PSD satisfeito com renovação da maioria absoluta na Madeira

Portas dá sinal de que partido tem valor sozinho. Líder do PS manteve-se em silêncio sobre a derrota na Madeira.

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Daniel Rocha

Sem exageros na extrapolação nacional dos resultados regionais da Madeira, os partidos da coligação governamental PSD/CDS-PP não deixaram de retirar dividendos políticos da votação. Os sociais-democratas lembram que o partido aplicou um programa de ajustamento na região e que mesmo assim ganha eleições. Paulo Portas aproveitou para passar a mensagem de que o partido vale nas urnas por si próprio, sem coligação, e “apesar” das sondagens que o desvalorizam.

No momento em que PSD e CDS se preparam para se empenhar na coligação para as legislativas, os resultados das eleições na Região Autónoma da Madeira não abriram caminho para repetir a coligação na ilha. O PSD/Madeira consegue renovar a maioria absoluta, embora com perda de quase 15 mil votos e de um mandato. Já o CDS falha o objectivo de tirar a maioria absoluta ao PSD, perde votos e dois deputados. Mas mantém-se como a segunda força política.

Os sociais-democratas mostram-se satisfeitos pela renovação da maioria absoluta sem Alberto João Jardim e porque a disputa eleitoral na Madeira, em que PSD e CDS são rivais, não deixou feridas abertas. Com uma excepção: as declarações da centrista Assunção Cristas, em campanha no Funchal, quando fez referência ao “abuso do endividamento” dos anteriores governos. A ministra falava do PSD mas a comparação fez lembrar o teor das críticas que são lançadas aos executivos liderados por José Sócrates, o que incomodou os sociais-democratas do continente.  

No rescaldo da noite eleitoral, o líder do CDS aproveitou para valorizar o resultado na região que, a replicar-se nas legislativas, permitiria manter o mesmo número de deputados, sem coligação. “O CDS teve hoje, à décima, o mesmo resultado que teve há quatro anos para a Assembleia da República [em 2011]. O que quer dizer que o CDS, com o resultado de hoje, elegeria bem o seu deputado pela Madeira”, afirmou Paulo Portas, numa declaração em que quis sugerir a capacidade de eleger 24 deputados, sem o parceiro de coligação. Nessa leitura nacional, Portas disse ainda que “no círculo como o da Madeira o CDS não só resistiu bem como está bastante à vontade para trabalhar mais e servir mais”.

Outro ponto forte da mensagem está relacionado com as sondagens, uma semana depois de ser noticiado pelo Expresso de que o PSD mostrou a empresários uma consulta ao mercado que dá o partido a disputar o PS taco a taco, e que remete o CDS para os 4%. Portas assinalou que o CDS/Madeira resistiu “apesar das sondagens e contra as sondagens” e que o partido foi “sistematicamente” colocado em terceiro lugar pelos estudos de mercado.

No PSD, respirou-se de alívio pelo resultado alcançado por Miguel Albuquerque, o líder do partido na Madeira que é próximo de Passos Coelho. São amigos desde que ambos lideravam as jotas no PSD, nos anos 90.

Apesar de os dirigentes sublinharem a autonomia do PSD/Madeira face à estrutura nacional, ninguém esquece que a região tem estado sob um programa de ajustamento e que esse é um paralelo que se pode fazer com o país. “Não é por aplicar um programa penalizador que significa necessariamente a derrota. Essa é a primeira lição que se extrai e que é confortável para a coligação”, afirma Guilherme Silva, deputado do PSD eleito pela Madeira. O social-democrata não deixa de apontar o dedo à oposição socialista: “É uma derrota do António Costa, que avalizou aquela proposta”.

A Coligação Mudança (que agregou PS a pequenas forças políticas) ficou em terceiro lugar com 11,6% (seis deputados). Os socialistas recusam fazer “leituras nacionais” dos resultados regionais (e até à hora da publicação desta notícia o líder do PS manteve-se em silêncio), mas outro vice-presidente do PSD, Carlos Carreiras, argumenta que “ninguém acredita que, se o resultado não fosse este, o PS não viesse capitalizar”. A “vitória” do PSD é também a de alguém que “preserva o rigor”, sustenta o presidente da Câmara Municipal de Cascais. “Cada vez mais os eleitores estão conscientes sobre os que lhe vendem ilusões e os que vendem soluções fiáveis”, acrescenta o autarca e dirigente social-democrata.

Em Janeiro deste ano, Passos Coelho foi ao congresso do PSD/Madeira que oficializou Miguel Albuquerque como líder regional para dizer que as eleições na região não poderiam ser um “começo mais auspicioso para o ciclo político nacional”. Só nas legislativas se saberá se consegue repetir as mesmas palavras.

À mesa para negociar coligação
O coordenador da comissão permanente do PSD, Marco António Costa, e o vice-presidente do CDS Pedro Mota Soares, vão trabalhar em conjunto, nas próximas semanas, para tentarem fechar o acordo de coligação pré-eleitoral.

As conversações arrancam depois de fechado o capítulo das eleições regionais da Madeira que levou os dois partidos a fazerem uma pausa pública sobre o assunto já que naquela região estavam a disputar o eleitorado.

Os dois dirigentes já trabalharam em conjunto neste Governo quando Marco António Costa assumiu a pasta de secretário de Estado da Segurança Social, no ministério tutelado por Mota Soares.

No acordo de coligação ficará definido o programa eleitoral e deverá ter um ponto sobre o candidato presidencial a apoiar que pode passar apenas por referir a obrigação de consulta mútua entre os dois partidos.

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