Próximo PR terá de fazer pontes em ciclo de provável instabilidade, diz Marcelo

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Marcelo quer a economia a crescer Sérgio Azenha

O antigo líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa afirmou esta quarta-feira temer um ciclo de instabilidade política, com sucessivos governos minoritários, e defendeu que o próximo Presidente da República terá de saber fazer pontes entre ideias diferentes.

Neste quadro, deixou um conselho à coligação PSD/CDS-PP e ao PS: "Não tenham vergonha de pedir maioria absoluta, e expliquem porque é que querem maioria absoluta". Se não resultar, "que se preparem os dirigentes partidários" para futuros entendimentos, recomendou.

Durante um almoço-debate no Clube Militar Naval, em Lisboa, o professor universitário e comentador político não quis falar da possibilidade de vir a ser candidato presidencial, mas apontou como papel principal do próximo Presidente "fazer pontes", e frisou que não cabe ao chefe de Estado "ter um programa de Governo". Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se preocupado com os estudos de opinião que indicam "o regresso à experiência de governos minoritários" e com a eventualidade de as legislativas resultarem em "instabilidade governamental e na sucessão de governos no que corresponderia a uma legislatura".

A seguir, em declarações aos jornalistas, acrescentou: "Pode acontecer que os próximos cinco anos sejam um ciclo com um só Presidente da República, mas com dois ou três governos". Portugal perderia "um aspecto fundamental que custou muito a ganhar ao país, que foi um mínimo de estabilidade política", lamentou.

Marcelo salientou que "as sondagens dão todas uma grande aproximação entre o PS de um lado e coligação [PSD/CDS-PP] do outro" e questionou que alguma dessas forças consiga maioria no parlamento. "Isso significa, por um lado, um Governo minoritário, cujo programa para passar vai ser uma dificuldade. Depois, um Orçamento que já vai ser atrasado, cuja passagem é uma dificuldade. Depois, o risco de a oposição querer esperar para fazer cair o Governo, o risco de o Governo esticar a corda para poder ir à maioria, como já aconteceu", expôs.

O social-democrata dramatizou este cenário, lembrando que "até ao fim da Primavera, começo do Verão do ano seguinte" não poderão ser convocadas novas eleições. "Ou há convergências de regime entre os principais partidos, ou então o país pode passar por um mau bocado", concluiu.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, as actuais "divergências de fundo" entre PS e PSD são outro factor que contribui para a instabilidade. Por isso, instou os dirigentes partidários a prepararem-se para "entendimentos" que permitam, "com um Governo minoritário, haver a passagem do programa e haver a viabilização do Orçamento". "Isto é, não podem dizer em campanha eleitoral coisas tais que depois considerem irreversíveis e que tornem muito, muito difícil um entendimento, porque vai ter de se negociar daqui a três meses e meio - não é daqui a três anos", advertiu.

Quanto às presidenciais, Marcelo falou do assunto no seu discurso, para condenar aqueles que fazem "promessas impossíveis", como "promessas de referendos, que dependem da iniciativa de outras instituições".

Sem nomear ninguém, o antigo presidente do PSD declarou: "Seria negativo para a sociedade portuguesa que os portugueses fossem enganados durante o período de campanha eleitoral".

Aos jornalistas, Marcelo acrescentou que "um candidato a Presidente não é candidato a primeiro-ministro" e "tem de ter a humildade para ser, sobretudo, alguém que faz em ponte entre outras pessoas com outras ideias diferentes das suas".

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