Governo não quer nem eleições antecipadas nem moção de confiança

Executivo nega instabilidade. Francisco Assis agita o partido ao afirmar que a “situação do Governo é irresolúvel” e acusa Pedro Nuno Santos de estar “colonizado mentalmente pelo BE”. Secretário de Estado lamenta “insultos”.

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Francisco Assis propôs eleições antecipadas para resolver o actual impasse Adriano Miranda

A TSU aqueceu alguns motores críticos no PS. Francisco Assis apareceu a defender que a única solução para o impasse em torno da medida é o Governo provocar eleições antecipadas e um deputado do PS defendeu uma moção de confiança para que se clarifique a posição dos partidos que apoiam o Governo. O executivo ouve e não vê necessidade em nenhuma das acções: "Esta discordância não foi a primeira. Estamos habituados, em Portugal, ao pressuposto de que o Parlamento é uma extensão do Governo. Não é. Esta situação não põe em causa condições de estabilidade. Ninguém sente essa necessidade", nem de eleições antecipadas nem de moções de confiança, diz ao PÚBLICO o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos.

Tudo começou com um artigo de Francisco Assis, no PÚBLICO, e uma entrevista à Antena 1 a defender que o país está "a caminhar para um impasse" e que a única saída que vê é a "realização de eleições antecipadas". O eurodeputado não entende a animosidade que o texto suscitou no PS e, ao PÚBLICO, Assis explica-se já depois das primeiras reacções do PS: “Não formulei nenhuma crítica ao Governo. Falei sobre a situação e o impasse em que estamos a cair e este impasse vai levar-nos a eleições antecipadas. É um problema de fundo que é irresolúvel”, sustentou.

Uma posição que não tem adeptos no Governo. "Não estamos em nenhum impasse. Não há nenhuma razão para se criar instabilidade política nem ninguém a desejaria", sobretudo, acrescenta Pedro Nuno Santos, quando "na Europa há incerteza, a nossa estabilidade é uma mais valia".

Se Assis defendeu eleições antecipadas, houve no PS quem achasse que perante o cenário político era importante o partido apresentar uma moção de confiança, obrigando o PCP e o BE a clarificarem posições. A iniciativa, noticiou a Lusa, foi do deputado independente eleito pelo PS, Paulo Trigo Pereira, na reunião do grupo parlamentar. O PÚBLICO confirmou que o deputado defendeu a apresentação de uma moção de confiança com a justificação que já era o segundo episódio de discordância entre a maioria que sustenta o Governo.

Mas o líder do grupo parlamentar socialista, Carlos César, não acolheu a ideia, defendendo que, se PSD e o CDS têm dúvidas sobre a solidez do Governo, então, que apresentem uma moção de censura. A ideia também não é do agrado de outros socialistas. Pedro Nuno Santos não vê necessidade nesta clarificação e outro socialista lembrou ao PÚBLICO que, para António Costa, é melhor governar com minoria com o apoio da esquerda do que ter PCP e BE na oposição.

Troca de acusações

Foi entre Francisco Assis e Pedro Nuno Santos que a discussão provocada pela TSU aqueceu mais. O secretário de Estado, durante a tarde de ontem, reagindo ao artigo de Assis, desafiava-o a ir ao congresso de socialistas dizer o que havia escrito no PÚBLICO, sugestão que surpreendeu o eurodeputado: "Não gosto muito desse tipo de intimidações. Dá-me a impressão que Pedro Nuno Santos não leu o texto ou, se o leu, não o entendeu, o que é estranho porque aqueles sectores do PS que se deixaram colonizar mentalmente pelo BE nos últimos anos é que estão preocupados com aquilo que eu escrevi”. E termina: “Não podemos estar sempre a fingir, nem na vida, nem na política”. 

Assis acrescentou ainda que, como "militante do PS" foi "ao congresso dizer" o que pensa. "Não gosto desse tipo de considerações e acho a reacção [de Pedro Nuno Santos] despropositada”, declarou ao PÚBLICO o eurodeputado, revelando que ao longo do dia recebeu muitos telefonemas e mensagens a elogiar a sua posição.

Confrontado com estas declarações, o secretário de Estado lamenta "os insultos". "Lamento que Francisco Assis não saiba debater sem insultar".

 As visões dos dois socialistas parecem inconciliáveis. Não é, aliás, a primeira vez que estão em lados opostos, no PS. Pedro Nuno difere da posição de Assis e diz tê-la entendido, mas defende que é uma questão de divergência de opiniões: "Não entende que o PS fez uma escolha consciente [de governar com a esquerda] e não quis apenas impedir a direita de governar. O PS quis uma solução de Governo que permita fazer coisas que com a direita não seria possível, como devolver rendimentos ou aumentar as pensões".

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