Recuperar a confiança sem regressos ao passado

Há interesses internos e externos que não perdoam que o Partido Socialista possa ter um líder que diz e faz o que pensa sem pedir licença, que não sendo de Lisboa acredita num País que não é só paisagem, que nunca cedeu aos calculismos ou aos caminhos fáceis da oposição porque o que sempre importou foi a defesa das melhores opções para os portugueses e para Portugal.

Há quem não tenha percebido que 2011 sublinhou um momento de degradação da confiança dos portugueses no PS, mas também na política e nos políticos. A verdade é que demasiados vivem numa obsessão pelo espelho retrovisor, pelo olhar para o passado. No caso do governo o passado é sempre justificação para os fracassos do presente e para alguns socialistas é a desculpa para a intriga e para a paralisia no presente. Este bloco central de nostalgia quer perceber que a recuperação da confiança dos cidadãos na política é um processo que não se consegue com mais do mesmo, com subserviência os interesses ou com mimetismos passados ou presentes de soluções pretensamente fáceis, sem coerência e sem sustentabilidade.

Foi com os olhos no futuro que António José Seguro concretizou no passado a reforma do Parlamento que muitos diziam impossível de fazer e que reforçou o escrutínio da actividade do governo e os direitos das oposições.

Foi com os olhos postos no futuro que Seguro assumiu a regra de ouro de não prometer aquilo que não podia cumprir, reforçou o papel da participação dos militantes na escolha dos candidatos a presidentes de câmara ou a Deputados à Assembleia da República, apresentou uma lista paritária ao Parlamento Europeu e a agora propôs um processo político de eleições primárias para a escolha do candidato do PS a primeiro-ministro.

O imobilismo dos instalados sempre foi uma das razões dos nossos atrasos. É preciso que pareça que tudo muda para continuar tudo na mesma. E não é isso que os portugueses querem quando se confrontam com o desemprego, os riscos de pobreza e de exclusão social, a falta de oportunidades, o desmantelamento do Estado Social e a desconstrução dos territórios com opções exclusivamente tomadas na base da folha de excel.

Foi o imobilismo e uma certa prática política que conduziu aos índices de abstenção, de votos brancos e nulos e à descrença que Portugal regista, em linha com a Europa, mas nunca nos resignámos com os males dos outros.

É preciso agir. Populismo, pelo menos para os autores, é ter gasto milhares de euros em estudos sobre reformas do sistema político e nada ter feito para mudar de paradigma. Os políticos podem dar um contributo valorizando a palavra dada, tendo um comportamento de proximidade com os cidadãos e com os territórios e não criando falsas ilusões sem nexo com a realidade e com a sua sustentabilidade, mas precisamos de uma reforma do sistema político.

António José Seguro já defendeu e vai propor a redução do número de deputados; a possibilidade do eleitor poder escolher o seu representante através de um voto duplo (voto no partido e num dos candidatos da lista do partido) ou dos círculos uninominais e o reforço, sem contemplações, da separação entre a política e os negócios pelo aprofundamento do regime de incompatibilidade para os titulares de cargos políticos.

Quando alguns apostam em minar o processo de recuperação da confiança dos portugueses no PS, na política e nos políticos, é tempo de redobrar os esforços para reformar o sistema político e reafirmar as propostas do Contrato de Confiança para as pessoas e para os territórios. Portugal não precisa de regressos ao passado, precisa de esperança e de futuro, com os pés bem assentes no chão.

Membro do Secretariado Nacional do PS

 

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