Seguro desvaloriza falta de consenso, Passos aponta contradições no discurso socialista

Debate marcado pelo rescaldo do encontro entre o líder do PS e o primeiro-ministro.

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Passos não coloca fim ao sigilo

Dois dias depois de um encontro entre António José Seguro e Passos Coelho que resultou em desacordo, o frente a frente entre os dois mostrou, mais uma vez, duas perspectivas distintas sobre a estratégia do pós-troika. O líder do PS quis deixar uma imagem de tranquilidade sobre a falta de um entendimento com o Governo e alegou que nem a chanceler Merkel valorizou o consenso, nem os mercados pestanejaram com a falta dele. Passos Coelho, por seu turno, acusou António José Seguro de ser incoerente ao defender a renegociação da dívida ao mesmo tempo que mostra ser céptico sobre a Europa.

No debate parlamentar preparatório do Conselho Europeu, que decorreu após o debate quinzenal desta quarta-feira, Seguro deixou um aviso. "Não meta mais medo aos portugueses. Há pouco no debate que aqui se produziu o primeiro-ministro disse que era muito importante que houvesse um consenso no país para afastar as incertezas dos investidores", afirmou o secretário-geral do PS, depois de já ter dito que o consenso já existe e foi reconhecido internacionalmente. Seguro referia-se às palavras da chanceler alemã quando esta terça-feira em Berlim sublinhou a importância de haver um entendimento com o PS sobre o Tratado Orçamental, que define o limite de dívida para os próximos anos.  

O líder do PS acusou o Governo de pretender um “certificado” dos socialistas à política de cortes quando “está em dificuldades”. Essa falta de consenso não prejudicou Portugal, segundo o líder socialista. "O que é que aconteceu no dia seguinte nos mercados, houve algum aumento da taxa de juro? Nenhum, pelo contrário, até houve uma ligeira descida. Por uma razão muito simples, é que os investidores sabem que os compromissos que o PS assumiu são para cumprir", argumentou.

Sem se referir ao encontro, Passos Coelho assumiu que se “distancia” de Seguro e puxou para a mesa a questão da renegociação da dívida, defendida pelo líder do PS a par da mutualização da dívida, numa solução que envolva vários países europeus. “O PS diz: nós sozinhos não vamos mas a Europa não tem soluções. Se eu não fosse primeiro-ministro e não tivesse a informação que tenho, como português eu ficaria assustado com a visão de quem se propõe governar o país”, afirmou o primeiro-ministro. Foi com este tom mais duro que Passos Coelho fez a intervenção de encerramento do debate. Quando Seguro já não tinha tempo para responder, o primeiro-ministro desafio-o a dizer “se quer cumprir um Tratado Orçamental com uma dívida insustentável”.

O encontro de Passos Coelho com a chanceler Merkel em Berlim teve uma palavra de desagrado do líder do PCP. "Não gostei de ver, parecia o afilhado pobre a bater à porta da madrasta rica, não lhe fica bem”, criticou Jerónimo de Sousa.

A mesma crítica de submissão foi dada pela coordenadora do BE. "A imagem mais significativa da semana é a da ida (do primeiro-ministro) a Berlim, que se mostrou contente com a obediência às medidas orçamentais. É o próprio Governo a prestar contas a Berlim, desvalorizando o próprio Conselho Europeu. Afinal, quem manda neste Governo é Angela Merkel (chanceler alemã)", afirmou Catarina Martins, acrescentando que Portugal "está refém dos interesses" da Alemanha e que "a austeridade não paga dívidas, é preciso investimento e renegociar a dívida".

Uma imagem que o primeiro-ministro contrariou: “Não só não é nenhum acto de submissão, como é um acto de grande soberania poder realizar encontros bilaterais com outros chefes de Governo que respeitamos no âmbito da União Europeia”.

Consenso nas prescrições
Da esquerda à direita, os líderes das bancadas parlamentares – e o Governo -  mostraram-se disponíveis para cooperar no sentido de rever o regime das prescrições, a propósito do caso BCP/Jardim Gonçalves.  

“Quero aqui manifestar a disponibilidade do PS para podermos avaliar, do ponto de vista legislativo, as alterações que possam ser feitas”, disse Seguro, depois de frisar que o poder legislativo e executivo não podiam “ficar apenas pelos lamentos”.

Especificou depois a intenção de revisitar “certos mecanismos de recurso que suspendem prazos de prescrição”. A posição foi secundada pelo primeiro-ministro, naquele que foi um consenso raro em plenário.

Com N.S.L.
 

   

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