Graffiti, chaimites e dar sangue foram propostas para comemorar Abril no Parlamento

A proposta de Assunção Esteves de recorrer a mecenato para suportar custos das comemorações foi retirada, mas não faltaram ideias imaginativas aos deputados para os 40 anos da Revolução dos Cravos.

Foto
A associação 25 de Abril não vai estar na AR pela segunda vez Rui Gaudêncio

A proposta de recorrer a mecenato para suportar custos das comemorações do 25 de Abril feita pela presidente da Assembleia da República foi retirada por falta de consenso entre as bancadas. Mas mantém-se a ideia de levar as chaimites para o Parlamento, decoradas com cravos criados por Joana Vasconcelos. E outras surgiram, como fazer graffiti ou até pôr os deputados a dar sangue nesse dia.

Esta quinta-feira, logo no início da reunião do grupo de trabalho criado para acertar as iniciativas que vão assinalar os 40 anos da revolução, os deputados do PCP e do BE expressaram as suas reservas sobre a sugestão de mecenato feita por Assunção Esteves. E o assunto morreu logo ali.

No final da reunião, a presidente confirmou aos jornalistas que a proposta não foi adiante e recusou qualquer “polémica”. Tal como o seu gabinete confirmara ao PÚBLICO na quarta-feira, Assunção Esteves avançou com a solução de mecenato “como hipótese” para financiar as comemorações, no Parlamento, dos 40 anos da revolução e que “não foi posta como condição” para a realização das iniciativas. 
A proposta “à maneira de outras instituições internacionais” era a de pedir a “instituições de utilidade pública, no universo recortado do consenso, que também pudessem contribuir” para as comemorações do 25 de Abril. E garantiu que “não seria mecenato comercial”.
Assunção Esteves não excluiu a possibilidade de vir a utilizar este modelo no futuro: “É uma ideia que com o tempo as instituições explorarão”. Aliás, já quando se colocou a hipótese de Eusébio ser transladado para o Panteão Nacional, a presidente se referiu aos custos da operação e admitiu a possibilidade de se recorrer ao mecenato.

Pedro Filipe Soares, o representante do BE no grupo de trabalho, referiu que se optou por recorrer apenas a fundos do Parlamento para suportar as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. “Não houve consenso [sobre mecenato]. A hipótese de recorrer a outros fundos que não os da Assembleia caiu. Terá que ser com fundos da Assembleia da República”, afirmou. Pelo PS, Maria de Belém também se referiu à proposta como tendo sido de “mecenato institucional”, mas, “como não é consensual, foi afastada”.

Mesmo nas bancadas à direita o incómodo foi visível. Nuno Encarnação, do PSD, garantiu que todas as propostas feitas sua bancada “têm custos muito reduzidos”. O PCP também recusa recorrer a “entidades externas” à Assembleia para realizar as comemorações do 25 de Abril. Essa foi a declaração do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, na sede do partido, quando ainda decorria a reunião do grupo de trabalho no Parlamento.

Propostas ousadas
Entre as iniciativas previstas está uma intervenção artística de Joana Vasconcelos que seria a de ornamentar chaimites com cravos por si criados. Ao que o PÚBLICO apurou, essa exposição ficou em aberto porque é necessário saber exactamente quanto custa e porque já não haverá qualquer apoio de entidades externas. 

Maria de Belém sugeriu que os deputados fossem dar sangue, já que o 25 de Abril também significa Serviço Nacional de Saúde e solidariedade. A proposta, que a própria admitiu poder ser um pouco estranha, não mereceu nenhuma resposta positiva. Outra sugestão, feita por Assunção Esteves, foi a de permitir fazer um graffiti alusivo à data, em local a definir. Ficou de ser ponderado. 

Quase certa está a realização de um concerto por Rodrigo Leão, outro concerto com artistas convidados e uma exposição sobre o nascimento da democracia, para a qual vai ser pedida a colaboração de Pacheco Pereira. Ficou também assente a realização de um ciclo de cinema, com documentários feitos por estrangeiros, a de uma peça de teatro (por A Barraca) e de uma conferência sobre “Os Novos Paradigmas do Futuro”. 

Assunção Esteves assegurou aos jornalistas que ainda não sabe quanto vão custar as comemorações. “Não temos ainda o orçamento e por isso não temos o programa fechado”. Ao que o PÚBLICO apurou, há uma almofada financeira com verbas que sobraram do Orçamento do ano passado e que vão servir também para assinalar o aniversário da Primeira Guerra Mundial.

Sugerir correcção
Comentar