PSD e CDS falham acordo e concorrem sozinhos na Madeira

Apesar da pressão de Lisboa, os militantes dos dois partidos não ficaram convencidos que um acordo pré-eleitoral traria vantagens para o PSD e para o CDS.

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Miguel Albuquerque não conseguiu o acordo pretendido por Passos Miguel Manso

O PSD e o CDS avançam sozinhos na Madeira para a eleições legislativas de Outubro. A decisão, que ainda foi não formalmente anunciada, começou a ganhar força nas últimas semanas devido aos anticorpos que um acordo pré-eleitoral entre os dois partidos estava a provocar entre os militantes madeirenses. A confirmação oficial, disse ao PÚBLICO, fonte do PSD-Madeira, só será feita após ouvida a Comissão Política, no dia 16 de Julho, e a Conselho Regional (dia 18). Do lado do CDS, também há silêncio sobre a matéria.

A hipótese de uma coligação até era bem vista pelas cúpulas regionais do PSD e do CDS, e foi defendida por Miguel Albuquerque, líder do social-democratas madeirenses, que via no acordo uma forma de cimentar a proximidade com Pedro Passos Coelho, tirando dividendos políticos tanto em Lisboa como no Funchal.

No entendimento dos defensores da coligação, o PSD-Madeira teria tudo a ganhar e pouco a perder. Por um lado comprometia o CDS local com as políticas do Governo regional, e por outro arriscava-se a ter uma vitória esmagadora, tendo em conta a nova dinâmica do partido e a actual fragilidade do PS. Se o resultado não fosse o esperado, a responsabilidade seria sempre do desgaste da governação PSD/CDS.

Mas logo nas primeiras reuniões foram levantadas muitas dúvidas, mesmo de pessoas próximas da liderança social-democrata madeirense. Pedro Calado, ex-vice de Albuquerque na Câmara do Funchal e número dois nas recentes eleições regionais, foi uma das vozes a falar contra o acordo. Filipe Malheiro, um dos históricos do PSD-Madeira, também argumentou contra o acordo, num artigo de opinião.

Além do histórico de ambos os partidos, marcado por quatro décadas de dura luta política, uma das questões levantadas foi a singularidade de um partido que está no poder coligar-se com o maior partido da oposição na região, e o resultado que essa união teria para a representatividade de ambos na Assembleia da República.

O PSD tem quatro deputados em São Bento, e irá renovar completamente os nomes. Guilherme Silva, Hugo Velosa, Correia de Jesus (todos com mais de 20 anos no parlamento) e Francisco Gomes não vão integrar a lista. Albuquerque já disse que vai romper com a tradição de Alberto João Jardim, que encabeçava sempre os candidatos à Assembleia. Na prática significa apresentar uma lista que, não sendo desconhecida do eleitorado, será sempre uma novidade, com todos os riscos que acarreta.

Já o CDS-Madeira tem em Rui Barreto o único deputado. Apesar do trabalho que tem desenvolvido em Lisboa ser reconhecido na Madeira, Barreto entrou em choque com o líder regional do partido, José Manuel Rodrigues, quando afirmou publicamente que queria ser cabeça de lista. As palavras não caíram bem e Rodrigues apressou-se a dizer que o assunto não estava na ordem do dia, chamando a si qualquer decisão sobre a matéria.

Com o fim da coligação, não está posta de parte a hipótese de José Manuel Rodrigues ocupar o primeiro lugar da lista como o fez em 2011 e em 2009.

O PS-Madeira tem em Jacinto Serrão o único deputado em Lisboa e, ao que tudo indica, deverá ser o nome escolhido pelo novo líder dos socialistas madeirenses, Carlos Pereira, para continuar em Lisboa. Pereira, que venceu as eleições internas recentemente e no fim-de-semana é empossado presidente do PS-Madeira no congresso regional, vê a manutenção de um lugar no Parlamento como uma vitória. Mas, para complicar as contas, apareceu o JPP que, nas regionais de Março, saiu do anonimato para ocupar o lugar de terceira força política na Assembleia da Madeira.

Com a morte à nascença da coligação na Madeira, e apesar da pressão de Lisboa por parte de Passos Coelho e Paulo Portas, ambos muito próximos de Albuquerque e de Rodrigues, e o anúncio de que também nos Açores os dois partidos avançam com listas separadas, o acordo PSD/CDS acabou por se circunscrever ao continente.

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