Schroeder prometeu a Guterres “mundos e fundos” por causa dos submarinos

Depoimento escrito de António Guterres dá conta de carta de chanceler alemão sobre o negócio.

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Guterres tem ficado em primeiro lugar em todas as votações Reuters

Nos anos em que António Guterres liderava o seu Executivo, o processo da aquisição dos dois submarinos para a Marinha Portuguesa era ainda uma “negociação”. Talvez por isso, o que se retém do depoimento do socialista, recebido esta semana no Parlamento, a propósito da Comissão de Inquérito aos programas militares, são os indícios das pressões realizadas por governos estrangeiros aos executivos nacionais.

Nas suas respostas entregues em São Bento, o ex-primeiro-ministro confirma “ter recebido uma carta do chanceler alemão ao tempo, Gerard Schroder”, que mandou “entregar ao ministro da Defesa, Rui Pena”.

Guterres respondia a uma questão colocada pelo PSD e CDS, que pretendiam saber se tinha sido abordado “alguma vez, durante o mandato como primeiro-ministro”, por “algum alto responsável de outro país”. Pouco mais acrescentou, remetendo para o depoimento do seu ministro da Defesa.

De facto, Rui Pena foi mais explícito sobre a carta do alemão. A 17 de Julho, o antigo governante confirmara a existência da carta. “O chanceler Schroeder mandou uma carta ao primeiro-ministro, que depois me facultou, na qual oferecia mundos e fundos se Portugal adjudicasse o submarino alemão”, revelava Pena.

Garantindo “nunca” ter sentido “qualquer pressão por parte do governo norte-americano [era esse o sentido da pergunta do comunista João Ramos]”, Rui Pena admitiria “pressão”, mas europeia. “Do governo alemão”, mas não só. O relato é também elucidativo. “Com o ministro francês tive um contacto em Bruxelas, em que o senhor me chama, me pede uma reunião e na qual, em termos que considerei na altura bastante desabridos, me diz 'têm de adjudicar rapidamente os submarinos aos estaleiros franceses, como está estabelecido pela comissão de avaliação', ao que respondi diplomaticamente: 'Meu caro amigo, quem manda em Portugal somos nós e não os senhores. Neste momento estamos ainda a estudar'. Isto porquê? Porque já se sabia, obviamente, o sentido do relatório da comissão já era conhecido, tinha sido objecto de audiência prévia”.

Pressões a ter em conta, já que depois o governo português haveria de alterar o posicionamento inicial de preferência pelo equipamento francês. Nos trabalhos da comissão, o CDS tem defendido que a mudança da decisão aconteceu aquando da Best and Final Offer (BAFO), quando estava no poder António Guterres. Enquanto que o PS tem sustentado que tal só veio a acontecer já no tempo de Paulo Portas como ministro da Defesa, quando aceitou a concurso a nova versão do modelo alemão.
 

  

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