Presidente fez discurso de “mau perder” na posse de Costa, diz Jerónimo

Líder do PCP considera que Cavaco Silva fez uma “ameaça” ao lembrar o direito que ainda tem de demitir o Governo, mas terá sido mais um “grito de alma” do Presidente do que algo que venha a acontecer.

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Jerónimo participou neste sábado num encontro da CDU em Lisboa Enric Vives-Rubio

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse esta sexta-feira que o Presidente da República fez um discurso de "mau perder" na tomada de posse de António Costa como primeiro-ministro.

Em declarações aos jornalistas na Figueira da Foz, Jerónimo de Sousa disse ainda que "deve ser descontado o sentido de ameaça" presente nas palavras de Aníbal Cavaco Silva em relação ao exercício do poder de demissão do Governo, considerando-o "apenas um grito de alma de quem perdeu".

"Eu creio que é um discurso de mau perder, um discurso de quem se esqueceu que é o Presidente da República e se assumiu mais como um tutor do PSD e do CDS", afirmou Jerónimo de Sousa, à margem da cerimónia de atribuição do nome de Álvaro Cunhal a uma avenida da cidade.

Para o líder comunista, o discurso de Cavaco Silva mostra "alguém que não soube lidar com uma realidade constitucional e a solução governativa que foi concretizada", aludindo ao acordo a nível parlamentar do PS com o Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes" para a formação do Governo. "De qualquer forma, é um registo que ficará na memória como águas passadas", sublinhou Jerónimo de Sousa.

Ainda sobre a "insinuação da ameaça" de demissão do Governo, formulada por Cavaco Silva ao dizer que não prescinde dos seus poderes constitucionais, o líder comunista frisou que o Presidente da República esquece que a demissão do executivo tem de ser realizada "num quadro de não funcionamento regular das instituições e que o Governo presta contas fundamentalmente na Assembleia da República". "Não se está a ver como se concretizava. Aquilo que ele entendeu como direito, eu diria que é uma ameaça. Nesse sentido creio que foi mais um grito de alma do que propriamente ter na cabeça que isso vai acontecer", reafirmou.

Questionado sobre o porquê de ter estado ausente da tomada de posse de António Costa como primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa argumentou que o PCP esteve representado "ao mais alto nível" por João Oliveira, líder do grupo parlamentar: "Até porque desde a década de 70 que não íamos a nenhuma tomada de posse, foi um gesto com o seu significado político", frisou.

O nome do histórico líder comunista Álvaro Cunhal, que morreu em 2005, aos 91 anos, foi dado ao troço final da rodovia urbana que parte da rotunda Baden Powell - na avenida Mário Soares - em direcção à praia da Tamargueira (rotunda Infante D. Pedro), na zona noroeste da freguesia de Buarcos. A decisão de atribuir o nome do antigo secretário-geral do PCP foi tomada por deliberação camarária de 18 de Fevereiro e publicada em edital em Abril último.

Na cerimónia, Jerónimo de Sousa lembrou o historial de Cunhal enquanto político e homem das letras e das artes, "figura fascinante" e "combatente pela liberdade e democracia", enquanto o presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde (PS), frisou que o fundador do PCP "merece a admiração de todos, concordando-se ou não com os seus ideais".

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