Sedes arrendadas custam um quarto da despesa anual do Bloco

Palacete do Martim Moniz, em Lisboa, é o único património imobiliário do partido, 15 anos depois.

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Miguel Manso

"Havia algum conflito. Sobretudo porque era uma herança que não estava resolvida. Eram 35 herdeiros. Não tinham uma representação comum porque não se entendiam entre eles.” Esta descrição, do ex-coordenador Francisco Louçã, podia resumir em traços largos a disputa interna que se vive este fim-de-semana na IX convenção do BE, em Lisboa.

Mas a citação do parágrafo anterior relata, na verdade, apenas parte da história da sede nacional do partido, no Martim Moniz, em Lisboa.

O PÚBLICO quis “visitar” o património de sedes de um partido com 15 anos, mas encontrou apenas rendas que obrigam a um desembolso anual de 240 mil euros. Um quarto das despesas correntes do partido. “O valor global das rendas para o ano de 2013 foi 240 mil euros, o que equivale a cerca de 24% das nossas despesas totais correntes desse ano, excluindo as eleições autárquicas desse ano”, explica o dirigente Jorge Costa.

O palacete do Martim Moniz, agraciado por duas palmeiras, é o único património imobiliário detido pelos bloquistas, 15 anos volvidos. Custou cerca de 1,6 milhões de euros e esteve em obras durante dois anos. O partido livrou-se do empréstimo bancário no final de 2012. “O Bloco fez um esforço enorme para pagar o mais depressa possível para ter menos peso de juros”, recorda Francisco Louçã.

A opção de não investir em imóveis foi deliberada. Por princípio político, mas também pela reduzida capacidade financeira do partido. “Foi uma opção deliberada da direcção do Bloco não criar um património imobiliário. O Bloco tem muitas coisas, tem um estúdio de televisão, tem um estúdio de rádio, materiais de som… Mas sempre tivemos a ideia que era preferível arrendar sedes a comprar. Desde logo porque não tínhamos dinheiro para isso”, diz Louçã.

Todas as 74 sedes espalhadas pelo país são arrendadas. Distribuídas entre as capitais de distrito e algumas sedes de concelho, muitos dos espaços são “lojas” por terem maior visibilidade e menor custo, explica Jorge Costa.

A sede nacional foi mesmo uma excepção “histórica”, fruto de uma das correntes que viria a fundar o Bloco. “Foi ocupada poucos dias depois do 11 de Março de 1975, estava vazia provavelmente há dezenas de anos”, conta Louçã, na altura membro da Liga Comunista Internacionalista (LCI), que viria depois a chamar-se PSR.

A compra da sede, depois de três décadas de arrendamento, serviria também para realizar as obras que de outra forma não teriam visto a luz do dia. Era difícil um acordo com 35 senhorios que viviam entre Vila do Conde e o Brasil.

Além da sede do Martim Moniz, “herdada” pelo BE do PSR (corrente fundadora liderada por Louçã), havia outras duas que eram do MDP (que, em conjunto com ex-comunistas, deu depois origem à Política XXI, cujo principal rosto era o de Miguel Portas). Uma era a “famosa” sede da Rua Febo Moniz, em Lisboa, e outra ainda resiste em Viana do Castelo. Foi cedida ao BE, mas nunca houve efectiva transferência de património.

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