Renamo deseja encontro entre Marcelo e Dhlakama “logo que possível”

Líder parlamentar do maior partido da oposição de Moçambique acusa Frelimo de ter comprado armas e beneficiado dirigentes com a verba que ocultou na dívida pública.

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Marcelo a mostrar jogo de cintura, na política e na típica dança Marrabenta Rui Ochôa/Presidência da República

Marcelo Rebelo de Sousa recebeu uma carta de Afonso Dhlakama das mãos da líder parlamentar da Renamo, também sobrinha do dirigente do maior partido da oposição de Moçambique. Ivone Soares não revela o seu conteúdo, mas admite que a Renamo deseja que o Presidente português se possa reunir com Dhlakama “logo que possível”.

“Nada é impossível, temos que ter esperança, embora não acredite que a curto prazo seja possível devido a questões de segurança”, afirmou Ivone Soares ao PÚBLICO, quando questionada sobre a possibilidade daquele encontro. “Mas é desejável que ele aconteça logo que estejam asseguradas as condições de segurança. Até porque ambos se conhecem há mais de 20 anos”, sublinhou.

Sobre a conversa que manteve esta quinta-feira com Marcelo, a líder parlamentar da Renamo começa por salientar o lado emocional: “Foi um encontro muito positivo, um encontro entre amigos, entre dois povos, um encontro de irmandade e muito carinho”. Fala mesmo no “amor” que o Presidente português tem pelos moçambicanos, mas depressa passa para o dever: “Portugal tem responsabilidades históricas sobre Moçambique”.

Ivone Soares levou a Marcelo um retrato negro sobre a situação no país, de dedo apontado ao partido no poder desde a independência: “O Governo da Frelimo endividou o Estado sem autorização do Parlamento, desrespeitando a Constituição, e acreditamos que uma parte dessa verba foi gasta em armamento para atacar um partido democrático e a outra para beneficiar ilicitamente dirigentes da Frelimo”.

De uma assentada, a dirigente relaciona o conflito armado nas regiões Norte e Centro, onde a Renamo é maioritária – e onde exige autonomia das províncias, através da nomeação dos governadores –, à questão das dívidas ocultas que já levaram à suspensão dos empréstimos do FMI, Banco Mundial e G14 (grupo de doadores a que Portugal preside).

Com o Presidente português, a Renamo falou de tudo: “Das valas comuns, das fraudes eleitorais, do poder judiciário que não tem independência suficiente, dos direitos humanos menosprezados”, contou ao PÚBLICO, apelando a que Portugal, como país da União Europeia, “possa ter um papel preponderante” no diálogo. “Um governo que não permite ser fiscalizado pelo Parlamento, que ataca militarmente a oposição e forja resultados eleitorais tem de reconhecer que afinal vivemos numa democracia de partido único”, acrescentou.

Muito mais lacónico foi o chefe de Estado português, embora mantenha o tom optimista, ou perto disso: “Eu não direi optimista, porque não gosto de pôr o carro à frente dos bois. O que eu digo é que tive agradáveis surpresas nos últimos dias”, disse aos jornalistas em Maputo, após o encontro com a Renamo. “Agradáveis surpresas na preocupação com a paz, na preocupação com a situação económica, financeira e social, agradáveis surpresas quanto à urgência de haver uma aproximação de pontos de vista e agradáveis surpresas quanto à vontade de haver essa aproximação. Agora, estamos neste momento nesta situação. Se souber mais alguma coisa, eu digo”, acrescentou, citado pela Lusa.

Interrogado sobre uma eventual mediação internacional, Marcelo defendeu que o fundamental nesta fase é encontrar objectivos comuns, e não discutir os meios para os alcançar. "Do que eu ouvi já da perspectiva das autoridades em funções e do grupo parlamentar da Renamo, eu acho que une a ideia de que a paz é uma prioridade para o futuro de Moçambique e que essa paz tem a ver com a situação económica e financeira e social", disse.

No terceiro dia de visita a Moçambique, o Presidente português continua a mostrar jogo de cintura. E para o provar, de manhã até dançou a Marrabenta com os miúdos na Escola Portuguesa em Maputo.

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