PS sem entusiasmo pelas polémicas de Passos

Costa falou esta sexta-feira, pela primeira vez, sobre a carreira contributiva de Passos, depois de Manuel Alegre ter exigido demissão do primeiro-ministro. Debate interno sobre como gerir polémica em lume brando.

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António Costa pediu desculpa a Cavaco Silva "pelo muito desagradável incidente ocorrido no içar da bandeira nacional" Rui Gaudêncio

Quando António Costa falou, pela primeira vez, sobre a polémica à volta da carreira contributiva do primeiro-ministro, já o histórico socialista Manuel Alegre lhe tinha roubado o protagonismo. De forma intencional ou não, a declaração lo líder socialista soou a resposta ao desafio do ex-vice-presidente da Assembleia da República e ex-candidato a Belém. "Pedro Passos Coelho já deveria ter sido confrontado pelo PS, e pelos outros partidos de esquerda, perante a obrigação ética e política de se demitir", defendeu o conselheiro de Estado em declarações ao Diário de Notícias.

O socialista não conseguiu evitar escapar a sua perplexidade perante a “absoluta impunidade política" que levava os partidos de esquerda a não exigir a saída de Passos Coelho. Alegre foi mesmo ao passado recuperar outros casos em que "já houve ministros que se demitiram", numa referência ao ex-ministro da Defesa socialista, António Vitorino. "E no estrangeiro, por muito menos, ocorrem estas demissões", comparou mais uma vez.

A reacção mais cautelosa de Costa parece estar mais em sintonia com a elite socialista. A verdade é que o debate à volta dos incumprimentos de Passos Coelho não tem animado o PS. Na reunião da bancada parlamentar socialista, realizada na quinta-feira, os deputados reunidos optaram por discutir os méritos das propostas sobre enriquecimento injustificado e ouvir a apresentação de João Tiago Silveira, director do Gabinete de Estudos que prepara o programa eleitoral.

Ao que o PÚBLICO apurou, os momentos de divergência tiveram mais que ver sobre o projecto socialista relacionado com a justiça, com alguns deputados apoiantes de Seguro a levantar objecções à proposta do seu partido.

Mesmo entre os socialistas mais distantes da actual direcção existe a percepção de que não há grande vantagem em cavalgar impetuosamente uma polémica. “Um líder do PS não pode pedir a demissão de um primieiro-ministro. Só pode exigir a sua demissão”, justifica o dirigente Álvaro Beleza, que tem assumido a liderança da ala segurista desde que o anterior secretário-geral saiu de cena. Antes de mais porque “a precipitação é sempre má conselheira”, explica. Depois porque a gravidade de uma exigência desse tipo “tem que ser muito bem fundamentada”, remata.

Ainda assim, Alegre não é o único, no interior do PS, a considerar que a gravidade da situação justificaria essa consequência política extrema. Exemplo disso, logo nos primeiros dias da polémica, o deputado socialista André Figueiredo tirou a mesma conclusão na rede social Facebook. Escreveu “demissão” por Passos Coelho “se ter embrulhado e por não ter sido verdadeiro desde o primeiro momento”, explicou ao PÚBLICO. E acrescenta que a sucessão de declarações do chefe do Governo só veio reforçar a convicção.

“O primeiro-ministro sempre disse que nunca viveu acima das suas possibilidades. Ontem veio justificar os alegados cinco processos da Autoridade Tributária com a falta de dinheiro. Afinal, Pedro Passos Coelho confirma que viveu acima das suas possibilidades.”

Mas o deputado compreende a forma mais comedida como o seu secretário-geral tem gerido a polémica. “O PS seguiu a linha de dar ao primeiro-ministro a possibilidade do esclarecimento cabal”. Seguindo a “tramitação” normal para esperar “agora as respostas do chefe do Governo”.

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