados".

"Estão aqui mais de mil respostas ao nosso adversário, que já fala em vitória antes do tempo. Que já se via à janela de São Bento a olhar para Belém, mas com um pé na Câmara de Lisboa e outro no Largo do Rato", apontou com ironia Seguro, contrapondo que em democracia "não há vitórias antecipadas", porque "é o povo que decide quem ganha". "E nós vamos ganhar", disse.

António José Seguro criticou depois a "corte do Terreiro do Paço", mas rejeitando que alguma vez tenha criticado os trabalhadores lisboetas. "Nós criticamos a corte que se instalou no Terreiro do Paço e que vive à sombra dos orçamentos, mas nunca os trabalhadores, os funcionários públicos, os comerciantes e os empresários de Lisboa, porque esse é o povo que está ao nosso lado. A essa corte digo com clareza que nada ficará na mesma e que não serão os mesmos a pôr e dispor, como e quando lhes apetece. Desta vez é para mudar, é a sério, é para fazermos uma fronteira entre a política e os negócios", declarou, recebendo uma prolongada ovação.

João Soares elogia Seguro por ser contra o “centrão dos negócios”

Quem conhece bem Lisboa e se colocou ao lado de Seguro foi João Soares, que afirmou que o actual líder do PS tem contra si um preconceito aristocrático" e que incomoda porque é contra o "centrão dos negócios”.

Num discurso muito aplaudido, João Soares referiu que a proposta do secretário-geral do PS para reforçar as incompatibilidades dos titulares de cargos políticos e para separar política e negócios "incomoda" alguns socialistas. "Por alguma razão, tantos daqueles que infelizmente conhecemos que estão envolvidos em negócios (alguns deles bem vultuosos) encontram-se entre aqueles que se nos opõem. Há de facto, temos de reconhecer - e eles têm de reconhecer - um centrão dos negócios em Portugal. É contra esse centrão dos negócios que António José Seguro avança", declarou o filho do antigo Presidente da República Mário Soares.

João Soares considerou que António Costa "cometeu uma profunda deslealdade" ao abrir uma crise interna após duas vitórias eleitorais do PS e que violou "o pacto de Coimbra", compromisso que assinara com o secretário-geral em 2012.

E disse ainda que há no PS "um preconceito aristocrático contra António José Seguro" e os seus apoiantes, que elementos ligados a Costa colocaram em marcha uma "campanha vil" contra a mulher de Seguro [Margarida Maldonado de Freitas] e que Costa "encolheu-se quando podia ter-se candidato à liderança do PS em 2011, alegando que a sua vocação era ser presidente da Câmara de Lisboa".

Também a eurodeputada socialista Ana Gomes salientou que o secretário-geral do PS já deu provas de lutar contra os interesses instalados, dando como exemplos "o combate à promiscuidade entre política e negócios" e a lista socialista paritária que constituiu nas eleições para o Parlamento Europeu.

Já o mandatário nacional da candidatura de Seguro, o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, considerou o secretário-geral do PS "um grande líder político, que ao longo dos últimos três anos enfrentou uma coligação de direita PSD/CDS, um presidente da Comissão Europeia e uma coligação de comentadores televisivos apostados em promover o Governo e os adversários do partido".

"Seguro conseguiu o melhor resultado de sempre do PS nas eleições autárquicas e alcançou um grande triunfo em circunstâncias difíceis nas últimas europeias. Foi uma vitória dos que se mobilizaram e não daqueles que se acomodaram no colo da Dona Inércia. O golpe palaciano do camarada António Costa no dia seguinte às europeias não se faz em democracia", acrescentou.

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