Pré-aviso de greve para manif em Lisboa fechou serviços públicos pelo país

Milhares de funcionários públicos desfilaram em Lisboa contra o Governo. CGTP marca novas jornadas de luta para o dia 13 e entre 21 e 25 de Novembro. Na manhã da votação final global do OE2015, dia 25, haverá nova manifestação frente ao Parlamento.

Foto
Daniel Rocha

O pré-aviso de greve que fora emitido pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública para que os funcionários públicos pudessem deslocar-se a Lisboa para participar numa manifestação acabou por provocar o encerramento de diversos serviços públicos um pouco por todo o país, em escolas, centros de saúde, hospitais, repartições públicas.

O orçamento foi aprovado de manhã, mas isso não impediu muitos milhares de funcionários públicos e aposentados de desfilarem da parte da tarde entre o Marquês de Pombal e o largo em frente ao Parlamento em protesto contra as políticas do Governo e pedindo a sua demissão.

“Isto não era uma greve, era um pré-aviso de greve para deslocação”, esclareceu aos jornalistas Ana Avoila, a coordenadora da Frente Comum. “Mas o descontentamento é tão grande que não conseguimos que as pessoas não fechassem muitas escolas, museus e outros serviços por tudo o que é sítio.” A isso somou-se a greve dos auxiliares de acção educativa e dos técnicos de diagnóstico e terapêutica que terá registado uma adesão acima dos 80% segundo dados provisórios do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica. O apuramento dos números totais da greve por sectores só será feito este sábado.

“Muitos fecharam mesmo os serviços numa vontade muito clara de continuação da luta”, vincou Ana Avoila. Os funcionários públicos protestam contra o corte sistemático nos salários, a redução de postos de trabalho através de aglomeração de serviços, o aumento do horário de trabalho para as 40 horas semanais, o aumento da contribuição para a ADSE e CGA, e o congelamento das progressões. Para a coordenadora da Frente Comum, “não faltam razões para protestar”. Por isso exigiu, perante os manifestantes junto à AR, a demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas. “E quem vier a ser Governo que reponha tudo o que foi roubado aos trabalhadores da função pública, assim como o horário semanal das 35 horas. Há que haver um compromisso”, defendeu a activista. E avisou: “Os trabalhadores sabem bem quem os engana.”

Foi aprovada por unanimidade e aclamação uma resolução em que se exige também o aumento geral dos salários, a defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado e o fim dos processos de privatização.

Ao fundo das escadarias e no caminho até ali ouviram-se muitas palavras de ordem. Ao som de buzinas, lá se iam ouvindo os slogans como “Só a demissão é a solução”, “Está na hora, está na hora de o Governo ir embora”, “É só mais um empurrão e o Governo vai ao chão”, ou “Nem cortes definitivos nem cortes temporários, queremos os nossos salários!”.

Além das enormes faixas dos sindicatos, havia muitas mensagens em cartolinas, escritas à mão; vários cartazes concorriam para o prémio do mais crítico, como o do Presidente a ser empurrado de um pedestal, ou desfocado com dois narizes e três olhos, ou ainda com um nariz vermelho vivo de palhaço e de fisga na mão a fazer pontaria a alguém; ou ainda outro que tinha Passos e Portas de cara azul e orelhas pontiagudas como as personagens do filme de ficção científica Avatar. Entre a multidão houve quem se inspirasse no dia das bruxas para vir de máscara do filme Sream, ou com chapéu e a vassoura de bruxo - "para os varrer a todos dali p'ra fora", afirmava o enfermeiro algarvio Miguel Isidro. A ironia chegou até a Mário Nogueira - o líder da Fenprof não se cansou de caricaturar Passos Coelho e Nuno Crato como burros e pandas.

A Frente Comum tinha fretado autocarros para trazer 10 mil manifestantes de todo o país. Mas a moldura humana que enchia a Rua de São Bento mostrava que o número de participantes foi várias vezes maior. Jerónimo de Sousa saudou os manifestantes junto ao Marquês de Pombal. Com pessoas de todas as idades, desde as amigas Isabel Mendonça e Ana Gonçalves, professoras em duas escolas de Coimbra que se estrearam em manifestações. Vieram de comboio, gritaram de bandeiras na mão, dançaram ao som das músicas de intervenção cantadas pelo Tony da Costa na carrinha branca da CGTP.

Maria Odete Crespo, activista há 40 anos, reformada, vendia cravos estilizados em feltro a um euro cada. Pendurou um na camisa branca de Arménio Carlos, outro na azul de Mário Nogueira. O desenho das pétalas é o mapa da Quinta da Atalaia onde foi colocado outro da Quinta do Cabo, que o PCP acabou de comprar – e que a receita dos cravos irá ajudar.

O secretário-geral da CGPT, que interveio antes de Ana Avoila, anunciou a convocação de uma “grande jornada nacional” para fazer de dia 13 de Novembro “um dia de indignação, acção e luta, com greves e paralisações” tanto no sector público como privado. Os sindicatos afectos à CGTP voltam à carga entre os dias 21 e 25 com um agenda cheia por todo o país, estando já marcada nova manifestação para Lisboa a 25, na manhã da votação final global do OE2015.

Sugerir correcção
Comentar