PSD e CDS não apoiam nenhum candidato na primeira volta das presidenciais

Os socialistas também decidiram ter uma posição neutral. Maria de Belém apresenta dia 13 a sua candidatura.

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Posição do líder do PSD prejudica hipóteses de candidatura de Rui Rio Rui Farinha

O xadrez das presidenciais alterou-se depois das eleições legislativas. PSD e CDS e PS vão dar liberdade de voto aos seus militantes nas próximas eleições presidenciais na primeira volta, se houver mais do que uma candidatura. O acordo assinado esta quarta-feira entre os sociais-democratas e democratas-cristãos para formar Governo fala em diálogo para apoiar uma posição comum, e não de um “candidato comum”, como constava no pré-acordo eleitoral, assinado há seis meses.

Esta clarificação significa que PSD e CDS pretenderão ter uma posição neutral. Do lado do PS, António Costa já declarara na terça-feira à noite, na reunião da comissão política, que não apoiar nenhum candidato presidencial permitiria aos socialistas evitar “fracturas no partido”.

Aparentemente indiferente a estas questões, Maria de Belém Roseira vai disputar a sucessão de Cavaco Silva e terá a seu lado muitos dos apoiantes do ex-líder do partido, António José Seguro. A ex-presidente do PS escolheu o Centro Cultural de Belém para apresentar a sua candidatura presidencial, o que acontecerá na próxima terça-feira, quase dois meses depois de ter anunciado que era candidata à Presidência da República.

O ex-reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, estará a fazer contas à vida, porque quando entrou neste combate estava convencido de que teria o apoio do PS. O jornal i adiantava na sua edição desta quarta-feira que o ambiente na candidatura é de “depressão total” e que o candidato fora aconselhado a desistir. O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, considera que desistir será mesmo a “melhor saída”, depois do resultado das eleições de domingo e também das decisões saídas da reunião da comissão política do PS. Mesmo sem o apoio dos socialistas, Sampaio da Nóvoa vai manter-se ao que tudo indica na corrida e foi isso mesmo que disse esta quarta-feira à TSF. O ex-reitor conta apenas com o apoio oficial do Livre/Tempo de Avançar, que não conseguiu eleger nenhum deputado para a Assembleia da República.

A nuance que PSD e CDS introduziram no texto do acordo para formar Governo “vai ao encontro das pretensões de Marcelo Rebelo de Sousa”, atira um dirigente do PSD. “Se o partido dá o sinal de que não vai dar orientação de voto, significa isto que Rui Rio fica fora da corrida a Belém”, afirma, revelando que sem o apoio da máquina partidária o ex-autarca do Porto não avança. Reconhece que “tem uma abrangência eleitoral superior à de Marcelo Rebelo de Sousa e por maioria de razão à de Maria de Belém, mas sem o partido não será candidato”.

Uma outra fonte social-democrata disse ao PÚBLICO que “Passos Coelho não arrisca perder as eleições presidenciais e por isso não estará disponível para dar a Rio o sinal que deseja para entrar na corrida presidencial, porque, aparentemente, Marcelo estará melhor colocado para vencer”. “Se a direita vencer as eleições, António Costa irá para o congresso do PS com duas derrotas seguidas, o que fragilizará uma eventual recandidatura sua à liderança do partido”, sublinha, admitindo mesmo que “esta poderá ter sido uma das razões que levou Francisco Assis a não manifestar disponibilidade para avançar" para a liderança na sequência da derrota do PS nas legislativas de domingo.

O ex-presidente da Câmara do Porto, que muitas figuras do partido, como Francisco Pinto Balsemão, consideram ter o perfil adequado para desempenhar o mais alto cargo da nação, aguarda por um gesto de Passos Coelho, que irá chefiar um Governo com maioria relativa. Se esse sinal não vier, Rio não será candidato, deixando o terreno à direita todo para Marcelo. Mas o silêncio do líder do partido não deixará de ter leituras políticas. Um ex-dirigente nacional diz não ter dúvidas de que a decisão do partido de não apoiar ninguém “tem a ver com muitas pressões”. “Ao ceder, Passos Coelho engole um sapo de todo o tamanho e a moção que levou ao congresso que excluía o apoio a um candidato que ‘fosse protagonista e catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político’”.

À esquerda, Henrique Neto, candidato presidencial, aplaude a decisão do PS de ter uma posição neutral na primeira volta. “Fez bem. É evidente que, havendo mais do que um candidato da área do PS, não deveria apoiar nenhum candidato. Isso iria dividir o partido. Há apoiantes para todos os candidatos. Não seria justo escolher um. Uma razão é essa, não dividir o partido. A outra é uma razão democrática, do equilíbrio que uma democracia implica”, disse nesta quarta-feira Henrique Neto ao PÚBLICO.

Por seu lado, o social-democrata Castanheira Barros, que também está na corrida a Belém, garante numa nota enviada nesta quarta-feira à comunicação social que vai continuar “a divulgação” do seu projecto de candidatura, “através do contacto directo com a população”, e lembra que continua a aguardar “resposta ao pedido de audiência” que enviou aos partidos com assento parlamentar.

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