Protestos e apelos para derrotar o Governo marcaram 1.º de Maio, “um mês bonito”

Arménio Carlos não poupa críticas ao Governo nem ao PS. Para o secretário-geral da CGTP, o cenário macroeconómico apresentado pelos socialistas pode permitir-lhes “ser alternância ao poder, mas nunca será uma alternativa política”

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Arménio Carlos: “Façamos das próximas eleições legislativas um momento alto da luta” Miguel Manso
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Desde que saiu da faculdade, onde fez o mestrado em Psicologia, Inês Anselmo, 30 anos, nunca conheceu outro trabalho que não fosse num call center. Já lá vão oito anos. Agora está desempregada e faz questão de marcar presença na manifestação do 1.º de Maio, da CGTP, em Lisboa. No discurso final, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, atacou o Governo e o PS, e apelou a todos para que, nas eleições legislativas, ponham “um ponto final na política de direita”.

“Como podem eles [Governo] falar de sucesso quando destruíram mais de 500 mil postos de trabalho, quando temos um milhão e trezentos mil trabalhadores sem emprego ou em subocupação e centenas de milhares foram obrigados a emigrar?”, questionou, já num palco na Alameda, Arménio Carlos que estimou estarem no desfile “milhares de pessoas”.

Aos jornalistas, já tinha antes tecido críticas não só ao Governo, mas também ao cenário macroeconómico do PS. O secretário-geral da CGTP defende a “necessidade de o PS reflectir” e “acima de tudo alterar profundamente aquele documento, porque se não o fizer e, se o documento servir de base ao programa eleitoral, naturalmente pode ser alternância ao poder, mas nunca será uma alternativa política para resolver os problemas dos trabalhadores, do povo e do país”.

No início do desfile, porém, Arménio Carlos e o presidente do PS, Carlos César, que estava numa delegação que saudou a CGTP, cumprimentaram-se. À Lusa, o socialista referiu que o PS partilha com os trabalhadores os “valores” do 1.º Maio, como o combate à precariedade laboral, à redução das remunerações, ao empobrecimento e ao desemprego.

Inês Anselmo está desempregada há meio ano, depois de ter sido despedida do call center. “Sou jovem, quero emprego e ficar em Portugal”, diz. Mas os protestos não são só dos jovens. Joaquim Silva, 66 anos, trabalhava na construção naval e está reformado: “Tenho uma reforma de 480 euros. Este Governo está a tirar aos reformados e a quem tem menos, espero bem que caia nas eleições, se não será um desastre total. Gostava de ver alguém do Governo a viver com uma reforma igual à minha e não é das mais baixas.”

A manifestação, marcada para as 15h, começou no Martim Moniz e, depois de quase três horas, terminou na Alameda, onde Michael Moore, que está em Portugal a realizar um documentário, também esteve presente e conversou com o líder da CGTP.

No desfile, não faltam cartazes contra o Governo, a austeridade, e com exigências de melhores condições de trabalho. “Exigimos o aumento dos salários e a publicação das 35 horas semanais, queremos uma política de esquerda”, lê-se numa faixa. Grita-se: “Desemprego em Portugal, vergonha nacional” ou “o Governo vai ao chão, é só empurrão”.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, mostrou-se entusiasmado com o número de manifestantes: “Não é só a participação elevada, mas os conteúdos e os objectivos desta manifestação, derrotar a direita, conseguir uma ruptura e uma mudança da vida política nacional. Tem uma grande importância porque é gritada pelos próprios trabalhadores”, disse aos jornalistas. A “massa imensa” que encontrou dá-lhe “muita esperança” para as eleições. “Há um outro rumo, Portugal não está condenado a esta situação de sacrifícios.”

De cravo na mão, António Melo, jornalista reformado de 71 anos, não falta a um 1.º de Maio: “Esta manifestação será sempre uma voz de protesto e Maio é um mês bonito”, diz, também confiante que nas legislativas o Governo será derrotado.

E foi a isso mesmo que Arménio Carlos apelou: “Façamos das próximas eleições legislativas um momento alto da luta, transportando-a até ao voto para pôr um ponto final na política de direita e no Governo PSD-CDS.”

Foram muitos ataques do líder ao Governo: “O primeiro-ministro Passos Coelho disse recentemente, no tom “calimero” que se lhe conhece, que a grande reforma que lhe falta fazer é a do mercado laboral. Depois do ataque sem precedentes à legislação e aos direitos dos trabalhadores, das medidas que tiveram como consequência a degradação do emprego e a brutal transferência de rendimentos do trabalho para o capital, não está satisfeito e quer ir ainda mais longe.” E acrescentou: “Eles são insaciáveis e querem mais. Os mesmos, que fabricam a pobreza, ensaiam agora novas medidas para a manter e alargar. E aí está o caderno de encargos com um novo pacote de medidas inscritas no Programa Nacional de Reformas para 2016-2019, a confirmar que, depois do Memorando da troika, continua a política de esmagamento dos rendimentos dos trabalhadores e pensionistas e de ataque e degradação dos serviços públicos e das funções sociais do Estado.”

Mas, no discurso, Arménio Carlos apontou também baterias ao PS: “A retoma das alterações à Taxa Social Única é elucidativa da obstinação e da falta de soluções do Governo e também do grupo de economistas que, por solicitação do PS, elaborou o documento denominado Uma década para Portugal. Podem ser diferentes na forma de apresentação, mas são semelhantes nos conteúdos e objectivos centrais que pretendem atingir.”

Antes de Arménio Carlos, uma jovem da delegação alemã da Intersindical fez um discurso contra o neoliberalismo e enviou “cumprimentos solidários à Grécia”. “Apesar da [chanceler alemã] Merkel e seus lacaios colocarem o capital alemão acima de todos os povos da Europa, os povos europeus têm todos os mesmos direitos e valores", defendeu.

Para assinalar 125.º aniversário do Dia Internacional do Trabalhador, a CGTP-IN organizou iniciativas em vários pontos do país, com o lema Com a força dos trabalhadores, lutar por emprego, salários e direitos. Romper com a política de direita.

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