Portugal usou "canais diplomáticos" para reagir a acusações de Tsipras

Lisboa nega envio de carta conjunta de protesto a Bruxelas. Madrid diz que iniciativa partiu de Portugal. Governo grego diz que declarações de Tsipras foram "mal interpretadas".

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Passos Coelho e Rajoy, a aliança ibérica denunciada por Tsipras JOHN THYS/AFP

Portugal manifestou a sua "perplexidade" perante "acusações infundadas" do primeiro-ministro grego através de canais diplomáticos, mas não escreveu qualquer carta de protesto dirigida às presidências da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, como foi avançado segundo fontes do Governo de Espanha.

De acordo com a agência de notícias espanhola Efe, fontes do Governo espanhol confirmaram na tarde deste domingo o envio de um protesto conjunto de Espanha e Portugal aos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk, depois de Alexis Tsipras ter afirmado perante o comité central do partido Syriza que Portugal e Espanha formaram um “eixo contra Atenas” durante as negociações mantidas com o Eurogrupo para o prolongamento do programa de resgate financeiro.

Questionadas sobre a carta que Espanha e Portugal terão enviado a protestar contra as declarações de Alexis Tsipras, fontes da Comissão Europeia afirmaram, no entanto, não terem recebido qualquer carta. Fonte do gabinete de Passos Coelho negou igualmente à Lusa a existência de uma carta e que tenham sido contactadas as presidências da Comissão Europeia e do Conselho EuropeuO gabinete confirma, contudo, a existência de "contactos através de canais diplomáticos" para sublinhar a "perplexidade" do Governo português perante acusações de Tsipras.

À Lusa, fonte do Governo espanhol adiantou, por sua vez, que foi enviado um protesto conjunto de Portugal e Espanha e que a iniciativa partiu de Lisboa. "Espanha aderiu à iniciativa portuguesa", disse a mesma fonte de Madrid.

As respostas de Portugal e Espanha
Portugal respondeu no sábado a Tsipras, através do porta-voz do PSD, Marco António Costa, que afirmou que a "conturbação e dificuldades internas do Syriza não justificam a invenção de histórias nem de desculpas para envolver terceiros".

"Todos nós percebemos que aquelas palavras [de Alexis Tsipras] foram proferidas na qualidade de presidente do Syriza, todos sabem que tem havido um ambiente muito conturbado dentro do Syriza, em resultado dos compromissos assumidos pelos seus dirigentes enquanto governantes dentro do Eurogrupo", disse Marco António Costa, à entrada para o encerramento das jornadas do PSD e do CDS sobre investimento, no Porto.

"Está na hora de os responsáveis assumirem as suas próprias responsabilidades e não continuarem a sacudir a água do capote e enjeitar as responsabilidades que são próprias das suas decisões", frisou o vice-presidente do PSD.

Este domingo, Espanha voltou a reagir às acusações do primeiro-ministro grego, com o chefe do Governo Mariano Rajoy a sustentar que Espanha não é responsável pela "frustração gerada pela esquerda radical grega, que prometeu aos gregos aquilo que já sabia que não conseguiria cumprir".

"Ir à procura de um inimigo externo é um truque que já vimos muitas vezes ao longo da história, mas que não nos resolve os problemas, apenas os agrava. A única forma de resolver os problemas é ser sério, dizer a verdade, não prometer o que não depende de ti e não podes cumprir, e governar", defendeu Rajoy, que falava em Sevilha num acto de pré-campanha do PP.

Tal como já tinha dito o secretário de Estado espanhol, Rajoy repetiu que Espanha vai continuar a ser solidária com a Grécia "tal como com todos os outros países da União Europeia".

Grécia responde e diz que Tsipras que foi mal interpretado
O Governo grego tentou este domingo à tarde minimizar a polémica, dizendo que Tsipras foi obrigado a explicar aos gregos como as negociações foram e que seus comentários foram mal interpretados.

“O novo Governo grego não categoriza os países e os povos como amigos ou inimigos”, afirmou uma fonte do executivo helénico à agência Reuters. “Qualquer má interpretação do discurso do primeiro-ministro grego não ajuda o diálogo”, acrescentou a mesma fonte.

Já à agência espanhola Efe, fontes do executivo grego afirmaram que o Executivo não está à procura de "inimigos externos", respondendo directamente ao presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy.

"O novo Governo grego não classifica os países e os cidadãos da Europa como amigáveis ou hostis. Por isso, não procura inimigos externos, mas sim soluções para toda a Europa através da cooperação e o diálogo entre os povos e os governos", acrescentaram as mesmas fontes.

Já antes, a Comissão Europeia fez saber que está a par do descontentamento dos Governos português e espanhol face às recentes declarações do primeiro-ministro grego, mas escusou-se a comentar o caso, até porque o seu papel é o de conciliador, disse fonte comunitária.

A mesma fonte confirmou à Lusa que a Bruxelas não chegou qualquer missiva formal de protesto, embora a Comissão tenha conhecimento, por outros meios, do incómodo em Lisboa e Madrid com as declarações de Alexis Tsipras, que se escusa a comentar, já que, sustentou, o papel do executivo comunitário é o de "mediador" e de "aproximar as partes", como sucedeu nas recentes negociações em sede do Eurogrupo, e não tomar partido.

"O que interessa é o acordo" alcançado no Eurogrupo, em Fevereiro, para o prolongamento da assistência financeira à Grécia, e que foi facilitado também pela Comissão Europeia, completou fonte comunitária.

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