Candidatos presidenciais entre o estilo austero e rigoroso e o cosmopolita e mundano

Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio vão fazendo roteiros cívicos pelo país, sempre com a Presidência da República como pano de fundo. O avanço de um excluirá o outro, mas nenhum parece querer arriscar antes das legislativas. Por motivos diferentes.

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A política portuguesa oscila entre o estilo afectivo e o estilo austero e convive bem com isso DR

Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio fazem as contas a uma eventual candidatura presidencial. A direcção do PSD preferirá Rio a Marcelo e o antigo líder do partido não ignora essa preferência, mas sabe também que estas eleições são, muito provavelmente, a sua última oportunidade para chegar à Presidência da República.

Com perfis completamente diferentes, os dois conhecem-se há anos e já trabalharam juntos no partido na década de 90. Marcelo era líder PSD e o Rio era seu secretário-geral.

O professor e comentador político é apontado como um candidato na lógica de Mário Soares: mais afectivo, exuberante, mundano e com uma grande ligação à cultura e às artes. Já Rui Rio é um putativo candidato que vem da tradição de Ramalho Eanes e Cavaco Silva, com um estilo sóbrio, rigoroso, duro e até um pouco austero.

A política portuguesa oscila entre o estilo afectivo e o estilo austero e convive bem com isso. Adepto de uma regeneração do regime, o ex-autarca do Porto  é visto como uma pessoa que transmite os valores da ética, da austeridade e do rigor e é por isso que muitos o desejam ver na Presidência. Já os que defendem a candidatura presidencial do professor vincam-lhe o lado cosmopolita e afectivo, bem como a sua ligação à elite lisboeta.

Ao apontar para depois das eleições legislativas a sua decisão, Marcelo acabou por entalar Pedro Santana Lopes, outro putativo candidato presidencial da área do centro-direita, obrigando-o a adiar o anúncio da sua candidatura para a mesma altura. Porém, a disponibilidade de Rio tornou-se uma pedra no sapato do professor, que pode ficar pelo caminho se o ex-autarca do Porto acabar por escolher Belém em detrimento da liderança do partido.

Mas no partido há quem pense diferente e garanta que, se o ex-autarca conseguir resistir a uma eventual pressão das direcções do PSD e do CDS para disputar as presidenciais já, avançando apenas em Outubro, não terá “qualquer hipótese”, porque “não conseguirá impor-se a Marcelo, que tem o apoio das bases e da elite lisboeta”.

O PSD parece lidar bem com esta oferta de candidatos da sua área política. Mota Amaral, deputado e antigo presidente do Governo Regional dos Açores, mostra simpatia pelo facto de o partido ter personalidades com estilos tão diferentes prontos a disputar as presidenciais. Referindo-se particularmente a Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio, o deputado evidencia-lhes a qualidade, o talento e o currículo para dizer que “qualquer um deles fará um excelente lugar na Presidência da República”.

“É bom que o partido tenha pessoas com este tipo de perfil disponíveis para se candidatarem”, sublinha, evitando fazer comparações entre os dois, mas vai dizendo que, se por acaso, Rui Rio chegar à Presidência, ele não será um “inaugurador de exposições de crisântemos”. Fica o recado.

Sublinhando que Rui Rio tem um “perfil mais adequado para o exercício do cargo de primeiro-ministro, Miguel Seabra, líder da concelhia do PSD-Porto, também reage com satisfação ao facto de o partido ter três ou quatro putativos candidatos à Presidência da República e salienta que “isso só releva a qualidade dos seus quadros”. “É um desperdício para o país que Rui Rio, que é uma pessoa séria, rigorosa e de boas contas, não venha a ser primeiro-ministro”, defende, ao mesmo tempo que elogia o desempenho de Passos Coelho.

Mais contido, o vice-presidente da Assembleia da República Guilherme Silva diz que é bom haver várias figuras com dimensão política e pessoal para encabeçar uma candidatura da área do PSD. Mas adverte que“ este não é o momento para equacionar uma candidatura presidencial. “De resto, seria desejável que a discussão sobre o candidato que o PSD prefigura apoiar seja alargada ao parceiro da coligação”, explicou Guilherme Silva.

Em declarações ao PÚBLICO, deixa um recado para quem quer antecipar calendários, numa alusão velada a Rui Rio: “Se há uma posição pré-anunciada pela direcção do partido no sentido de preferir que a questão das presidenciais seja equacionada depois das legislativas, não me parece que seja avisado que o candidato antecipe o calendário”.

Quem não teve qualquer problema em apontar Rui Rio como o seu preferido para candidato da direita às presidenciais foi o sócio número um do PSD, Francisco Pinto Balsemão. Em meados de Janeiro, num questionário no Expresso onde participa num grupo denominado Conselho dos Doze, à pergunta “quais os dois principais candidatos que gostaria de ver a disputar as presidenciais?” o dono da Impresa, fundador do PSD e antigo primeiro-ministro respondeu “Rui Rio e António Guterres” e acrescentou: “Ficávamos bem servidos com qualquer deles”.

Questionado já esta semana pelo PÚBLICO sobre se mantém o nome do candidato da direita uma vez que Guterres já recusou publicamente entrar na corrida a Belém, Balsemão preferiu não acrescentar mais nada.

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