PSD dividido quanto ao timing das candidaturas presidenciais

Arlindo Cunha distancia-se da posição assumida pelo vice-presidente do partido Carlos Carreiras e diz que não o choca que Rui Rio apresente a sua candidatura antes das eleições legislativas de 4 de Outubro.

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O nome de Rui Rio volta à baila para as presidenciais. Foto: Paulo Ricca

O ex-vice-presidente do PSD Arlindo Cunha afasta qualquer efeito de contaminação no facto de as candidaturas presidenciais serem anunciadas antes das legislativas e “não vê” nenhuma razão para que Rui Rio não o faça Já. Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, considera que o professor não estará interessado em fazê-lo agora “para poder continuar a usar o palco da TVI” onde todos os domingos faz o seu comentário político.

Surpreendido com a posição assumida pelo vice-presidente do PSD, Carlos Carreiras, que esta semana escreveu “(…) que quem se chegar à frente até ao dia 4 de Outubro, dá um passo em falso, fatal para as suas aspirações políticas”, Arlindo Cunha refuta-a e aponta em sentido contrário, dizendo que “só haverá confusão se o líder do partido quiser participar nessa confusão”. “Discordo que uma pessoa que pertença a um partido político e que queira avançar com uma candidatura presidencial perturbe as estratégias eleitorais, só perturba se os respectivos líderes partidários quiserem participar nessa confusão”, declarou ao PÚBLICO.

Arlindo Cunha sublinha, por outro lado, que “as duas eleições são entidades próprias, não se confundem uma com a outra, sendo que no caso das presidenciais trata-se de um direito cívico individual, que não tem nenhum requisito que obrigue a uma autorização partidária”.

O ex-ministro da Agricultura alude ao “comprometimento” de António Costa relativamente ao candidato Sampaio da Nóvoa para dizer que essa situação não aconteceu com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que – frisou – “não se comprometeu com nenhum dos três protocandidatos presidenciais [Marcelo, Rio e Santana]”. “Um líder só participa na confusão se quiser”, reafirma, acrescentando: “Não me choca nada se, eventualmente, Rui Rio apresentar a sua candidatura antes das legislativas. É uma questão da sua estratégia pessoal e política”.

Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, não vê vantagens em alterar o calendário que ele próprio fixou e que atira o anúncio de uma eventual candidatura para depois de Outubro. “Marcelo não tem outra alternativa se não candidatar-se depois das legislativas para aproveitar o palco da TVI para depois de 4 de Outubro”, enfatiza, deixando um sublinhado: “Se o fizesse antes das legislativas teria de voltar atrás, caso a coligação vença as legislativas, e dizer que, afinal, não é candidato”.

Popularidade: vantagem ou desgaste?
O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Amorim Pereira coloca a tónica na questão da notoriedade dos candidatos. Diz que a popularidade de Marcelo relativamente a Rio pode não ser uma vantagem, porque, na sua opinião, a “popularidade excessiva traz o reverso da medalha que é o desgaste”. Embora admita haver “dificuldades acrescidas” para Rio, o antigo governante diz que essa circunstância “não é suficiente para que haja um recolhimento desde já da candidatura”. Ao PÚBLICO, Amorim Pereira, que liderou a lista do PSD à Câmara do Porto em 2013, manifesta-se contra “calculismos” na escolha dos candidatos à Presidência da República e afirma que “seria muito mau para o PSD que houvesse mais do que um candidato”. “Sou contra aqueles que dizem que o PSD deve abster-se se houver vários candidatos”.

Defende que o partido deve apoiar o candidato presidencial de “uma forma clara, dizendo qual é que serve melhor o país”. E declara que “quer o PS, quer o PSD têm que ultrapassar a fase das legislativas para terem o cenário político já estabilizado para escolher o seu candidato”.

Afirmando que a “função do Presidente da República é dar confiança aos portugueses relativamente ao futuro”, Amorim Pereira diz que o candidato presidencial que poderá trazer essa confiança é Rui Rio, quer pelo seu percurso, quer pela imagem que tem perante a opinião pública. “Digo isto com todo o à-vontade de quem divergiu dele muitas vezes. Mas na política não estamos para julgar sentimentos pessoais, mas sentimentos políticos”.

Amorim Pereira acha “compreensível” a atitude de Rio e também de Marcelo por ainda não terem apresentado as respectivas candidaturas e em relação ao ex-presidente da Câmara do Porto deixa um conselho: “Só deve avançar se tiver a certeza de que não vai lançar-se numa aventura”.

Num cenário de a coligação Portugal à Frente perder as eleições legislativas, o vereador do PSD diz que a derrota eleitoral da direita “não prejudica irremediavelmente a candidatura presidencial de Rui Rio, torna-a mais difícil”, uma contrariedade que, na sua opinião, se contorna com a “capacidade” que o ex-presidente da Câmara do Porto tem em “ir buscar votos à esquerda e ao centro”. E acrescenta: “No cenário de derrota eleitoral, Rui Rio estaria em melhores condições para estabelecer pontes entre o PS e o PSD com vista à formação de um governo do bloco central”.

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