PSD adia renovação da aliança com o CDS às legislativas para o início do Verão

Com a garantia de Belém de que não haverá eleições antecipadas, futuro da coligação vai ser adiado “até ao limite”. A prioridade é a governação. A escolha do candidato presidencial faz parte da negociação entre os dois partidos.

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Passos e Portas estarão juntos na abertura das jornadas Bruno Simões Castanheira

A reedição de um novo projecto político para o país protagonizado pelos dois partidos da direita com vista às eleições legislativas de 2015 só deverá ser discutida pelas direcções do PSD e do CDS no próximo Verão. O PSD mudou a trajectória e deixou de ter pressa quanto a uma aliança com o parceiro de coligação.

No rescaldo das europeias em Maio passado - em que a coligação Aliança Portugal (PSD/CDS-PP) teve o pior resultado de sempre -, os sociais-democratas lançaram o tema já a pensar nas legislativas. Mas o CDS não se mostrou entusiasmado, embora na moção que Paulo Portas levou ao congresso seja dito que, “havendo um governo de coligação, razões muito fundamentadas podem justificar a formação de alianças”. Mais recentemente, Portas veio dizer que “não se deve ter pressa em demasia”, porque isso revela “uma coisa que não é boa, ansiedade”. Por outro lado, sublinhou que “não se deve demorar em excesso, porque na vida e na política há o momento certo”.

E para o PSD o momento para os dois partidos decidirem uma nova aliança é mais lá para a frente. Agora que o Presidente da República já afirmou que as legislativas não serão antecipadas, “as orientações que existem no PSD são claras: para já, o Governo está concentrado no Orçamento do Estado e depois do OE arrumado as atenções vão centrar-se na discussão dos fundos comunitários durante o primeiro trimestre do próximo ano”, declarou ao PÚBLICO fonte social-democrata. “O Governo vai estar concentrado na governação até ao limite máximo e esse limite máximo é Julho, altura em que arranca a pré-campanha das legislativas”, acrescentou a mesma fonte. Mas se o Governo se vai empenhar na governação, já o partido vai concentrar-se no seu trabalho, a pensar no próximo combate eleitoral.

No mesmo registo, Amorim Pereira, ex-secretário de Estado do Orçamento, defende que “ainda é cedo para se cristalizar a ideia de coligações". No entanto, salvaguarda que “os partidos devem começar a conversar e encontrar mecanismos de coligações e, eventualmente, pós-eleitorais. Por que não?”

Favorável a um governo do bloco central, o primeiro vereador do PSD na Câmara do Porto discorda que se “comece já a fazer um escudo de protecção contra António Costa”, porque - sublinha - “vai ser necessário chamar o PS para ser uma parte da solução” do próximo Governo.

O PÚBLICO ouviu politólogos sobre uma reedição da aliança PSD/CDS e, de um modo geral, todos prevêem um novo entendimento entre os dois partidos. Dada a proximidade das legislativas e das presidenciais, consideram que o candidato a Belém também deve constar da negociação.

André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, acredita que “faz algum sentido que os dois partidos que governaram em coligação se apresentem ao eleitorado coligados”, mas – sublinha – que “a decisão vai essencialmente depender de considerações partidárias internas no PSD e no CDS”.

Segundo Azevedo Alves, “a fragmentação da esquerda pode beneficiar uma coligação PSD/CDS". "Aliás, um dos principais desafios que se coloca a António Costa será o de minimizar o impacto junto do eleitoral potencial do PS, dos partidos de Marinho e Pinto e de Rui Tavares, sem esquecer o Bloco de Esquerda, apesar da sua profunda crise interna”, diz.

Ao PÚBLICO, o professor do Instituto de Estudos Políticos da Católica refere que, “matematicamente e considerando o sistema eleitoral, há um benefício claro associado a uma coligação, mas ao mesmo tempo poderá haver segmentos do eleitorado tradicional de cada partido que se sinta menos motivado para votar se o PSD e o CDS não se apresentarem autonomamente”.

“Partidos coligados são mais beneficiados”
O politólogo e professor do ISCTE – Instituto Universitário e Lisboa (IUL) André Freire também se inclina para os dois partidos voltarem a disputar as eleições juntos. “É um indicador de coesão, de afirmação de capacidade de apresentação de soluções governativas e de entendimentos entre os partidos da direita e de cerrar fileiras em torno do que fizeram e prometer continuidade com nuances”, reforça.

Afirmando que a probabilidade da actual coligação obter uma maioria nas legislativas ”é remota e que uma vitória eleitoral é improvável, embora não seja impossível”, André Freire toca numa questão essencial: o facto de “os partidos que se apresentam coligados são mais beneficiados, porque quanto maior for a força política, pelas regras do sistema eleitoral mais lugares terão no Parlamento”. Por outro lado, acrescenta que apresentando-se juntos a eleições, “o CDS deixará de ter condições de dizer que não queria aumentar tanto os impostos, e que não queria fazer aquilo… aquele jogo normal numa coligação”.

No entanto, uma nova aliança também comporta desvantagens. Nas palavras do professor e director da licenciatura em Ciência Política do ISCTE- IUL um desses "handicaps tem a ver com o facto de haver uma lista conjunta, que terá que defender a governação anterior na sua globalidade”. E acrescenta: “A ideia de coligação pré-eleitoral com listas conjuntas subentende de algum modo uma campanha conjunta”.

Declarando que “esta será a coligação mais estável de que já tivemos até hoje”, o investigador aborda a questão do timing político para os dois partidos discutirem o tema e declara que “o mais desejável é que a decisão seja tomada o mais rápido possível para ganhar élan e para começar a preparar as coisas com tempo, no primeiro trimestre do próximo ano, no limite no primeiro semestre, se as eleições forem para Outubro como pretende o Presidente da República”.

Para Carlos Jalali, professor da Universidade de Aveiro (UA), “a questão de uma aliança pré-eleitoral para as legislativas não é uma decisão fácil para os dois partidos - e isso também explica as incertezas e indecisões em torno desta questão.”  “Creio que os dois partidos procurarão chegar a um entendimento e evitar uma crise política”.

À pergunta se PSD e CDS juntos somam mais votos do que concorrendo separados, Jalali responde que “essa é a questão de um milhão de dólares para os dois partidos”. “As lideranças partidárias avaliam sempre se os dois partidos juntos valem mais eleitoralmente do que separados”, observa, revelando que “no caso da AD de 1979-80, a resposta parece ter sido sim; mas as experiências mais recentes colocam dúvidas - veja-se, por exemplo, a votação das duas alianças eleitorais em europeias desde 2000, ou antes disso a intenção de voto nas sondagens da ‘nova AD’ do final da década de 1990”.

O professor de Ciência Política da UA, diz que o facto de a esquerda se apresentar a eleições muito fragmentada seria vantajosa para os dois partidos do arco da governabilidade. Quanto ao timing, afirma que a dificuldade nesta decisão “prende-se com o elevado grau de incerteza associado - porventura, é também isso que pode levar Paulo Portas a tentar adiar a decisão, de modo a ter mais informações antes de assumir uma posição, sobretudo em eleições que podem ser marcantes para o CDS”. E conclui: “Se se aliar, corre o risco de ser associado ao PSD - algo que o CDS tem sempre procurado evitar para se afirmar eleitoralmente; se correr sozinho corre o risco de perdas eleitorais e o CDS não esqueceu os anos do táxi de 1987e 1991”.

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