“Preocupação” portuguesa aumenta com avanço do Estado Islâmico

Rui Machete assume preocupação da diplomacia portuguesa com o avanço dos extremistas islâmicos no norte de África. O Governo não recebeu pedidos de ajuda de portugueses na Líbia.

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Rui Machete

O ministro dos Negócios Estrangeiros declarou esta segunda-feira em Roma que a preocupação da diplomacia portuguesa "aumenta" com o avanço dos extremistas islâmicos no norte de África, mas rejeitou a existência de motivos de alarme.

"Não esperamos que haja quaisquer eventos graves, mas naturalmente a nossa preocupação aumenta", disse Rui Machete à Lusa, após uma reunião com seu homólogo italiano Paolo Gentiloni, a respeito da situação na Líbia.

O ministro comentou ainda os ataques da aviação egípcia contra posições de grupos que se uniram ao autoproclamado Estado Islâmico na Líbia, horas depois de os jihadistas terem divulgado um vídeo com a decapitação de 21 cristãos coptas egípcios, sequestrados em Janeiro.

"Dá conta da gravidade da situação, que para nós, ainda por cima, acresce por ser já numa zona próxima do nosso país", assinalou.

Machete defendeu um maior apoio da União Europeia à Itália, particularmente afectada pela proximidade geográfica com o conflito, a começar pela vigilância do Mediterrâneo, do ponto de vista orçamental e dos "meios técnicos".

Os extremistas classificaram o chefe da diplomacia italiana, Paolo Gentiloni, como um alvo a abater, depois de o governante ter defendido que o avanço dos fundamentalistas islâmicos da Líbia não podia ser encarado como um problema só da Itália pela proximidade geográfica.

"Apoiamos os esforços da Itália e estamos dispostos a mostrar a nossa solidariedade, dentro da atitude que é razoável para as nossas dimensões e capacidade nessa matéria", adiantou o governante.

O ministro dos Negócios Estrangeiros também se encontrou esta segunda-feira com o secretário do Vaticano para as Relações com os Estados, o arcebispo britânico Paul Richard Gallagher, que tal como Paolo Gentiloni se mostrou atento ao avanço do fundamentalismo islâmico.

"Ambos estão muito preocupados com este evento e a questão dos cristãos coptas reforça ainda mais a preocupação do Vaticano", relatou Machete.

Líbia sem portugueses?
Portugal não tem pessoal diplomático na Líbia, sendo a enviada especial na Tunísia responsável por manter o país informado sobre a evolução da situação. Até agora, o Governo não recebeu pedidos de ajuda de portugueses na Líbia, onde os fundamentalistas islâmicos estão a avançar, disse o secretário de Estado das Comunidades, que recordou que no Verão foram retirados dez cidadãos nacionais devido à instabilidade.

Questionado pela Lusa sobre a eventual permanência de portugueses na Líbia, José Cesário admitiu que "possa ainda haver por lá" algum cidadão, mas referiu que o Governo não recebeu qualquer pedido de ajuda para abandonar o país, onde o movimento jihadista Estado Islâmico está a avançar.

O secretário de Estado recordou que em Julho do ano passado, o executivo decidiu suspender temporariamente a representação diplomática portuguesa em Trípoli devido à situação de insegurança, altura em que cerca de uma dezena de cidadãos portugueses foi repatriada.

Na altura, sete cidadãos de nacionalidade portuguesa optaram por ficar em território líbio. O Governo mantém as recomendações emitidas no verão passado, desaconselhando os cidadãos nacionais a viajar para aquele país.

O encerramento da embaixada portuguesa em Trípoli, a 28 de Julho, deveu-se ao agravamento dos confrontos no país, os mais violentos desde a queda do regime de Muammar Khadafi, entre milícias armadas e o exército líbio.

A instabilidade no país tem-se agravado entretanto, com o avanço dos extremistas islâmicos, que levou a Itália a encerrar a sua embaixada em Trípoli no fim de semana passado, uma das últimas missões diplomáticas europeias naquele país.

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