Apesar de serem figuras-chave em toda a polémica, o ex-director de Informação da RTP, Nuno Santos, e o seu adjunto, Vítor Gonçalves, não iriam ser ouvidos, se não tivessem insistido repetidamente que queriam participar no inquérito interno pedido pela administração da RTP para apurar o que aconteceu no caso do acesso da PSP às imagens dos confrontos junto ao Parlamento no dia 14. Era suposto o inquérito ter terminado ontem, mas fonte da administração remeteu as conclusões para a tarde de hoje.

A totalidade das imagens recolhidas pelas câmaras da RTP terá sido vista no gabinete do subdirector Luís Castro por dois elementos da PSP, acompanhados por outros elementos da Direcção de Informação, incluindo uma jornalista que esteve no local dos confrontos, no dia 14. Apesar das tentativas, não foi possível obter um comentário de Luís Castro.

Pelo que o PÚBLICO apurou, ontem à tarde, a jurista da Direcção de Assuntos Jurídicos e Institucionais da RTP enviou um conjunto de perguntas ao ex-director que este deverá responder por escrito até hoje. Uma colaboração que se ficou a dever aos pedidos para ser ouvido. Na sexta-feira passada, a jurista descartava a colaboração de Nuno Santos justificando tratar-se de um inquérito aos factos e não um inquérito disciplinar. Por correspondência, dizia que nesse dia considerava que os factos estavam já devidamente esclarecidos, que não tinha questões para lhe colocar, bastando-lhe, para perceber a posição do então director, a carta que este mandara à redacção na quarta-feira passada - pelo que não precisava de o questionar, mas se quisesse Nuno Santos poderia sempre fazer declarações. Entretanto, Nuno Santos e Vítor Gonçalves decidiram fazer-se acompanhar por advogados neste processo.

Questionada pelo PÚBLICO, fonte da administração garantiu ser falso o facto de a RTP não pretender ouvir os dois directores, dizendo que "sempre esteve previsto que fossem ouvidos".

Entretanto, as três concentrações que hoje estão marcadas para a escadaria da Assembleia da República e que para ali confluem a partir de três largos não muito longe - do Rato, de Santos e da Estrela - terão o mesmo tipo de cobertura no terreno que as anteriores, afiançaram ao PÚBLICO fontes dos três canais de televisão.

Apesar de alguma apreensão que se sente nas redacções - em especial na televisão pública - entre os jornalistas e repórteres de imagem que acompanham estas áreas, a estratégia seguida é, em parte, desdramatizar. As direcções de Informação dos três canais entendem que se deve olhar para a cobertura destes acontecimentos com a maior naturalidade e "normalidade" possível para não procurar e antecipar complicações em cenários onde elas ainda não existem. 

Nestas situações, os repórteres das televisões estão sempre mais desprotegidos que os restantes por estarem amplamente identificados pelas câmaras e microfones. Por isso mesmo são mais facilmente o alvo de comportamentos mais exaltados. Hoje vão para a rua "preferencialmente os que têm mais sangue-frio para lidar com situações que possam evoluir para uma natureza mais complicada", admitiu ao PÚBLICO fonte de uma direcção de Informação. 

Pedidos da PSP continuam
A TVI recebeu ontem um novo pedido de "colaboração" por parte da PSP. Depois de na sexta-feira passada ter pedido explicitamente o acesso a todas as imagens captadas pelas câmaras do canal e de a Direcção de Informação ter recusado, ontem pediram acesso às imagens televisivas. E propuseram-se fazer deslocar às instalações da TVI um elemento do serviço de relações públicas para visualizar, acompanhar a gravação e fazer o levantamento das imagens, perguntando, inclusive, se dois DVD são suficientes. De acordo com José Alberto Carvalho, a TVI preferiu disponibilizar-se a entregar as imagens dos noticiários no comando da PSP.