“Qualquer Governo tem de estar preparado para romper com a União Monetária”

A lição que Catarina Martins, dirigente do Bloco de Esquerda, retira da situação da Grécia é que Portugal tem de ter pronto um plano para sair do euro.

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Catarina Martins

Foi logo no início da entrevista à SIC que a porta-voz do Bloco de Esquerda e “candidata a primeira-ministra” assumiu a “diferença” do seu partido em relação às outras forças políticas da esquerda. Para Catarina Martins, o que separa o BE do PCP ou PS é o facto de ser “bastante claro no seu programa”.

E a dirigente e cabeça-de-lista pelo Porto confirmou-o esta terça-feira, durante a entrevista televisiva. Assumiu a urgência de negociar uma reestruturação da dívida do país para depois, no limite, no caso de insucesso, admitir a saída de Portugal do euro.

Foi depois de questionada sobre a “lição” que retirava do processo de negociação entre os credores e o actual governo grego que Catarina Martins o reconheceu. “Qualquer governo tem de estar preparado – depois das ameaças do ministro [das Finanças alemão] Schauble de expulsar um país da zona euro – para romper com a União Monetária”, disse.

Não bastava, portanto, preparar-se para “lidar com todas as ameaças e chantagens” durante uma negociação com as entidades credoras internacionais. Para a dirigente do Bloco, Portugal tem de ter um plano B que implique a saída do euro. “A União Monetária pode ser um problema”, disse, antes de dar a entender que regras que “só servirem a Alemanha” não são do interesse da economia de Portugal.

Uma parte substantiva da entrevista centrou-se assim na questão da reestruturação da dívida. Que a candidata  reconheceu ser um dos “dois grandes eixos” do programa do BE. A reestruturação e até um “perdão da dívida”, que era “desejável” por ser necessário para “manter a viabilidade do Estado português”. Afinal, acrescentou, até nas empresas em dificuldades isso se conseguia.

Para sustentar a posição foi buscar números. “Todas as privatizações realizadas por este Governo só davam para pagar um ano de juros” da dívida, começou por dizer. Lembrou depois que Portugal gastará este ano “nove mil milhões de euros” com esses juros e que “para o ano temos de gastar nove mil milhões mais seis mil milhões”. Mais do que o Estado investia no sector da Saúde, frisou.

Catarina Martins teve já pouco tempo para falar no segundo eixo do programa do BE, focado na “redistribuição da riqueza”. Primeiro porque aproveitou para criticar algumas propostas e outros silêncios do programa do PS. A critica foi feita a propósito da proposta socialista relacionada com a TSU: “O PS quer que o cidadão peça emprestado a si próprio, quando já for pensionista.”A denúncia do silêncio foi sobre as privatizações: “Não diz o que quer privatizar”.

 Também investiu alguns minutos a atacar o actual primeiro-ministro. “Não há memória de uma campanha como esta. O nível de mentira do governo em funções é tal que já não se sabe do que se está a falar”, afirmou antes de dar dois exemplos. O primeiro foi o recurso ao argumento, usado por Passos Coelho no Chão da Lagoa, de liderar o Executivo que mais havia reduzido na dívida. Nestes quatro anos, contou, a dívida cresceu à razão do milhão e meio por dia.

O segundo exemplo focou-o no emprego. Depois de lembrar a tirada de Passos – de que não era o Estado que criava emprego – assinalou a contradição em relação à conduta do seu Governo. “Nove em cada dez dos postos de trabalho que o Governo se gaba de ter criado” resultaram do esforço da “máquina do Estado a pagar para tirar pessoas do desemprego com estágios”, disse.  

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