PSD e Marcelo. Uma relação à distância, mas era bom que fosse “mais comedida”

Paulo Rangel vê como “natural” a separação das águas entre Marcelo e o PSD. Eurodeputado critica Costa por falar apenas para “a sua cozinha doméstica”.

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Paulo Rangel falou em Bruxelas Nelson Garrido

A distância entre Marcelo Rebelo de Sousa e o PSD é “natural” e recomenda-se, mas era bom que fosse “um bocadinho mais comedida”. Esta é a visão de Paulo Rangel, eurodeputado e o homem que chegou a ser oposição a Passos Coelho. À distância de milhares de quilómetros, em Bruxelas, olha para a relação entre o PSD e o chefe de Estado como uma necessidade de Marcelo Rebelo de Sousa se distanciar do partido que é o seu. “Compreendo que o Presidente da República, como ele é do PSD e é muito querido no PSD e toda a gente sabe que ele é do PSD, tem de fazer um esforço para se distanciar, e é isso que ele faz. E é natural que o PSD faça um esforço para afirmar a sua própria visão. Acho tudo natural”.

Mas há um mas. Com as declarações de parte a parte, nos últimos dias, o social-democrata, sem nunca falar do nome do líder do partido, Pedro Passos Coelho, defende que a relação entre o Presidente e o partido não deveria regelar: “Eu seria, quer no caso do Presidente, quer no caso do PSD, um bocadinho mais comedido”, defendeu aos jornalistas em Bruxelas, à margem de um seminário do Partido Popular Europeu sobre os efeitos da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Falar de renegociação da dívida é mensagem para “parceiros”

Numa altura em que a Europa se debate com mudanças significativas, Paulo Rangel não hesita em comparar a “política de navegação à vista” que diz estar a ser levada a cabo por António Costa, daquela que produziu resultados “que não têm sido animadores” em Itália ou no Reino Unido. Rangel diz, aliás, que o primeiro-ministro tem “sacrificado” as políticas de médio e longo prazo pelo curto prazo.

Prova disso, disse, foi a referência de António Costa à questão da renegociação da dívida pública. Mas essa mensagem para o social-democrata, não pode ser vista apenas pelo lado externo da questão.

“Não concordo com o primeiro-ministro português quanto à forma como ele coloca [a questão]. Essa é a mensagem que ele quer passar para os seus parceiros de coligação. Não está a falar como um político europeu, mas a falar lá na sua cozinha doméstica que ele tem de organizar todos os dias. No fundo tem de explicar qualquer coisa depois do congresso do PCP que pôs imensa pressão sobre essa matéria”, criticou.

António Costa defendeu em entrevista à RTP que a Europa não pode continuar a ignorar o tema da dívida pública dos estados-membros, mas que esse é um assunto que nunca se colocará antes das eleições alemãs de Outubro do próximo ano. “Como político europeu sabe que as coisas não se colocam nesses termos. Nem se vão pôr nesses termos de renegociação da dívida no caso português” diz Rangel.

Para o eurodeputado, este assunto não pode ser abordado como o fez o líder do Governo. “Sabe aliás que não deve fazer isso e que faz muito mal em fazer isso é dizê-lo nesses termos numa altura em que a pressão sobre os juros portugueses não está propriamente baixa. Devia ser mais categórico a afastar isso”.

Para o eurodeputado, as eleições na Alemanha contam, bem como as eleições na Holanda e na França, para o cenário político europeu estabilizar. E não ignora que tem de haver solução para a dívida, mas essa não passa pela sua renegociação. “Nós não podemos pensar que não temos de resolver os problemas das dívidas, agora é evidente que esse problema se resolve com mais crescimento e acho que tem de haver mais investimento”, disse, acrescentando depois que também não se resolve se não “houver confiança entre os estados” e essa fomenta-se com o cumprimento das regras.

O PÚBLICO viajou a convite do PPE

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