PSD vê em Maria Luís a sucessora de Passos

Vencida a resistência ao assunto, as hipóteses para suceder a Passos no PSD são várias. Mas só duas são olhadas como viáveis face a uma derrota eleitoral: Maria Luís e Rio. A ministra das Finanças é apontada como a preferida.

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Maria Luís é considerada uma economista de peso com uma visão conjunta e europeia da gestão do país e da política Daniel Rocha

No PSD ninguém quer ouvir falar na sucessão de Pedro Passos Coelho. Quando se questionam os dirigentes do partido, bem como vários barões, quer da sensibilidade da direcção quer de outras sensibilidades, sobre quem poderá suceder na presidência do partido ao actual líder, a resposta é quase sempre a mesma: essa questão não está no horizonte, pois o PSD acredita que pode ganhar as legislativas de 2015.

Perante a insistência da pergunta, com a salvaguarda de que apenas se estão a construir cenários sobre o futuro, os mesmos protagonistas acabam por admitir que há um nome que se tem afirmado como incontornável: Maria Luís Albuquerque.

É certo que o nome da ministra das Finanças não é o único em cima da mesa. João Pedro Aguiar-Branco, Jorge Moreira da Silva, Marco António Costa, Miguel Macedo e Rui Rio, ainda que em graus diferentes, são hipóteses que não deixam de ser ponderadas como possíveis. Mas de todos estes, o balanço é de que apenas Rui Rio parece ter algum peso para fazer frente a Maria Luís Albuquerque quando se fala de sucessão.

O consenso que gera o nome de Maria Luís Albuquerque como hipótese de ser líder do PSD no futuro é pleno, pelo menos entre os dirigentes e personalidades do PSD ouvidos pelo PÚBLICO. E é consensual que a ministra das Finanças tem um perfil de Estado e institucional que cai bem na liderança de um partido como o PSD. Além disso, é salientado o facto de Maria Luís Albuquerque estar a revelar, como ministra das Finanças, uma sensibilidade política que contrasta, por exemplo, com o perfil tecnocrático que dela se fazia ideia no início. Sensibilidade, essa, que entra em ruptura com a frieza e até a arrogância com que o seu antecessor, Vítor Gaspar, falava ao país.

Sensibilidade e competência
Ao cuidado que coloca na forma como comunica com o país acresce, segundo as personalidades do PSD ouvidas pelo PÚBLICO, a sua preparação e competência técnica. Ou seja, Maria Luís Albuquerque é considerada como uma economista de peso que tem uma visão conjunta e europeia da gestão do país e da política. Há mesmo quem frise que a ministra das Finanças tem mundividência.

Mais, há quem lembre que ela possui mesmo uma legitimidade e um prestígio internacional que são importantes para a liderança de um partido que é um dos protagonistas de governo em Portugal. E há mesmo quem refira que o PSD tem que ter em conta que já produziu um presidente da Comissão Europeia, o seu antigo líder Durão Barroso, pelo que não pode agora optar por soluções que surjam como paroquiais e limitadas ao rectângulo nacional.

Maria Luís Albuquerque surge assim com um conjunto de características que leva as personalidades do PSD ouvidas pelo PÚBLICO a considerar que ela seria uma boa sucessora de Passos Coelho e que teria até o perfil adequando para poder levar o PSD a um acordo de governação com o PS, no caso de os socialistas saírem vitoriosos das urnas nas legislativas.

Uma coisa parece adquirida entre as personalidades ouvidas pelo PÚBLICO, a possibilidade de ser líder do PSD não se coloca na agenda próxima de Maria Luís Albuquerque. E se num futuro essa possibilidade surgir, terá de ser alguém a fazer as despesas de serviço de uma candidatura interna, já que a ministra das Finanças não tem perfil para andar a contar espingardas nem a arregimentar concelhias e distritais do partido para assegurar apoios.

Rio centralizador
São precisamente a sensibilidade política e a capacidade de comunicação sem crispação, ainda que não deixando de ser assertiva, que as personalidades ouvidas pelo PÚBLICO encontram em Maria Luís Albuquerque, as características apontadas como entrando em contraste com a atitude de Rui Rio e a imagem que este construiu à frente da Câmara do Porto. Uma imagem que, dizem, é de alguém centralizador, individualista, pouco dialogante.

A maioria das personalidades do PSD contactadas pelo PÚBLICO quando questionadas sobre a viabilidade de Rui Rio ser o sucessor de Passos Coelho afirmam que no caso do ex-presidente da Câmara do Porto o que tem existido é mais a vontade de ser, que o próprio parece demonstrar de forma subliminar, do que a hipótese de surgir um movimento de fundo no partido a favor de uma sua liderança.

E muitos há que até o preferem apontar como hipótese de candidato a Presidente da República, para o retirarem da corrida pela liderança do partido. Isto porque, em alguns dirigentes do PSD manifesta-se a ideia de que o partido profundo reage mal a Rui Rio, que foi secretário-geral sob a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa. Daí que admitam que, para Rui Rio, seria fácil chegar à liderança do PSD apenas se este partido fizesse uma inovação como fez o PS e adoptasse o método das primárias, para que a simpatia que Rui Rio gera na sociedade pudesse anular a antipatia que o seu nome pode provocar no partido.

Depois ou nunca
Quanto aos outros nomes referenciados, as hipóteses parecem menos sólidas. O ex-ministro da Administração Interna e agora de novo deputado, Miguel Macedo, é olhado com algum cepticismo. Os seus companheiros de partido garantem que ele não quer o lugar. E sublinham que esta situação já assim era ainda antes do caso dos vistos gold que levou a sua demissão por considerar que tinha sido posta em causa a sua autoridade de Estado.

Já o nome de Jorge Moreira da Silva é visto com alguma simpatia entre a maioria das personalidades ouvidas pelo PÚBLICO, mas é considerado muito novo para suceder a Passos. É mais apontado como uma reserva para o futuro.

Por sua vez, o nome do ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, é referido como outra possibilidade, mas apenas no futuro. A questão é que qualquer hipótese de sucessão ao actual líder do PSD só é possível de ser equacionada se este sair. Ou seja, se o PSD perder as eleições. E entre as personalidades ouvidas pelo PÚBLICO há ideia que Aguiar-Branco, que se candidatou contra Passos para obter pouco mais de mil votos, só voltará a apresentar-se como candidato se souber que tem reais possibilidades de vitória. E nesse caso, para exercer o poder como primeiro-ministro. Não como número dois de uma coligação ou de um acordo parlamentar de governação.

Resta o nome de Marco António Costa, que é actualmente o número dois de Passos Coelho para o partido, exercendo uma função que, no passado, por exemplo, foi exercida por Miguel Relvas em relação a Durão Barroso e também a Passos Coelho. Assim, Marco António Costa anda com o líder e primeiro-ministro e faz as despesas da oposição nos encontros com militantes e com cidadãos em geral. Fala primeiro contra o PS, deixa a Passos o protagonismo de falar ao país. É também ele que faz a ligação do líder com o PSD profundo e com o país.

Há mesmo quem saliente que Marco António Costa fez de número dois de Passos como poderá vir a fazer de número dois de um futuro líder, pois tem peso no partido. E que sublinhe: diz-se que Marco António Costa poderá um dia querer ser líder, só que nunca ninguém o ouviu dizer isso, nem sequer em discurso subentendido. E frisam que ele quer estar presente e ter uma palavra na decisão sobre quem será, mas que sabe que não tem estatuto nem perfil para se candidatar à sucessão de Passos.

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