PSD da Madeira comemora 52 anos de Passos com críticas a António Costa

No Chão da Lagoa, o líder nacional do PSD culpou mais uma vez António Costa da desconfiança europeia que pode levar a sanções pelo défice excessivo no período em que governava. Mesmo sem Jardim, a militância madeirense esteve em júbilo. Partidos

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Passos Coelho com Miguel Albuquerquer no Chão da Lagoa GREGÓRIO CUNHA

Foi um aniversário diferente, aquele que Pedro Passos Coelho viveu domingo no Chão da Lagoa. Na tradicional festa anual do PSD-Madeira, onde Passos Coelho não era bem-vindo há menos de dois anos, 15 mil apoiantes social-democratas, nas contas da organização, cantaram os parabéns ao líder nacional do partido, que celebrava de forma “bem animada” os seus 52 anos.

Houve bolo de aniversário numa das 57 barracas que circundam o recinto. Não faltaram as prendas em forma de livros sobre gastronomia madeirense. Sobraram abraços e felicitações individuais, de quem com ele se cruzava durante a ronda que Passos, acompanhado pelo presidente do PSD-Madeira, Miguel Albuquerque, fez pelos stands representativos de todas as freguesias madeirenses.

O líder nacional estava em casa, num lugar onde, durante o jardinismo não foi sucessivamente convidado. Este ano, pela primeira vez desde 1975, foi Alberto João Jardim que faltou à festa. No ano passado, já com Miguel Albuquerque na liderança, Jardim apareceu só depois dos discursos, e ainda cruzou-se com os dois adversários políticos. “Não podia deixar de faltar à festa que eu fundei e do partido que eu ajudei a fundar”, disse então. Este ano faltou e com ele, alguns notáveis do PSD-Madeira, como o ex-secretário-geral Jaime Ramos ou o antigo número dois do governo madeirense, João Cunha e Silva. Mas a festa fez-se na mesma.

Passos e Albuquerque, ou Pedro e Miguel, como se referem desde os tempos em que um liderava a JSD e o outro presidia à ‘jota’ madeirense, fizeram esquecer aquele que animou durante anos a fio o Chão da Lagoa. Primeiro na ronda pelas barracas, e depois no palco, onde as críticas ao Governo e ao Partido Socialista marcaram o tom.

As primeiras palavras foram de “orgulho” pelo percurso do partido na Madeira. Pela renovação feita em 2015, que, mesmo assim, garantiu nova maioria social-democrata. Mas depressa Passos virou o discurso para Lisboa, com Bruxelas em pano de fundo. Com um argumento: As sanções que a Comissão Europeia poderá aplicar a Portugal não são fruto da governação PSD-CDS, mas sim das dúvidas que a Europa tem do caminho que o país está agora a seguir.

“Não é por causa do que fizemos [os sacrifícios] no passado que se fala em sanções. É porque muitos governos na Europa têm dúvidas sobre aquilo que se está a passar em Portugal”, defendeu, dizendo que a União Europeia olha para o país e vê reformas importantes a serem revertidas, e a economia a andar para trás em vez de ir para a frente.

E perguntou, o que faz o Governo? “Em vez de fazer o que era preciso, ameaça que vai pôr a Comissão Europeia em tribunal”, disse, acusando o executivo de António Costa de andar sempre à procura de um bode expiatório para as consequências das opções que tomou.

Perante um mar de bandeiras laranja e sob um sol abrasador – a rede que derrama sombra no recinto voara na véspera com o vento -, Passos Coelho lembrou os “sacrifícios” e o “esforço” dos portugueses para ultrapassar as dificuldades. “Não há direito de atirar pela janela fora o sacrifício que fizemos, a confiança que conquistamos, a esperança que abríamos para o futuro, só porque o Partido Socialista está a ser colonizado pelo Bloco de Esquerda e a fazer o jeito aos comunistas”, afirmou, depois de vincar a solidariedade do partido para com dois projectos do executivo regional: a construção de um novo hospital e o restabelecimento da linha marítima de transporte de passageiros para o continente. “Nós temos que ajudar a região a resolver o problema do hospital, e temos que ajudar a região a resolver o problema do ferry para o continente”, disse, repetindo a promessa deixada naquele mesmo palco em 2015, quando era primeiro-ministro e olhava para as legislativas.

O povo, continuou, deu ao PSD a responsabilidade de governar, mas o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e o Partido Socialista entenderam que era a sua vez de governar. “E nestes meses de governo o que é que nós vemos em Portugal? Tudo ao contrário daquilo que constituiu o discurso do Partido Socialista”, acusou, sublinhando que os portugueses têm razões para estarem preocupados.

Do pessimismo, Passos passou à “esperança”. Podem contar sempre com o PSD, garante. “Defenderemos Portugal até ao fim, e mesmo estando na oposição, trataremos de reconquistar e voltar a pôr Portugal no caminho que é preciso”, prometeu.

Antes, Albuquerque, na única crítica para Lisboa, lembrou que o pedido de ajuda internacional foi feito durante um Governo socialista, dizendo que foi Passos Coelho que “salvou” Portugal da “bancarrota”. Um homem “determinado” e “teimoso, no bom sentido”, que enquanto foi primeiro-ministro ajudou a resolver alguns dossiers que estavam pendentes para a Madeira.

Agora, Miguel Albuquerque espera a mesma solidariedade do actual governo e dos partidos, que na região agem como sendo de “protesto” mas que têm responsabilidades governativas em Lisboa. As referências à esquerda, que “governa” em São Bento e desresponsabiliza-se no Funchal, sucederam-se, mas o grosso da intervenção foi virado para o futuro. Par as autarquias que o PSD-Madeira estabelece como meta. “Nós somos os melhores, e vamos apresentar os melhores candidatos”, sintetizou, pedindo ao partido união e mobilização para o próximo combate eleitoral.

Pedidos, que o ambiente no Chão da Lagoa respondeu afirmativamente. Durante o périplo pelas barracas, tanto Albuquerque como Passos foram as estrelas da festa. Muito saudados, e sempre disponíveis para selfies e palavras de circunstância, os líderes demoraram-se em cada stand.

Comeram. Beberam cerveja, poncha, licor, vinho e cidra. Sempre meio copo, sempre com contenção. Cantaram e dançaram. Passos foi trocando de chapéu com populares. Recebeu um cachecol pelo caminho, tocou ‘brinquinho’, um instrumento tradicional madeirense. Distribuiu beijinhos e abraços, e com a ‘jota’ a acompanhar com cânticos e música, lá deixou escapar. “É uma festa de aniversário bem animada.”

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