PS: uma dilação perigosa

É indispensável limitar rapidamente o espaço de manobra da direita.

A decisão de marcar a consulta sobre a liderança do PS para o dia 28 de Setembro de 2014, tomada pela sua comissão política, aberta à sociedade civil, e não apenas aos militantes, encerra perigos evidentes. Penso que não é a altura para se experimentarem novas metodologias, cujos processos e resultados são imprevisíveis.

Com efeito, tal decisão (cuja legitimidade e inoportunidade é indiscutível) não corresponde, na minha opinião, nem aos interesses do PS, nem, o que é mais importante, aos interesses do país. Penso que é urgente a definição de uma liderança partidária solidamente legitimada.

Só isso poderá dar ao PS um novo e poderoso impulso – um impulso capaz de vencer uma direita desacreditada e enfraquecida, mas capaz ainda, através de medidas demagógicas, de vencer um PS momentaneamente fragilizado ou de proporcionar aos socialistas uma vitória tangencial (como se verificou nas últimas eleições europeias) que os obrigue a renovar a experiência, de má memória, do malfadado “bloco central”! São várias as vozes autorizadas do PSD a defender essa solução. Ela pode configurar-se de um momento para o outro!

Não creio que António José Seguro pretenda esta solução para a crise que está aberta no interior do PS – mas o dilatado lapso de tempo que proporcionou à direita para a equacionar comporta esse perigo real.

Por isso, apelo a que comissão política interprete correctamente os sinais que vêm da sociedade e que corrija, sem demora, a data que marcou para a consulta destinada a referendar a escolha do secretário-geral. Proponho que reduza para metade o tempo que estipulou para essa consulta, de modo a contrariar, e a dificultar, tanto quanto possível, essa tentação da direita.

Creio, por todos os sinais que tenho recebido do interior do PS, que isso corresponde ao desejo da esmagadora maioria dos seus militantes. É indispensável limitar rapidamente o espaço de manobra da direita.

É urgente refazer a unidade do PS para que possa enfrentar, com renovada energia, uma direita desacreditada, mas que continua a possuir poderosos instrumentos de poder.

Esta matéria interessa não só aos militantes do PS, mas a todos os que votam nele. Por isso deve ser discutida aberta e rapidamente.

Os fracos sinais de recuperação económica – inferiores aos estimados pelo próprio Governo e imputáveis, de resto, ao emprego sazonal – podem ajudar a actual maioria a enganar uma parte da população numa eventual consulta eleitoral e a proporcionar-lhe, portanto, a continuação no poder. 

Só um PS forte e unido, com uma renovada credibilidade, pode afastar este perigo.

Antigo dirigente do PS

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