“Quando o senhor ganhar vou dizer que já o conheci”

Henrique Neto não sabe se é melhor para a sua candidatura que o PS não apoie nenhum candidato a Belém e diz que está empenhado em fazer chegar às pessoas as ideias que defende.

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Poucos são os que o conhecem, mas a falta de notoriedade pública não esmorece a determinação de Henrique Neto, candidato à Presidência da República, que este sábado escolheu a feira da Senhora da Hora, em Matosinhos, para se dar a conhecer e dizer que não é um político como os outros.

“O Cavaco também é um ladrão”, atirava a jovem adolescente, envergando um vestido vermelho benetton, afirmando com alguma vaidade: “Quando o senhor ganhar, eu vou dizer que já o conheci”.

Uma outra mulher juntou-se, entretanto, à pequena comitiva, liderada pelo empresário, que já foi deputado pelo PS, que tinha parado por momentos junto a uma tenda de lingerie, para meter conversa com o empresário. Afirmando que gosta de ver os debates parlamentares e que acompanha desde há muito tempo a vida politica, mostra-se incomodada com a atitude dos deputados no Parlamento, que, muitas vezes, fazem dos portugueses uns mentecaptos. Surpreendida com o aparato em dia de feira, uma mulher perguntava: “Oh menina! Isto é para a SIC?”

Sempre que abordava alguém com banca montada no Parque Doutor João Gomes Laranjo, onde todos os sábados decorre a feira, o candidato apresentava-se e perguntava: ”Posso cumprimentá-lo?” A resposta, normalmente, saía pronta, mas também havia quem num primeiro momento reagisse com alguma indiferença. Então para criar ambiente deixava cair a perguntava sacramental que abria a porta a dois dedos de conversa: ”E o negócio, como vai? Melhor ou pior do que no ano passado?”

A resposta era invariavelmente a mesma. “Está mais ou menos igual, mas para pior e a culpa é dos chineses”. Os feirantes  são avessos às facilidades que o Governo português concede aos empresários chineses, que, dizem, “ficam isentos de impostos durante cinco anos”.

“Os chineses estão em todo o lado e para eles são só facilidades. Os artigos chineses não têm qualidades, mas como são baratos as pessoas acabam por comprá-los”, queixava-se um comerciante, lamentando a ausência de controlo por parte das autoridades portugueses em relação à má qualidade de alguns artigos, cujos tintos – garantem – “são perigosos”.

O empresário da Marinha Grande, que criou milhares de postos de trabalho em Portugal, conforme fez questão de frisar, ouvia o que as pessoas lhe diziam e depois explicava o seu ponto de vista. Mas às vezes desafiava-as , perguntando-lhe: “O que é que acha das próximas eleições para a Assembleia da República? Quem acha que vai ganhar?” Mas ninguém arriscava, apenas um feirante respondeu: “Prognósticos só no final do jogo”, disse numa alusão a uma frase do ex-capitão do FC do Porto, João Pinto, que ficou para a história.

O nome do ex-ministro do PSD e ex-administrador do BPN, Dias Loureiro, que Pedro Passos Coelho elogiou recentemente, como um exemplo de um “empresário bem-sucedido”, haveria de tomar conta de uma das conversas do candidato com uma feirante de calçado. A mulher, vestida de negro, insurgia-se contra a prisão de José Sócrates, quando - sublinhava -“os que roubam os bancos estão cá fora”. “Ele [Sócrates] não roubou e está preso e os que roubam os bancos estão cá fora”, censurava.

O candidato não podia estar mais de acordo. “Havia um ministro [Dias Loureiro], que comprava empresas falidas nos melhores sítios por 500 mil euros e depois vendi-as ao banco por 10 milhões de euros e metia nove milhões ao bolso, mas nunca foi preso”, exemplificou Neto que, com alguma ironia, descartava a justificação dada pela feirante de que se tratava de um roubo no caso de Dias Loureiro. “Não, não é um roubo, é um acto de gestão, minha senhora, portanto, esse, não vai preso”.

Já quase no final da visita à feira da Senhora da Hora, que serviu também para recolher assinaturas para a sua candidatura, o empresário, de 79 anos, acredita que o PS possa não apoiar nenhum dos candidatos à sucessão de Cavaco Silva. “E se o PS decidir não apoiar nenhum dos candidatos da sua família política aumenta a verdade", por que "não é bonito quando o processo é viciado por acordos prévios", disse.

Dias Loureiro e José Sócrates

Questionado com as declarações do presidente do PS, Carlos César, que esta quarta-feira, em entrevista à Antena1 admitiu que os socialistas poderão não dar indicação de voto nas presidenciais, disse: "Aumenta a verdade do PS, é um facto. Para a escolha do secretário-geral houve primárias, que melhoraram muito a verdade da escolha interna e a legitimidade do António Costa é maior por isso. Para a Presidência da República, a candidatura resulta da decisão de uma pessoa. Quando esse processo é viciado por acordos prévios, não é bonito e não é eficiente do ponto de vista democrático" .

"Não sei se é melhor ou pior para mim, não faço ideia, mas é bom que se faça porque é correto fazer-se. Como é natural nestas coisas muita gente no PS não concordou com o candidato que o partido escolheu, porque a legitimidade para o fazer foi de o secretário-geral, aparentemente, ter engraçado com a cara dele", refere, numa alusão a António Sampaio da Nóvoa, também ele candidato presidencial, que, para já, conta com o apoio do Partido Livre/Tempo de Avançar. O candidato praticamente ignora este facto, frisando que está empenhado em fazer chegar às pessoas as ideias que defende.

"Para resolver o problema de ser mais conhecido, normalmente o que se faz é pôr uns cartazes com a cara do candidato, eu tenho preferência por defender ideias, acho que as ideias são mobilizadoras, desde que as pessoas as conheçam. Vamos ter que decidir rapidamente como é que vamos fazer isso", prometeu

Uma das propostas que defende e que pretende fazer chegar aos eleitores relaciona-se com "a necessidade de ter um verdadeiro pré-escolar, com transporte e alimentação para aquele terço das crianças mais excluídas, de famílias mais pobres".

"Portugal deu um grande salto na educação para os dois terços da classe média e classe alta, mas marginalizamos neste processo as crianças das classes mais baixas que vão ao pré-escolar quando vão, que não têm creches, que estão nos bairros de lata, que ficam o dia inteiro a ver televisão mesmo quando há pré-escolar e chegam ao ensino obrigatório completamente excluídas dos outros porque não tem o mesmo desenvolvimento físico e intelectual", referiu.

Defende que é "um projecto que vale a pena" e que por isso irá enviá-lo para os partidos políticos "para lhes perguntar o que querem fazer em relação a esta nossa proposta". Acrescentando: "Eu pergunto-me se é melhor ter a minha cara aí pelas cidades, num cartaz muito grande, que custa muito dinheiro, ou se é melhor fazer campanha por isto".

O empresário da Marinha Grande, o primeiro a anunciar a candidatar à Presidência da República, em Março passado, recolheu já cerca de metade das assinaturas necessárias para disputar as presidenciais de 2016.

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