Rui Moreira admite partilha de ideais com PS e não exclui acordo

Novo presidente da Câmara do Porto considera ser cedo para falar em coligações mas admite que há ideais partilhados com o PS e que Manuel Pizarro já lhe deu os parabéns pela vitória de domingo.

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Rui Moreira, no domingo, dia em que venceu as autárquicas de 2013 Paulo Pimenta

O novo presidente da Câmara do Porto, que venceu as eleições autárquicas do passado domingo com 39,25% dos votos, não exclui a possibilidade de fazer acordos com outros partidos. “É possível criar cenários, porque houve outras forças polícias, como o PS, que se identificaram com muitos dos nossos ideais”, afirmou Rui Moreira.

O independente, que falava ao Jornal de Notícias na sua primeira entrevista após as eleições, abria desta forma a porta a um possível entendimento com o candidato do PS, Manuel Pizarro, que obteve 22,68% dos votos – ficando mesmo à frente do social-democrata Luís Filipe Menezes, que ficou em terceiro lugar com 21,06%, e que não contou com o apoio do companheiro de partido Rui Rio, que atingiu o limite de mandatos e não se pode recandidatar.

Na mesma entrevista, Rui Moreira considerou que “o Porto serve de farol para o país” e que a sua vitória demonstra que “não há desamor pela política”. Sobre as sondagens e o facto de a sua vitória ter sido considerada improvável, garantiu que isso não afectou a campanha e que apenas se centrou numa “candidatura muito inclusiva”, acrescentando que percebeu cedo que seria o vencedor.

Sobre coligações não quis ser claro sobre entendimentos com Pizarro. Ainda assim, tendo em consideração que não detém maioria absoluta, o autarca admitiu que terá de entregar alguns pelouros a outras forças. “Valorizo a governabilidade, mas ela não é um valor absoluto. Tivemos quase 40% dos votos. Somos seis em 13. Portanto, temos uma autoridade que nos foi dada pelos eleitores. Quaisquer que sejam os acordos que possam ser feitos, não abdicaremos de quatro coisas fundamentais: das contas à moda do Porto, da coesão social como aspecto fundamental, ligando isto ao crescimento económico e criação de emprego, e também à cultura e inovação enquanto factores de desenvolvimento. É possível criar cenários, porque houve outras forças políticas, como o PS, que se identificaram com muitos dos nossos ideais. Mas mais importante do que definir a condição da governabilidade é mantermo-nos fiéis aos nossos princípios”, respondeu ao Jornal de Notícias.

Questionado sobre se já foi contactado por Rui Rio, o novo autarca respondeu: “Já me telefonou, não me deu propriamente os parabéns, mas combinámos que iremos ter uma reunião proximamente para ele me dar conta de alguns dos dossiers da cidade e para acertarmos a questão da tomada de posse”. Sobre Menezes disse que não recebeu nenhum telefonema mas disse que “fez uma declaração final de grande dimensão ética e política. Portanto, não tinha nada que me ligar”. Já de Pizarro recebeu os parabéns, dizendo: “Mas Manuel Pizarro tem o meu número de telefone. Admito que Luís Filipe Menezes não tenha.”

Não negando que gostaria de ter tido um apoio explícito do presidente cessante, Moreira preferiu focar que a sua proposta “não é de continuidade, mas de evolução”, mas que também não rasgará com o passado, motivo pelo qual tem na sua lista pessoas que trabalhavam com Rui Rio.

Depois, Moreira voltou a insistir ao mesmo jornal que a sua vitória mostra sobretudo uma viragem na política. “O grande vencedor foi o Porto, ao servir, mais uma vez, de farol para o país, para dizer que é preciso mudar este estado de coisas. Interpreto muito esta vitória como sendo da cidadania. (…) Numa altura em que tanto se fala da reforma do Estado, acima de tudo temos de pensar no nosso modelo de representação. Não no sentido de destruir os partidos, mas de eles compreenderem que têm de estar mais próximos da população.”

O autarca considera que por ter sido eleito como independente terá mais liberdade: “Com todo o respeito por aquilo que são os interesses económicos, porque existem e queremos atrair investimento para o Porto e nunca vamos ter um discurso contra os interesses económicos legítimos, o que ficou claro é que esta candidatura não está tutelada por esse poder económico”.

Na mesma entrevista, Rui Moreira passou ainda por vários temas, reforçando que a cultura será um ponto forte do seu mandato e que o FC Porto voltará a ter as portas da câmara abertas para festejar títulos.

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