“Se for necessário”, Moçambique conta com Portugal

Encontro dos dois Presidentes deixou claro que está aberta a porta da ajuda portuguesa, mas também que Marcelo não entra se não for convidado.

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Marcelo e Nyusi reencontraram-se em Maputo, depois de o Presidente moçambicano ter vindo à posse do português, em Março Miguel Manso

A prudência marcou a conferência de imprensa dos dois Presidentes. Filipe Nyusi, chefe de Estado e líder da Frelimo, o partido do poder em Moçambique, assumiu a necessidade de dialogar com a Renamo sobre a crise política e militar que abala o país. Só numa segunda fase , “se chegarmos a um momento em que há um litígio, um antagonismo em que as pessoas não se acreditam, então fica necessário dar o passo que está à altura", afirmou Nyusi.

Marcelo Rebelo de Sousa respondeu no mesmo tom cauteloso, dizendo ser preciso esperar para saber como e de que forma Portugal poderá ajudar a esse objectivo: "Não é possível antecipar que tipo de ajuda. Os amigos devem estar sempre disponíveis para ajudar os seus amigos e só as circunstâncias dirão em concreto que tipo de ajuda, em que momento será necessário exercitá-la e qual é a forma de exercitação dessa ajuda", declarou.

Para já, afirma Nyusi, é necessário retomar o diálogo com a Renamo, "falando primeiro para entender a essência do que se passa, o que se pretende e, sobretudo, como fazer", assinalando que ""sociedade civil, "amigos e vizinhos, independentemente de ser formal ou não", já estão a aconselhar os dirigentes moçambicanos.

"Os portugueses já estão disponíveis para todo o tipo de apoio quando Moçambique precisar e não é apoio para matar pessoas", declarou, mencionando que, das conversações com Marcelo Rebelo de Sousa, as delegações dos dois países concordaram que "exercer a democracia armada não é recomendável".

Observando que Marcelo Rebelo de Sousa pode circular a pé em Maputo e cumprimentar as pessoas, o Presidente moçambicano destacou que, no centro do país, os cidadãos não sabem se vão voltar às suas casas, quando saem de manhã, "devido a acções dos homens armados da Renamo".

Depois de ouvir Filipe Nyusi expressar o "desejo de voltar a viver a paz absoluta", o Presidente português registou “as palavras sobre a construção da paz duradoura”, bem como “a disponibilidade para, no quadro constitucional vigente, permanentemente manter o espírito da democracia”, entendido como “a recusa da violência, mas a abertura ao diálogo, ao pluralismo, a construção de pontes permanentes entre pessoas e entre componentes da comunidade moçambicana".

Depois, questionado sobre a possibilidade de Portugal mediar o diálogo entre Frelimo e Renamo, Marcelo respondeu que “os amigos são para as ocasiões”. “O problema é saber em que momento, como, de que forma, de um modo mais eficiente e porventura mais discreto", completou.

Noutra frente da crise que assola o país – a suspensão do financiamento internacional, primeiro pelo FMI e Banco Mundial e agora também pelo grupo de doadores internacionais, a que Portugal preside -, Marcelo foi igualmente cauteloso e optimista. Afirmou que a suspensão do G14 foi determinada apenas "para efeitos de esclarecimento de situações", e não de forma definitiva, adiantando que já foram iniciadas conversações sobre o assunto: "Posso dizer que já começámos a falar, e já se começou a trabalhar para criar condições para o futuro, e quanto mais próximo melhor, para que aquilo que agora ocorre seja rapidamente ultrapassado".

Nyusi recorreu a uma metáfora bem real em Moçambique para retratar a situação: "É como chegar a uma casa e dizer que há malária”. É preciso ver se faltou "uma rede mosquiteira, se há charcos lá fora ou se é preciso fumigar" o espaço, disse, aludindo à investigação em curso sobre as causas do ocultamento da dívida pública, que deu origem à decisão dos parceiros internacionais.

“É o que estamos a fazer agora. Depois disso vamos combater", afirmou, concluindo com optimismo: "Se estamos a desinfectar a casa, a tirar os mosquitos e vivermos uma vida normal, acredito que nenhum doador nenhum país amigo vai estar para incriminar Moçambique e sacrificar os moçambicanos".

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