PS afirma que "nuvens negras" do país só se dissipam com mudança de Governo

O presidente do PS, Carlos César, reage à tradicional mensagem de Natal do primeiro-ministro.

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Carlos César foi eleito presidente do PS no último congresso nacional do partido Daniel Rocha

O presidente do PS, Carlos César, acusou nesta quinta-feira o primeiro-ministro de repetir as promessas que não cumpriu quando foi eleito e defendeu que as "nuvens negras" no horizonte do país só se dissipam com mudança de Governo.

Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores entre 1996 e 2012, falava à agência Lusa em reacção à tradicional mensagem de Natal proferida pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na qual defendeu que Portugal tem agora um horizonte aberto, sem acumulação de "nuvens negras", mas advertindo que importa proteger aquilo que foi conseguido com sacrifício.

O presidente do PS pegou na imagem usada por Pedro Passos Coelho, mas fez uma análise contrária sobre a situação do país: "No mar de dificuldades que atravessamos, de facto, as nuvens negras no horizonte só se dissipam pela percepção de substituição do actual Governo, que espero que se concretize".

Para Carlos César, a comunicação hoje feita pelo líder do Executivo de coligação PSD/CDS não se tratou de uma mensagem de Natal, "mas sim de uma mensagem eleitoral".

"Ao não saber separar uma coisa da outra, o primeiro-ministro revela como para ele os cidadãos são votantes cujos votos importa arrecadar, e não pessoas cuja dignidade importa preservar. Infelizmente, o primeiro-ministro mostra-se longe da dimensão humanista que gostávamos de ver e que deve orientar, de resto, os governantes, sobretudo em tempo de crise", disse.

De acordo com o presidente do PS, "os poucos aspectos positivos" que constaram do balanço político feito pelo primeiro-ministro "escapam manifestamente ao mérito do Governo".

"E o primeiro-ministro não se justifica nos negativos: no de ter conseguido ao mesmo tempo aumentar sacrifícios e dívida; adiar reformas e colapsar sistemas onde tocou, como na justiça e na educação; deixar o país sem política externa, seja em África, no Atlântico, no espaço ibérico, tornando-se irrelevante no contexto europeu e abandonando as comunidades emigradas", acusou o presidente do PS.

Segundo Carlos César, "é possível seguir outro caminho, defender melhor Portugal face ao exterior, requalificar o Estado, proteger melhor os portugueses, sermos sóbrios e criteriosos nos gastos públicos e reganhar confiança para a política, nos seus recursos, nos seus talentos e nas suas regiões".

"É para isso que trabalhamos no PS, que trabalhamos para o país, para devolvermos confiança nesse horizonte próximo", acrescentou o ex-presidente do Governo Regional dos Açores.

PCP acusa Passos de "mistificação"
Também o PCP reagiu já à mensagem do primeiro-ministro, considerando que o único consenso que existe na sociedade portuguesa é para a demissão do Governo e defendendo que as "nuvens negras" vão permanecer no horizonte do país em 2015.

Numa declaração aos jornalistas feita pelo comunista João Dias Coelho, o membro da Comissão Política do PCP acusou Passos de continuar “a insistir na mentira e na mistificação" e referiu, a título de exemplo, que a entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2015, em conjunto com o Tratado Orçamental da União Europeia, "terá consequências terríveis na vida concreta dos portugueses".

"Perante o grande apelo que o primeiro-ministro fez relativamente ao consenso nacional, o PCP diz que sim, que há um grande consenso nacional, que é a necessidade de demissão do Governo para uma outra política que lance o país num outro caminho. Portugal precisa de uma política patriótica de esquerda — e esse caminho está na força, na vontade e na luta do povo português", advogou.

Questionado sobre a ideia de Pedro Passos Coelho de que Portugal tem agora no horizonte uma menor acumulação de nuvens negras, João Dias Coelho contrapôs: "Cada um dos portugueses sabe bem que, no concreto, não há emprego — e essa é uma das nuvens negras que paira sob a vida do povo português".

"Temos mais de 2,5 milhões de pobres em Portugal, dos quais meio milhão são crianças. Portanto, essas nuvens negras vão continuar.”

Para o membro da Comissão Política do PCP, o caminho que o Governo tem seguido "é de declínio nacional e de empobrecimento dos portugueses". "Há soluções e o PCP defende uma política patriótica de esquerda", insistiu, antes de negar que exista em 2015 qualquer recuperação do poder de compra por parte dos portugueses.

"Isso é uma enorme mistificação, porque o Governo o que faz é dar com uma mão mas depois tira com as duas. A carga fiscal será enorme particularmente em relação aos trabalhadores, já que o grande capital, como no que respeita ao IRC, continuará a beneficiar enormemente", acrescentou.

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