PSD: virtudes de um casamento

À coligação PSD/CDS não basta ganhar as eleições. Tem de ganhar com maioria absoluta.

O PSD esteve perante um dilema complexo. Se à partida tudo levaria a crer que a coligação PSD/CDS iria concorrer conjuntamente às próximas eleições legislativas, dado estar em causa uma avaliação do resultado da governação ao longo dos últimos quatro anos, houve quem duvidasse dessa hipótese.

E porquê? Porque, como as últimas sondagens pareciam indiciar, o PS de António Costa ainda não se afirmou convictamente, abrindo espaço ao sonho do PSD poder ganhar as eleições. Em coligação ou mesmo isoladamente. Aquilo que era uma miragem há seis meses começou a parecer uma plausibilidade, ainda que remota. Esta hipótese mudou substancialmente a equação política, tendo ganho terreno a possibilidade de o PSD concorrer isoladamente com um projeto político autónomo em relação ao CDS-PP.

E porquê? Porque existem diferenças irreconciliáveis entre os dois partidos? Claro que não. Tratava-se, sim, de perceber qual a solução política que melhor serviria os interesses do PSD e, sobretudo, a governabilidade do país. À coligação PSD/CDS não basta ganhar as eleições. Tem de ganhar com maioria absoluta. Caso contrário não consegue aprovar na Assembleia da República o programa de governo.

Mas nestas eleições vai também apreciar-se o modo como este projeto político se pretende reinterpretar no próximo ciclo legislativo, agora que o programa de ajustamento está em grande parte ultrapassado. A existência de uma coligação pré-eleitoral com o CDS-PP parte então destes dois pressupostos. Que se irá analisar o passado e projetar o futuro. Em boa verdade, até faz mais sentido que assim seja, dado que as diferenças ideológicas têm espaço para ser debatidas e ultrapassadas nas negociações pré-eleitorais.

Talvez a recente apresentação do programa macroeconómico do PS tenha sido um fator decisivo para resolver este dilema. Mesmo que o PS continue próximo do PSD nas sondagens, a possibilidade de o PSD concorrer isoladamente esbateu-se completamente. Assim fica definitivamente encerrada a hipótese de coligações à esquerda, possibilidade aliás sistematicamente rejeitada pelo primeiro-ministro. Esboroando-se também a hipótese de o PSD governar com maioria relativa efetuando acordos de incidência parlamentar para o efeito. Cenário aliás idêntico ao de António Guterres, que governou o país desta forma durante cerca de seis anos, aprovando sucessivos orçamentos e implementando inúmeras reformas, tal como o rendimento mínimo garantido.  

Ou seja, a coligação levou a sério a proposta de modelo macroeconómico dos peritos do PS. Para o bem e para o mal, os portugueses foram confrontados com uma alternativa ao atual modelo de governação. E ainda bem, porque em política deve haver a frontalidade necessária para apresentar modelos competitivos com clareza e transparência.

Professor catedrático da Universidade do Porto

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