Secretário nacional do PS critica jornalistas familiares de sociais-democratas

Dúvidas de Porfírio Silva surgem depois de o programa de Fátima Campos Ferreira ter recuperado as declarações de Paulo Rangel sobre José Sócrates. Sociais-democratas recordam que António Costa também tem um irmão jornalista.

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Fátima Campos Ferreira é um dos alvos das críticas dos socialistas Pedro Cunha (Arquivo)

Porfírio Silva, secretário nacional do Partido Socialista, questionou na segunda-feira o papel de jornalistas com relações pessoais com dirigentes sociais-democratas ou membros do Executivo na condução de programas televisivos em plena pré-campanha para as eleições legislativas.

“Quantos jornalistas com papel relevante em programas televisivos com impacte nacional (durante a presente pré-campanha) são familiares de altos dirigentes do PSD ou do actual Governo?”, perguntou o responsável socialista no Facebook.

 
Perguntas.Quant@s jornalistas com papel relevante em programas televisivos com impacte eleitoral (durante a presente pré-campanha) são familiares de altos dirigentes do PSD ou do actual governo?

Posted by Porfírio Silva on Monday, September 14, 2015

 

A pergunta de Porfírio Silva não tinha destinatário mas as declarações de vários dirigentes do PS nos últimos dias acabavam por denunciá-lo. Os socialistas têm criticado a RTP pela emissão de um Prós & Contras, programa de debate conduzido por Fátima Campos Ferreira, dedicado ao tema da independência do poder judicial. A jornalista, há quase 30 anos na estação pública, é irmã do social-democrata Luís Campos Ferreira, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros.

No Twitter, a reacção no campo da coligação não se fez esperar. “Não julgue os outros pela sua bitola”, afirmou Luís Menezes, antigo vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, recordando que Porfírio Silva é candidato a deputado por um partido “cujo secretário-geral tem um irmão que é… jornalista”. O social-democrata referia-se a Ricardo Costa, director do Expresso e irmão do secretário-geral do PS, António Costa, uma associação repetida por outras figuras e apoiantes dos partidos da coligação.

 


Sem referir qualquer caso específico, o presidente do PSD Pedro Passos Coelho criticou na segunda-feira aqueles que se “irritam” com os jornalistas. “Nós não queremos voltar à velha política, nós não queremos voltar à velha senhora e ao velho estilo. E quanto mais avança a pré-campanha eleitoral mais conseguimos descortinar os velhos tiques da velha política. Agora já se irritam outra vez com os jornalistas”, disse, citado pela Lusa, durante uma acção de campanha em Lisboa.

Fátima Campos Ferreira não é o único jornalista da RTP alvo dos socialistas. Vítor Gonçalves, que na semana passada entrevistou António Costa, tem sido referido em alguns blogues como sendo familiar de Dias Loureiro, o que é depois redifundido através das redes sociais. Essa informação é falsa, segundo explicou ao PÚBLICO o próprio jornalista, que desmente qualquer relação com aquele político. Gonçalves foi criticado por vários elementos do PS, tendo sido acusado pelo próprio secretário-geral de agir “um bocado como porta-voz de Pedro Passos Coelho”.

Socialistas pedem demissão de Paulo Dentinho
A promoção que a RTP fez ao Prós & Contras, emitido na segunda-feira, centrava-se inicialmente nas recentes declarações do eurodeputado Paulo Rangel na Universidade de Verão do PSD. “Alguém acredita que se o PS estivesse no Governo haveria um primeiro-ministro sob investigação?”, questionava o social-democrata numa referência ao caso de José Sócrates, retomando depois o tema no PÚBLICO. A pergunta era então transformada em tema do debate.

 

 

 

 
 

 

“Alguém acredita que se o partido socialista estivesse no governo haveria um primeiro-ministro sob investigação?”Paulo...

Posted by Prós e Contras - RTP on Friday, September 11, 2015

 

Mais tarde, e a poucas horas da emissão, a televisão pública anunciava que o debate teria como tema “a independência da justiça”, retirando referências anteriores à ideia da interferência dos partidos no sistema judicial.

No entanto, ao longo do dia de ontem e do fim-de-semana, repetiram-se as críticas do PS. Nas redes sociais, o deputado João Galamba pediu a demissão do director de informação da RTP, Paulo Dentinho.

 
O director de informação da RTP, Paulo Dentinho, só tem uma alternativa: demitir-se.

Posted by Joao Galamba on Sunday, September 13, 2015

 

O pedido foi secundado pela deputada Isabel Moreira, que acusou a televisão pública de ser “prostituída” e instrumentalizada num “ataque parcial” contra os socialistas.

 
É desagradável tomar o povo por estúpido. Mais ainda quando quem assim o toma tem por missão prestar serviço público de...

Posted by Isabel Moreira on Sunday, September 13, 2015

 

Também no Facebook, Augusto Santos Silva, antigo ministro de António Guterres e José Sócrates, afirmou que a RTP estaria a “ecoar ilegítima e desproporcionadamente um ponto do ataque da direita ao Partido Socialista”. A eurodeputada Edite Estrela, o embaixador Francisco Seixas da Costa e o deputado José Lello foram outras figuras do PS a criticar a escolha do tema. As dúvidas, no entanto, não foram exclusivo dos socialistas. Francisco Louçã, antigo coordenador do Bloco de Esquerda, sugeriu a apresentação de uma queixa contra a televisão pública na Comissão Nacional de Eleições.

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