Nóvoa assume-se como “a alternativa” a Marcelo a uma semana das eleições

Depois do comício em Lisboa, onde até houve uma referência à célebre vichyssoise, o candidato foi aos Açores.

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A mistura é heterogénea. Heterodoxa, mesmo, como diria Eduardo Lourenço, o ensaísta que se senta ao lado da maratonista Rosa Mota. Está aqui a geração da resistência ao salazarismo. Edmundo Pedro, Camilo Mortágua, Isabel do Carmo. Está a geração que fez o 25 de Abril – Vasco Lourenço – e o 25 de Novembro – Ramalho Eanes. Está o grupo de quarentões que combateu as propinas de Cavaco Silva (João Afonso, Rui Tavares, Gustavo Cardoso, Isabel Tadeu, Tiago Montepegado). Estão ex-governantes do PS de Guterres, de Sócrates e de Costa. E até um do PSD de Durão Barroso e de Santana Lopes, Henrique Freitas, sentado ao lado de Maria Antónia Palla.

Junta-os a candidatura de António Sampaio da Nóvoa, o antigo reitor, a quem Marcelo Rebelo de Sousa deu um argumento de peso quando o criticou por querer “passar de soldado raso a general”. O debate entre os dois, na SIC, foi, assumidamente, um momento de viragem para a candidatura. “Soldado raso? Soldados rasos somos nós todos. Isso é que é a República, uma república de iguais!” Com esta exclamação Nóvoa arrancou, neste domingo, a maior salva de palmas do seu discurso em Lisboa, no pavilhão do Casal Vistoso. Só comparável ao momento final do comício de Lisboa, quando Teresa Salgueiro, a ex-vocalista dos Madredeus, e mandatária da candidatura, cantou o hino nacional.

Com mais de 1600 apoiantes presentes, o primeiro grande aplauso foi para a entrada de António Ramalho Eanes. Foi também ao ex-Presidente que Nóvoa agradeceu em primeiro lugar, quando subiu ao palco. Atrás, em fundo azul, o seu mais recente slogan: “Um cidadão Presidente.”

A primeira deixa do discurso estava guardada para um apoiante de primeira hora. Ruben, alguém a quem Nóvoa pagou “um café” e lhe deu em troca um “bilhetinho”, que o candidato garante guardar sempre consigo: “O senhor está a trazer-nos de novo a esperança.”

Falta precisamente uma semana para as eleições, e Nóvoa, que esteve no comício de Lisboa acompanhado pela mulher e pelo filho, quer regressar ao “fundamental”. O artigo 1º da Constituição, que estabelece uma “República soberana baseada na dignidade da pessoa humana” e uma “sociedade livre, justa e solidária”. “É por isso que eu quero ser um cidadão presidente.”

“Comigo como Presidente não haverá nenhuma diminuição significativa da nossa soberania no quadro da União Europeia sem que os portugueses se pronunciem”, prometeu Nóvoa, “como europeísta”. “O projecto europeu só encontrará o seu caminho quando vier buscar a sua legitimidade aos cidadãos.”

Mas a tónica do discurso foi a diferenciação política face a Marcelo Rebelo de Sousa, a “candidatura da ocultação vazia”, de quem diz ser “a alternativa”.

“Que os últimos anos nos sirvam de lição”, alertou, acusando Cavaco Silva de falhar “quando foi preciso defender a Constituição”. E deu um exemplo: Em 2004, quando Durão Barroso “defendia o financiamento por igual das escolas públicas e privadas”, Jorge Sampaio vetou essa lei. Nessa altura Nóvoa era consultor de Sampaio, em Belém. Estava, como sublinhou, numa das mais acutilantes tiradas do seu discurso, “a trabalhar em Belém, não a comer vichyssoise ou sopas frias”.

A primeira intervenção da tarde foi de Teresa Salgueiro. A mandatária, ex-vocalista dos Madredeus, afirmou estar a viver um “tempo extraordinário”, inspirada pelo “exemplo enquanto cidadão” de Nóvoa. “É essencial que não confundamos actividade política com actividade partidária. Este é um dos pontos fortes desta candidatura, e não um ponto fraco”, sublinhou.

De seguida, subiu ao palco Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde. Formulando o desejo de que as presidenciais abram “um tempo novo em que os mais vulneráveis se sintam representados” e as ”funções sociais não sejam vistas como um problema”, o ministro socialista passou ao ataque. “Nós não temos um candidato de plástico.” Contra “a incerteza” e o “oportunismo táctico”, acusações dirigidas a Marcelo, o ministro (o quarto a entrar na campanha de Nóvoa) terminou com um repto: “Precisamos de gente confiável e séria na política.”

A intervenção seguinte estava prevista ser a de Jorge Sampaio, mas os presentes foram informados de que “infelizmente, o ex-Presidente está impedido de sair de casa por indicação médica”. Num vídeo gravado na manhã de Domingo, pouco antes do comício, Sampaio elogiou em Nóvoa a capacidade de trazer para a política o “campo da cidadania”. “O Presidente da República deve poder desempenhar, hoje mais do que nunca, um papel de aproximação permanente dos cidadãos ao sistema político democrático.”

Sampaio alertou: “Se não trilharmos esse caminho – inverso da tendência em curso – veremos acentuar-se o alheamento e a indiferença, riscos que ameaçam a democracia e perigos que espreitam a própria liberdade.”

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