PSD e CDS receiam tentação do PS em formar Governo à esquerda

Passos Coelho admite que, se for possível, pode vir a repor o poder de compra aos portugueses a um ritmo mais rápido. Na terça-feira, há nova reunião entre os líderes da maioria e do PS.

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Rui Gaudêncio
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O PSD e o CDS-PP ficaram de pé atrás com a atitude de António Costa de se abster de colocar propostas em cima da mesa das negociações e receiam que o líder do PS tente formar um Governo à esquerda. Passos Coelho quis mostrar abertura total para um acordo com o PS – que pode até abranger a formação do Governo – mas deixou bem claro que não pode ser posta em causa a meta do défice. Os socialistas quiseram saber como será concretizado o financiamento dos 600 milhões de euros na Segurança Social. Mas ficaram sem resposta.

Já há dois dias que dirigentes do CDS-PP alertavam para a “obscenidade política” ou para a possibilidade de um “Governo do PREC” caso o PS viesse a formar um Governo com o PCP e com o BE. Esse cenário ganhou ainda mais força nas convicções da coligação depois da reunião desta sexta-feira com António Costa. É que tanto o PSD como o CDS consideram que seria natural o líder do partido menos votado a levar propostas concretas para a reunião, o que não aconteceu.

A saída para um provável impasse nas negociações foi ser a própria coligação PSD/CDS a escolher, no programa do PS, as medidas que aceita. Um “exercício atrevido” como lhe chamou por diversas vezes Passos Coelho, já que na próxima reunião, marcada para terça-feira, há o risco de Costa dizer que aquelas não são as “prioridades do PS”.

As propostas a seleccionar obedecem a um critério, à luz do que disse o líder social-democrata: têm de permitir que se cumpra a meta do défice abaixo dos 3%. Caso contrário o impacto orçamental tem de ser compensado com outra medida. Esta foi sempre a atitude da coligação PSD/CDS, ao longo dos últimos quatro anos de maioria absoluta, quando se mostrava disponível para acolher propostas da oposição nos orçamentos do Estado ou até mesmo propostas internas dos partidos ao Governo.

Se António Costa saiu a dizer que a reunião foi “inconclusiva” num tom de dramatização, nos partidos da coligação a estratégia também passa por acenar com o fantasma de se vir a formar um governo à esquerda. De qualquer forma, a margem de negociação é estreita, apesar de Passos Coelho (Paulo Portas manteve-se em silêncio) dizer que não há “linhas vermelhas” para o acordo nem mesmo a possibilidade da participação do PS na formação do Governo.

Essa solução não foi abordada, segundo o líder social-democrata, que concretizou o âmbito do entendimento: a viabilização de um programa de Governo e de um Orçamento do Estado.

Passos Coelho fez questão de vincar a questão dos compromissos assumidos perante Bruxelas, mas mostrou disponibilidade para conversar sobre a devolução dos cortes de salários, por exemplo. “Se for possível fazer a restituição de salários e de sobretaxa de IRS, não deixaremos de o fazer. Estamos disponíveis para nos aproximar do PS, desde que sejam cumpridos os objectivos orçamentais”, afirmou o líder do PSD, dizendo que caso esses limites sejam postos em causa, tem de se “compensar com outras medidas”.

Sem revelar o teor das conversas da reunião, que durou perto de três horas, António Costa apontou o dedo à coligação PSD/CDS por não apresentar uma proposta como base negocial. “Quem tem a maior representação parlamentar tem o ónus de conduzir as conversações. É normal que apresente o que tem a propor”, afirmou aos jornalistas, no final do encontro na sede do PSD.

O líder do PS quis deixar para Passos e para Portas a responsabilidade de encontrar uma solução de Governo. "Na anterior legislatura, a coligação PSD/CDS dispunha de maioria absoluta e, portanto, de uma auto-suficiência para a condução das políticas. Neste momento, não dispõe dessa maioria e, como tal, cabe-lhe - é legítimo - o ónus de tomar as diligências necessárias para que essas condições de governabilidade possam existir", insistiu.

Essa ideia voltou a ser sublinhada à tarde, após uma reunião com o Partido Ecologista Os Verdes. "Ainda bem que a PàF [coligação Portugal à Frente] percebeu que tem de propor alguma coisa e não é preciso ser muito atrevido, basta propor. E nós analisaremos [as propostas] com a mesma boa-fé com que temos estado a trabalhar e a fazer este diálogo com todos", afirmou António Costa.

A inexistência de uma maioria absoluta voltou a ser recordada: "Ninguém dispõe de maioria e todos temos com humildade de fazer um esforço de procurar encontrar soluções".

Apesar de garantir que nenhuma proposta concreta esteve em cima da mesa das negociações com a coligação, António Costa reiterou, perante os jornalistas, os quatro pontos do seu caderno de encargos enunciados na noite eleitoral de domingo e que passam pela defesa do Estado social, do combate ao empobrecimento, do virar da página da austeridade, do relançamento do investimento na ciência e na inovação, além do cumprimento dos compromissos da zona euro.

Na questão da Segurança Social, ao que o PÚBLICO apurou, os socialistas quiseram saber como é que a coligação pensa concretizar a necessidade de financiar o sistema em 600 milhões. Mas não foi avançada qualquer proposta.

Questionado sobre a abordagem na reunião deste tema de campanha, Passos Coelho afirmou que António Costa foi “explícito” na objecção à "medida de plafonamento na Segurança Social" [limite às contribuições no sistema público] contida no programa da coligação PSD/CDS. E ironizou ao dizer que “há uma proposta do PS que o PS já deixou cair”, já que Costa disse não aceitar “qualquer medida de plafonamento, fosse horizontal ou vertical”.

Na próxima terça-feira deverá acontecer outra reunião entre os dirigentes do PSD (que incluíram Marco António Costa e Jorge Moreira da Silva), do CDS (Paulo Portas, Assunção Cristas, e Mota Soares) e do PS (delegação composta por Carlos César, Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos e Mário Centeno). O encontro realiza-se um dia depois de António Costa ser recebido por Cavaco Silva e de se reunir com o Bloco de Esquerda.

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