Bloco afasta reconciliação com Rui Tavares por causa do PS

Foi uma reunião entre "camaradas da esquerda" com estratégias diferentes para as legislativas.

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Reunião decorreu na sede do BE, em Lisboa Daniel Rocha

Um romance antigo em que os relatos do reencontro, após três anos, não podiam ser mais díspares. Rui Tavares, agora na condição de dirigente do Livre, regressou esta terça-feira à sede do BE, em Lisboa, para dizer, em resumo, que é muito mais o que os une do que aquilo que os separa. Mas o líder do BE, João Semedo, respondeu com a convicção de que o Livre está focado numa governação com o PS, em vez de numa alternativa de esquerda. Fica portanto difícil reatar.

A reunião durou cerca de uma hora e realizou-se a pedido do Livre, integrada na ronda de diálogos com partidos que considera da mesma família política. Mas não era sequer preciso que a porta estivesse aberta - não estava - para saber que o clima entre os dois partidos é tenso.

Rui Tavares nunca militou no BE, mas foi eleito ao Parlamento Europeu na lista do partido, em 2009, com quem rompeu em 2011. Na altura, a troca de palavras pública entre o então líder Francisco Louçã e o deputado em Bruxelas terminaria com Tavares sentado na bancada dos Verdes Europeus. A criação do Livre este ano, ainda a tempo de concorrer às eleições europeias, mas com o objectivo definido de disputar as legislativas de 2015, veio agravar a crispação e as críticas do Bloco de que é preciso unir a esquerda e não contribuir para dividi-la.

Quando Tavares falou nesta terça-feira, acompanhado de mais três dirigentes do Livre – Ricardo Alves, Maria João Pires e Renato do Carmo –, vários bloquistas circulavam atentos pela mesma sala, mas do outro lado da estante que divide o espaço. Sorrisos discretos e o foco nas palavras do ex-eurodeputado.

Se Tavares assumiu que “não era o objectivo desta reunião firmar nenhuma convergência”, não deixou de sublinhar as “preocupações comuns” com a “aberração do Tratado Orçamental”, a defesa do Estado Social e da Constituição. Em suma, “é maior aquilo que temos em comum do que em divergência”.

Uma reunião, disse, “muito frutuosa, muito franca, entre camaradas da esquerda”. Para o Livre, o “canal de comunicação entre o Livre e o BE” ficou aberto e os bloquistas foram brindados com o convite de participarem no congresso do partido a 5 de Outubro.

“Não colocar o passado à frente do futuro”, defendeu Tavares. Com uma explicação adicional e um timing definido: “É muito importante que a esquerda à esquerda do PS seja reforçada até às legislativas para ancorar uma governação à esquerda”.

Uns minutos estratégicos de pausa, que permitiram à delegação do Livre abandonar o Martim Moniz, deram então o microfone aos anfitriões da tarde. João Semedo, acompanhado dos dirigentes Jorge Costa, Ricardo Moreira e Joana Mortágua, avisava que ia ser breve. O encontro tinha, afinal de contas, permitido perceber que há “focos” diferentes.

De um lado, bloquistas empenhados em encontrar “políticas alternativas à austeridade”, do outro, o Livre focado numa “aproximação ao PS e num acordo de governação com o PS”.

“O PS não é um partido que seja excluído pela esquerda, exclui-se de políticas de esquerda”, atirou o líder do BE, para reforçar a sua tese de que quem quer governar à esquerda “não pode aproximar-se do PS”.

Sobre a continuidade de diálogo com o Livre, parece difícil saírem nabos desta púcara: “Uma coisa é conversar, outra é não ver que há diferenças políticas claras”.

 
 

   

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