Quem quer gostar de José Sócrates?

Há 11 anos, Emídio Rangel convidou Pedro Santana Lopes e José Sócrates para comentadores na RTP. Um foi primeiro-ministro por uns meses, o outro por seis anos.

Há uma ligação directa entre o comentário político na televisão (nomeadamente na pública) e o exercício de cargos políticos. António José Seguro, por exemplo, é, no essencial, um comentador político de fim-de-semana que, não tendo contrato com nenhum canal, recorre aos comícios do Partido Socialista para esse efeito.

José Sócrates (como António José Seguro, aliás, reconheceu) tem todo o direito a comentar o que quiser onde quiser e a fazer ele próprio a defesa dos seus anos como primeiro-ministro.

Mas a RTP (que tem o direito a contratar quem quiser) sabe muito bem que não foi buscar um comentador político para “alavancar as audiências”. Contratou (a custo zero) um jogador que vai fazer marcação homem a homem ao seu sucessor à frente do PS.

Para alívio do Governo, que anda a precisar de oferecer ao povo novas distracções que o façam esquecer a ressaca dos vinhos de Chipre.

Entramos assim na cena do ódio. Ou dos ódios.

José Sócrates sabe que muitos portugueses continuam a odiá-lo e vão fazer subir as audiências da RTP com um cesto de tomates podres ao pé do ecrã. O Governo também sabe (e se calhar acredita que José Sócrates não sabe).

Mas Passos Coelho (um primeiro-ministro que nunca foi comentador de televisão) ainda não está há dois anos no cargo e já é muito mais assobiado do que alguma vez José Sócrates foi.

Ódio por ódio, assobiadela por assobiadela, Sócrates achou que já era tempo de ensaiar o regresso, deixando de lado a penitência da vida académica em Paris.

Entendido como é nas coisas da imagem, vai surpreender-nos com o restyling da sua imagem (a contrição no lugar da velha arrogância?). Alguma coisa há-de ter aprendido na universidade.

Ninguém odeia António José Seguro, só que ninguém lhe liga lá grande coisa. Se calhar é por ser um comentador político de segunda. Mas, às vezes, são eles os favoritos do público. E dos eleitores.

Quererão as pessoas votar outra vez em José Sócrates? Ou vão preferir continuar a odiá-lo?

É um jogo arriscado.

 
 

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