A reunião da comissão mista Portugal-Emirados Árabes Unidos que se realizou estas terça e quarta-feiras no Abu Dhabi resultou em dois acordos nas áreas da segurança alimentar e cultura e numa carta de intenções no sector da defesa. E em três promessas para a cooperação aduaneira e o turismo e para a criação de um comité empresarial conjunto.

Ficou ainda combinado que o próximo encontro da comissão mista terá lugar em Lisboa até ao final do primeiro semestre do próximo ano – antes das eleições legislativas, portanto. Talvez possa acontecer o mesmo que no Abu Dhabi: que coincida com a visita a Portugal do príncipe herdeiro e presidente em exercício dos Emirados, o xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan, que aceitou esta quarta-feira o convite de Cavaco Silva para uma deslocação a Lisboa.

Esta quarta-feira foi assinado um acordo de segurança alimentar de forma a compatibilidade os sistemas de controlo da qualidade dos alimentos. É indispensável para a obtenção dos certificados de exportação para os empresários portugueses poderem alargar o leque de oferta no comércio para os Emirados.

Houve ainda um acordo cultural, onde se inclui, para já, a partilha de arquivos relativos aos Descobrimentos: Portugal detém boa parte dos documentos com os relatos, cartas e livros de navegação dos primeiros europeus que chegaram ao Golfo Pérsico e os Emirados têm interesse em pelo menos poder organizar exposições temporárias com esse património, descreveu fonte da comitiva portuguesa. Recorde-se que em Abu Dhabi está a ser construída uma zona dedicada à cultura na ilha Saadiyat, que albergará pelo menos três museus - dois deles com licença para usar o nome dos grandes Louvre e Guggenheim, e o um museu nacional.

Na quinta-feira, já com a presença do ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco (que viaja de Timor-Leste directamente para o Dubai), será assinada uma carta de intenção no sector da indústria de defesa, em especial em nichos tecnológicos.

Além destes, ficaram alinhavados dois acordos de cooperação: um na área aduaneira, ou na do turismo, em especial na promoção turística cruzada e na formação profissional em escolas portuguesas e em unidades hoteleiras nos dois países.

Decidiu-se criar um comité empresarial conjunto entre a confederação empresarial privada dos Emirados e a congénere portuguesa. A intenção é que esta entidade ajude a reforçar os mecanismos de troca de informação e oportunidades de investimentos entre os dois países, explicou fonte da comitiva. Os Emirados estão perto de se transformarem no primeiro parceiro comercial de Portugal na zona do Golfo, destronando a Arábia Saudita. Desde há quatro anos, a exportações de bens duplicaram de 60 para 120 milhões de euros. A somar a essa conta há ainda mais 40 milhões de euros em serviços.

Portugal entregou ainda propostas de cooperação na área da justiça (assistência judiciária e extradição) e das universidades (através de programas de formação de professores e de intercâmbio de alunos com academias europeias).

Também se avançou na área da energia, através de reuniões com a Masdar, a holding dos Emirados para as energias, no sector das renováveis e da mobilidade inteligente. E ficaram portas abertas para a cooperação na saúde, tanto através de programas de tratamento de doentes dos Emirados em unidades portuguesas, como através da exportação de medicamentos produzidos em Portugal para a confederação árabe.
 

O PÚBLICO viajou a convite do National Media Council dos Emirados Árabes Unidos