Se tivesse dinheiro, Roseta não excluía candidatura a Presidente da República

A presidente da Assembleia Municipal de Lisboa lamenta que, “40 anos depois do 25 de Abril”, faltem mulheres a candidatarem-se a Belém. “É mau para o país.”

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“As mulheres são a maioria em Portugal, devia haver várias candidatas”, diz Helena Roseta Rui Gaudêncio

Aos microfones da Antena 1, entrevistada por Maria Flor Pedroso, a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, admitiu que não poria de parte uma candidatura a Presidente da República “se tivesse dinheiro” para tal.

Questionada pela jornalista sobre se tivesse dinheiro, seria candidata, Roseta respondeu: “Podia ser. Não punha isso de parte. Mas não tenho.” Entre outros requisitos, disse ter “um percurso mais ou menos extenso na política”.

Ao mesmo tempo que afirma que “gostava de fazer essa experiência”, garante não ter “nenhumas ilusões”: “A razão principal é muito simples. Para fazer uma candidatura presidencial é preciso dinheiro. As pessoas não gostam de falar disto, mas é preciso dinheiro. Por que é que os candidatos precisam do apoio dos partidos? Porque os partidos podem financiar os candidatos presidenciais, o que também é uma coisa estranha. Não deviam”, defendeu, sublinhando que “os candidatos presidenciais que não têm apoio partidário têm de arranjar o dinheiro sozinhos”.

A presidente da Assembleia Municipal explicou que neste momento não tem condições para entrar na corrida: “Fiz a candidatura a Lisboa, nessa altura não tive financiamento público, foi uma candidatura especial. Tive de pagar com a ajuda de amigos, paguei do meu bolso, andei uma data de anos a pagar um empréstimo ao banco, foi bastante dinheiro, 80 mil euros, foi uma opção na minha vida”, lembrou, frisando que não tem “condições para voltar a fazer isso”, sobretudo quando as presidenciais têm uma dimensão nacional. Além disso, não quer pedir a um partido para lhe financiar a campanha, quer “manter” a sua “independência”.

Questionada sobre a possibilidade de o PS de António Costa a apoiar, Roseta acredita que tal seria “difícil”: “Há muitos anticorpos em relação a pessoas que saíram do PS como é o meu caso, embora eu tenha dada a maioria absoluta ao PS em Lisboa”, diz.

Onde estão as mulheres?
Mas o que preocupa verdadeiramente Helena Roseta é a ausência de mulheres na corrida. “Há aqui um problema estrutural da democracia portuguesa. No leque de presidenciáveis, que aparecem nas sondagens, nos jornais, são todos homens.”

Ressalva que “apareceu uma única figura feminina sugerida no PS, Maria de Belém”, que também se falou em Manuela Ferreira Leite, mas continuam a faltar mulheres candidatas. “É impensável, é impensável, do meu ponto de vista, 40 anos depois do 25 de Abril, que não haja, não é uma, é várias candidatas à Presidência da República. Que é o que devia ser. As mulheres são a maioria em Portugal, devia haver várias candidatas.”

E acrescenta: “Já foram muitos anos, é de mais. Acho que é de mais. E aí responsabilizo todos, responsabilizo também a comunicação social, as empresas de sondagens e responsabilizo os partidos. Por que é que não há mais mulheres a dizer 'eu gostava de me candidatar'?”, questiona, avançando com algumas explicações, como “um estereótipo ainda vigente na sociedade portuguesa” que permite sobretudo ao homem e não à mulher “manifestar ambição”. Além disso, também “funciona contra as mulheres” serem “tão escassas nas lideranças dos partidos”.

“A cidade ficou a dever muita coisa a Costa”

Em relação a António Costa, Helena Roseta conta que aconselhou o líder socialista a deixar a autarquia, o que acabou por aconteceu nesta semana: “Tinha tido ocasião de falar com António Costa, recentemente, a dizer-lhe que ele tinha de fazer uma opção.” Roseta justifica: “O trabalho de Lisboa é extremamente absorvente, é muito difícil estar ao mesmo tempo a dirigir a cidade e a candidatar-se ao lugar que ele se está a candidatar, de primeiro-ministro. Ele próprio já tinha reconhecido isso no passado. O que lhe tentei dizer foi ‘António, tu já provaste em Lisboa tudo o que tinhas a provar’. Já se candidatou três vezes por Lisboa, já deu provas, fez este tempo todo à frente da cidade”, declarou.

A presidente da Assembleia Municipal considera que a cidade “ficou a dever” ao ex-autarca “muita coisa boa”. Mesmo “com um ou outro percalço”, diz que os resultados do mandato foram “positivos” e que está “na altura” de António Costa “se concentrar” no desafio que tem pela frente. Até por uma outra razão: “É muito difícil uma pessoa estar a ser julgada ao mesmo tempo por estar na oposição e no poder. Que era a situação em que o [António] Costa neste momento se encontrava. Era julgado e escrutinado todos os dias por ser presidente da câmara, no poder, e escrutinado como secretário-geral do PS para tomar o poder nas legislativas.”

Roseta confirma ainda que a lista para a Câmara Municipal de Lisboa em 2013 já foi preparada a pensar na possibilidade de Costa sair antes do fim do mandato. “Foi muito pensado este problema, sabíamos que mais cedo ou mais tarde isto ia acontecer. Mesmo que o Governo não caísse antes do prazo, havia umas legislativas pelo meio e seguramente que António Costa tinha de tomar posição. Nós, os independentes, fomos muito exigentes na preparação da lista. A escolha do número dois da candidatura, que é Fernando Medina, do Partido Socialista, foi importante. Porque senão eu teria continuado a ser número dois da Câmara Municipal de Lisboa e não seria presidente da Assembleia Municipal. A razão pela qual eu fui para presidente da Assembleia Municipal foi precisamente para garantirmos que o número dois seria alguém do PS”, conta.

Na entrevista à Antena 1, também defendeu uma revisão constitucional para que os cidadãos se possam candidatar à Assembleia da República. “Não está previsto isso [candidaturas de movimentos de cidadãos] para as eleições nacionais. Isto é um problema da Constituição [da República Portuguesa] e, mais tarde ou mais cedo, a Constituição terá de abrir-se eventualmente. Eu acho que devia abrir-se”, disse, insistindo o que “é preciso mudar a Constituição, é preciso permitir a abertura de candidaturas não partidárias”.

E não exclui a hipótese de ser candidata a deputada: “Posso perfeitamente candidatar-me em condições a ver. Posso candidatar-me como figura independente em listas de algum partido. Não excluo essa hipótese.” Hipótese que não foi ainda falada: “Não foi, mas pode acontecer, não excluo.” Questionada sobre se tal cenário só se colocaria no PS, Roseta responde “não”: “Poderia não ser. Mas estamos muito longe ainda e eu não quero estar aqui a pôr-me em bicos de pés, a dizer que quero um lugar aqui ou ali. É-me indiferente, não preciso disso para nada.”

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