PSD e CDS arrefecem clima sobre coligação pré-eleitoral

Centristas lançam campanha eleitoral com ministros na Internet mas mantêm acordo pré-eleitoral em aberto.

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Nuno Ferreira Santos

Nos últimos dias, o PSD e o CDS deram um passo atrás no caminho para a renovação da coligação, mas o processo ainda está longe de ser irreversível. Os centristas avançaram com uma pré-campanha eleitoral na Internet e asseguram que a proposta de referendo interno, a existir, é para dar conforto a uma aliança pré-eleitoral.

O líder do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, deu uma nota de afirmação do partido e de desvalorização eleitoral do CDS ao defender que o PSD pode ganhar as próximas legislativas e que o partido de Paulo Portas pode fazer a diferença para conquistar uma maioria absoluta. A declaração de Passos Coelho feita aos conselheiros nacionais na passada segunda-feira surge dois dias depois de o CDS ter assumido que arrancava com a construção do seu programa eleitoral e que podia até referendar internamente uma coligação pré-eleitoral.

Em reacção à intervenção de Passos Coelho - que suscitou dúvidas mesmo entre os sociais-democratas -, o CDS não quer fazer a interpretação de que o PSD esteja a descartar uma coligação pré-eleitoral. Prefere manter que está tudo em aberto e fazer uma interpretação benevolente do que foi dito ao assumir que se trata de um discurso de força da união dos dois partidos. Ao mesmo tempo, torna mais adocicada a proposta de referendo interno admitida por Portas como uma das três hipóteses para auscultar o partido (as outras são um conselho nacional ou um congresso extraordinário). O referendo, a fazer-se, seria para ratificar uma proposta de coligação pré-eleitoral apresentada pela direcção de Paulo Portas. O referendo é agora apresentado como um reforço da coligação e não como um travão a um acordo, já que, em geral, as bases do partido preferem concorrer com listas próprias. Mas entre os dirigentes centristas há quem não acredite que Portas opte por uma consulta interna até por falta de tempo.

Os sociais-democratas não gostaram de ver, no passado fim-de-semana, o CDS a assumir que vai arrancar com a elaboração de propostas para um programa eleitoral, independentemente de concorrer sozinho ou coligado. No mesmo conselho nacional, o CDS lançou uma estratégia de comunicação que já está nas redes sociais em que valoriza medidas dos seus ministros. Sob o slogan “Portugal é capaz”, o cartaz virtual lembra que Portugal foi um dos primeiros países a ver aprovado o novo Proder e ostenta a imagem da ministra da Agricultura Assunção Cristas. O segundo já estava online esta quarta-feira e tem outro ministro do CDS: Pedro Mota Soares. Os sociais-democratas estão a torcer o nariz a esta actividade a solo do CDS.

Alguns dos mais fortes apoiantes da direcção de Passos Coelho acreditam que o partido tem capacidade para ganhar as eleições sem uma coligação pré-eleitoral. E depois do Conselho Nacional de segunda-feira muitos sociais-democratas saíram da sala da reunião convencidos de que não haverá qualquer acordo. No jantar do grupo parlamentar do PSD, esta quarta-feira, Passos Coelho não se referiu ao assunto, sublinhando apenas a articulação tem havido a nível das bancadas ao longo desta legislatura. No momento em que os partidos já fazem contas para as listas, o líder do PSD mostrou-se disponível para ser cabeça de lista por Vila Real, numa entrevista ao semanário Voz de Trás-os-Montes.

O tempo é outro factor que joga contra uma aliança. No PSD, Miguel Relvas defendeu que o partido não devia esperar mais para fazer uma coligação. Mas o timing apontado parece ser agora a Primavera. Para alguns é tarde demais.

Nobre Guedes de volta ao CDS
Ao mesmo tempo que prepara a sua estratégia eleitoral, o CDS vê regressar ao Conselho Nacional o ex-braço direito de Paulo Portas, Luís Nobre Guedes.

O antigo ministro do CDS foi eleito nesta terça-feira para o Conselho Nacional do partido, numa eleição na Assembleia Distrital de Lisboa em que o Movimento Alternativa e Responsabilidade (MAR), corrente crítica da actual direcção, elegeu outros três membros para o mesmo órgão. A lista do MAR encabeçada por Nobre Guedes obteve 26 votos (em 88 militantes que votaram) e conseguiu eleger quatro membros (Pedro Barros Ferreira, Pedro Afonso e Frederico Pimentel). A lista da direcção, encabeçada por Diogo Moura, obteve 62 votos e elegeu nove elementos.

Telmo Correia, também presidente do Conselho Nacional, admitiu ao PÚBLICO ter ficado surpreendido com o número de eleitos pelo MAR e justifica o resultado com a votação com a “mobilização” daquela corrente interna.  Sete anos depois de ter saído em ruptura com a direcção do CDS, Nobre Guedes reconciliou-se publicamente com Portas no congresso de 2011.

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