PS neutral nas presidenciais e a negociar com todos no Parlamento

António Costa acusa Cavaco de não ajudar à “construção de uma boa solução de estabilidade”. Comissão política aprovou estratégia política para os próximos meses.

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António Costa colocou de parte a hipótese de um Governo de Bloco Central com PSD e CDS Nuno Ferreira Santos

A comissão política do PS mandatou esta terça-feira o seu líder para “desenvolver na globalidade do quadro parlamentar todas as diligências julgadas necessárias” para que a “vontade dos portugueses não se perca na ingovernabilidade”. A decisão votada favoravelmente por 63% dos membros do órgão interno socialista definiu ainda a liberdade de voto dos seus militantes nas próximas eleições presidenciais.

Depois de quatro horas e dezenas de intervenções, os socialistas acabaram por corroborar os primeiros sinais e condições definidas por António Costa em relação ao próximo processo negocial tendente ao suporte do futuro governo. A novidade sobre esta matéria sensível no discurso de Costa resultou, no entanto, da comunicação ao país feita pelo Presidente da República. Reagindo a Cavaco Silva, o líder socialista cladssificou a declaração como “bastante atípica” e explicou porquê: “Não basta falar com o líder do seu partido.” O facto de Cavaco apenas se ter reunido com Pedro Passos Coelho antes de se dirigir ao país “não contribuiu para a construção de uma boa solução de estabilidade política”, criticou.

A segunda novidade da reunião centrou-se nas presidenciais. “Não havendo condições para organizar primárias, o PS apela à mobilização e participação livre e activa dos militantes no apoio, à primeira volta, à candidatura da sua preferência”. Pouco depois, o próprio António Costa comentou a opção do PS, assinalando que o único socialista que ficava “limitado” era o próprio secretário-geral. À saída da reunião, este ponto da ordem de trabalhos do encontro parecia ser o que agregara maior consenso entre os participantes. Álvaro Beleza, que no domingo defendeu a realização de um congresso interno e, um dia depois, desafiou a liderança de Costa, não contestou essa calendarização.

O mesmo já não aconteceu em relação ao mandato conferido ao líder socialista para gerir o cenário político criado pelas legislativas de domingo. A comissão política repetiu a responsabilidade do PSD e CDS para “criarem condições de governabilidade” no “novo quadro parlemantar”, ao mesmo tempo que “considerava indispensável a clarificação das posições publicamente assumidas pelo PCP e BE sobre a existência de condições para a formação de um novo governo com suporte maioritário”. Recordou também as quatro linhas vermelhas socialistas já referidas por Costa no seu discurso de derrota. Costa acrescentou depois não ter havido ainda “conversa nenhuma” com qualquer dos partidos eleitos, procurando evitar que passasse a ideia de preferência num acordo com a esquerda ou a direita. “É importante falar com todas as forças partidárias”, disse. Mas depois reforçou, em relação ao PSD e CDS, que eram estes que tinham o “ónus de procurar” as soluções que garantissem o apoio do governo - Passos Coelho afirmou no Conselho Nacional do PSD o desejo de um acordo para quatro anos com o PS, não especificando se isso passaria por um Governo conjunto ou acordos parlamentares.

Sobre essas soluções, Costa apenas deixou claro que o PS não estará disponível para participar num governo juntamente com o PSD e CDS. Referindo-se especificamente à possibilidade de um Bloco Central, considerou não ser “saudável” que partidos como o PSD e PS “partilhem responsabilidades governativas”.

Álvaro Beleza, no entanto, classificou a posição definida como “meias-tintas”. Depois de confirmar o seu voto contra, o ex-membro do secretariado de Seguro defendeu que o PS deveria antes ter assumido uma “posição construtiva”, resultante do reconhecimento da derrota nas eleições e do seu papel de “partido charneira, responsável  e europeu”. “Temos que permitir que haja um Governo e que seja primeiro-ministro quem ganhou”, rematou.

Nas eleições de domingo, e quando faltam ainda apurar os quatro mandatos dos círculos da Europa e fora da Europa, a coligação formada por PSD e CDS elegeu 104 deputados (incluindo os cinco deputados sociais-democratas da Madeira e Açores, onde o partido concorreu sozinho), ficando aquém da maioria absoluta. O PS (com os seus 85 deputados) assume um papel importante para a governabilidade, num Parlamento em que a esquerda está em maioria: o Bloco de Esquerda elegeu 19 deputados e a CDU 17. O hemiciclo fica completo com o deputado do Pessoas-Animais-Natureza, que se estreia na Assembleia da República.

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